Pedro do Carmo considera que a recomendação da comissão técnica independente (CTI) para a utilização do aeroporto de Beja por voos de carga e charters é “óbvia” e defende o alargamento ao serviço de passageiros. Também a Direcção Regional do Alentejo do PCP, em comunicado, assinalou que o uso da pista alentejana vai ao encontro das “posições que o PCP há muito defende” e quer infraestrutura nas mãos do Estado.
TEXTO | ANÍBAL FERNANDES
O deputado socialista eleito por Beja, Pedro do Carmo, concorda com a posição manifestada pela CTI e defende que o “aeroporto de Beja pode e deve ser mais utilizado para voos de carga e charters, libertando espaços no aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa”.
No entanto, o também presidente da Comissão Parlamentar da Agricultura e Mar considera a sugestão “óbvia” e vai mais longe, defendendo a utilização da infraestrutura aeroportuária “como alternativa comercial para gestão dos fluxos de tráfego de passageiros do aeroporto de Lisboa e do aeroporto de Faro”.
“Não sei se o despertar para a evidência se deveu à reiterada utilização do nosso aeroporto para transporte de passageiros em voos não comerciais dos últimos meses, [mas] mais vale tarde do que nunca”, lê-se no documento que fez chegar à comunicação social.
Pedro do Carmo recorda que há muito tempo que defende esta solução “junto do Governo, da CTI, da ANA e das principais companhias aéreas low-cost”, acrescentando que “cada dia que passa, só não é um dia perdido porque a realidade tem contrariado a falta de visão estratégica na valorização do potencial existente” e refere que “existem situações similares de aeroportos na Europa distanciados das cidades de referência, servidos por adequadas infraestruturas rodoviárias e ferroviárias”.
Contactado pelo “Diário do Alentejo”, o deputado socialista refere que a ausência de acessibilidades não pode ser pretexto para adiar a utilização da pista. “Não podemos ficar à espera que as obras na rodovia e ferrovia se concretizem. Temos que pressionar para que avancem, mas não podemos deixar que este assunto se transforme numa espécie de pescadinha de rabo na boca”.
O ex-presidente da Câmara de Ourique refere ainda que o aeroporto é fundamental para “coesão territorial” e gerador de “novas dinâmicas positivas para as economias locais, para as comunidades e para o País como um todo”. “É preciso assegurar que quem decide não é arrastado pela realidade, mas tem a capacidade de impulsionar uma visão prospetiva e dinâmicas positivas. Espera-se mais do que o óbvio, um rasgo decisivo que acrescente”, conclui.
PCP QUER ANA FORA DE BEJA
Também a Direcção Regional do Alentejo (DRA) do PCP se manifestou, em comunicado, favorável ao parecer da CTI que, diz, vai ao encontro das “posições que o PCP há muito defende para esta importante infraestrutura, nomeadamente, a sua utilização no transporte de carga aéreo e para voos charter”.
Os comunistas recordam que “a solução para uma utilização e potenciação do aeroporto de Beja de acordo com as reais necessidades do País e da região não seria encontrada numa ilusória conceção deste aeroporto como o novo aeroporto de Lisboa (NAL)”, infraestrutura que o PCP defende ser “urgente” construir nos terrenos do Campo de Tiro de Alcochete.
No entanto, o aeroporto de Beja pode “ser uma importante infraestrutura de um sistema aeroportuário nacional, funcionando em articulação com os aeroportos de Lisboa e Faro, vocacionado para transporte aéreo de passageiros de natureza turística e de lazer, ou de atividade económica regional; para o transporte de mercadorias; para a atividade de manutenção de aeronaves; e para servir toda a região Alentejo, parte da Extremadura e Andaluzia espanholas e o Algarve”, diz a DRA.
O PCP diz ainda que o relatório da CTI confirma aquilo que o partido tem defendido: “O desaproveitamento que até agora tem existido do aeroporto de Beja não resulta das suas características, mas sim da falta de vontade política e de investimento por parte de sucessivos governos em infraestruturas associadas ao seu aproveitamento”, nomeadamente, a “gritante necessidade de uma rede ferroviária e rodoviária adequada para servir o aeroporto e, sobretudo, os legítimos interesses das populações do Alentejo no desenvolvimento da região, desde logo a modernização, ampliação e eletrificação da linha do Alentejo, a conclusão do IP8 com perfil de autoestrada, livre de portagens, e a conclusão do IP2”.
Os comunistas defendem ainda que o Alentejo, Beja e o País só terão a ganhar com a “devolução da ANA ao Estado” da infraestrutura alentejana “para que esta esteja ao serviço do País e do desenvolvimento e não dos lucros da Vinci”.
E AINDA VENDAS NOVAS…
Até agora, Montijo+Portela, Alcochete, Alcochete+Portela, Santarém, Portela+Santarém e Rio Frio/Poceirão eram os locais em cima da mesa para a construção do novo aeroporto de Lisboa, mas, nos últimos dias, foi divulgado que a opção Vendas Novas – com ou sem Portela – surge agora como uma das melhores hipóteses e com mais simpatias na comissão técnica independente. Segundo a “SIC” – que avançou com a notícia – a infraestrutura ocuparia o espaço entre a estação de serviço da A6 e a linha de caminho de ferro entre Bombel e Piçarras, local onde nasceria o terminal. A proximidade da ferrovia é um ponto a favor, uma vez que está prevista para breve a duplicação da linha, mas também porque o oleoduto Sines-Aveiras, preparado para o combustível dos aviões, está apenas a seis quilómetros de distância.