Diário do Alentejo

Avança ligação entre albufeiras do Roxo e do Monte da Rocha

23 de março 2020 - 19:18

No quadro do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva, vai avançar a ligação entre as albufeiras do Roxo (Aljustrel) e do Monte da Rocha (Ourique). A Associação de Regantes e Beneficiários de Campilhas e Alto Sado espera que no final de 2020 o projeto de execução e o estudo de impacto ambiental esteja concluído, podendo em 2021 iniciar-se a tramitação de candidatura no âmbito do Plano Nacional de Regadios e de contratação pública para lançar a obra.

 

Texto: Carlos Lopes PereiraFoto: José Ferrolho

A ligação entre a albufeira do Roxo, no concelho de Aljustrel, e a do Monte da Rocha, no concelho de Ourique, vai avançar, no quadro do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva (EFMA). Mas a conclusão da obra não é imediata: “Apesar de algum atraso resultante da revisão do Plano Diretor Municipal (PDM) do município de Ourique, que levou a alguns ajustes no projeto inicialmente delineado, temos a esperança de que no final do presente ano o projeto de execução e o estudo de impacto ambiental esteja concluído, podendo em 2021 iniciar- se a tramitação de candidatura no âmbito do Plano Nacional de Regadios e de contratação pública para lançar a obra”, disse ao “Diário do Alentejo” Ilídio Martins, diretor adjunto da Associação de Regantes e Beneficiários de Campilhas e Alto Sado (Arbcas), com sede em Alvalade do Sado, no concelho de Santiago do Cacém. E salientou que a Arbcas tem acompanhado e colaborado com a Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva (EDIA) nas definições gerais deste projeto.

A notícia surgiu na semana passada, através de um comunicado do deputado Pedro do Carmo, eleito do Partido Socialista pelo distrito de Beja e presidente da Comissão Parlamentar de Agricultura e Mar, considerando que “a ligação da barragem do Roxo à barragem do Monte da Rocha é um impulso decisivo de subsistência e de desenvolvimento para os territórios do sul do Baixo Alentejo, por gerar novas oportunidades agroalimentares, por assegurar renovadas condições de armazenamento de água para abastecimento e por induzir um conjunto de dinâmicas positivas no território”. Sobre a ligação entre o Roxo e o Monte da Rocha, Pedro do Carmo não dá pormenores de calendarização ou custos, apenas diz que “vai ser uma realidade” e que “há vontade política, não há obstáculos processuais, existem recursos financeiros para alargar o perímetro de rega do Alqueva, faça-se a obra”. Para a Arbcas, esta ligação, “mais do que importante, é vital para a sobrevivência humana e a sustentabilidade territorial do Baixo Alentejo”. Mais do que agricultura de regadio, que garante a fixação de pessoas e riqueza numa região com poucas alternativas, “a água no Monte da Rocha assegura a disponibilização de um recurso cada vez mais escasso para todos os que aqui querem residir e a esperança no futuro”.

“GANHA OURIQUE, GANHA A REGIÃO”

O presidente da Câmara Municipal de Ourique, Marcelo Guerreiro, também se regozijou com a notícia do avanço da obra. “A ligação da barragem do Roxo à barragem do Monte da Rocha em Ourique é uma infraestrutura decisiva para o nosso futuro comunitário porque assegura um adequado nível de armazenamento de água para abastecimento humanos e para as atividades económicas; garante as condições para a sustentação das atividades agroalimentares e económicas tradicionais no nosso mundo rural; e potencia as condições para o desenvolvimento de novos projetos agroalimentares e turísticos”, afirma o autarca. Lembrando que “há muito” se tem batido pela obra e que o município de Ourique tem defendido este investimento estruturante para o concelho e para o sul do Baixo Alentejo, revela: “Superados alguns obstáculos que estavam colocados no caminho da concretização do alargamento do perímetro de rega de Alqueva a Ourique, por via da ligação do Roxo ao Monte da Rocha, em função dos dados e dos contactos que temos mantido com a EDIA, estamos em condições de concretizar o projeto. Importa agora encetar o processo de concretização do projeto, com a configuração adotada, a bem de Ourique e dos ouriquenses. Será uma obra estruturante que garantirá sustentabilidade no abastecimento de água e poderá gerar novas oportunidades de valorização do potencial agrícola do nosso mundo rural. Ganha Ourique, ganha a região”. Segundo o autarca, “com financiamento comunitário assegurado e com a necessidade que existe de reforçar a execução dos fundos europeus, a expetativa é que se acelere a concretização do projeto. Em tempos apontava-se a sua concretização para 2021; superados os obstáculos, com o senso que coloca um equilíbrio entre as necessidades das pessoas e os valores ambientais, é avançar”. “Ano após ano, sentimos crescentes dificuldades de armazenamento de água, para consumo humano, animal e agrícola. Havendo condições para concretizar uma solução é fazer a obra. Bem sabemos que o período que atravessamos é de emergência de saúde pública, mas importa prosseguir com respostas para outros pressupostos do bem- -estar e da qualidade de vida, como a água”, concluiu.

MONTE DA ROCHA ABASTECE HOJE CONCELHOS DE OURIQUE, CASTRO VERDE, ALMODÔVAR E ODEMIRA

A barragem do Monte da Rocha, inaugurada em 1972, inicialmente apenas tinha como função o regadio e o controlo das cheias. Com uma capacidade máxima de 102.500.000 metros cúbicos (m3), serve uma área beneficiada (equipada para rega) de 3700 hectares (ha), sendo a rede de rega composta por 270 quilómetros de canais e condutas. Hoje, para regar cerca de 1600 ha de olival, 1500 ha de milho, 200 ha de arroz, 220 ha de tomate e 100 ha de outras culturas, são necessários cerca de 22.000.000 m3/ano, que nem sempre têm estado disponíveis. Segundo o diretor executivo da Arbcas, Ilídio Martins, “felizmente, em 2016 foi inaugurada a ligação a Alqueva de Roxo-Alto Sado que permite abastecer cerca de 2500 ha de área antes apenas servida pela albufeira do Monte da Rocha, o que tem permitido minimizar a seca nesta parte dos aproveitamentos hidroagrícolas por nós geridos”. Em 1992 foi inaugurado o abastecimento público ao concelho de Castro Verde. Nessa altura apenas foram utilizados 86.300 m3, o que representa apenas 0,09 por cento da sua capacidade máxima. Hoje o abastecimento público estende-se aos concelhos de Ourique, Castro Verde, Almodôvar e Odemira.

 

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