Diário do Alentejo

Seca: Bombeiros já abastecem 2 mil pessoas no Alentejo

03 de agosto 2019 - 15:05

Cerca de dois milhares de pessoas dos concelhos de Almodôvar, Castro Verde, Mértola, Odemira e Ourique sentem, desde maio, no seu dia a dia as consequências da seca que asssola a região. Segundo a Águas Públicas do Alentejo (ADP), de janeiro a junho deste ano já foram transportados por meios alternativos cerca de 12 mil metros cúbicos de água para acudir às necessidades das populações.

 

Texto Aníbal Fernandes

 

No final de junho o Instituto Português do Mar e Atmosfera (IPMA), no seu relatório mensal, dava conta de que, em comparação com o mês de maio, se verificou “uma diminuição significativa dos valores de percentagem de água no solo”, acentuando, assim, a seca meteorológica que atingia 98 por cento do território nacional. No entanto, a gravidade da situação acentuava-se na metade sul do País, onde os distritos de Beja, Évora, Faro e Setúbal se encontravam em situação de seca severa e extrema.

 

Segundo dados da ADP, cerca de uma dezena de localidades normalmente abastecidas em alta pela empresa do Grupo Águas de Portugal já estavam a ser fornecidas por meios alternativos. É o caso de Relíquias e Luzíanes, em Odemira; Santa Luzia e Aldeia dos Palheiros, em Ourique; São Marcos da Ataboeira, em Castro Verde; e Alcaria Ruiva, Espírito Santo, Penedos e São João dos Caldeireiros, em Mértola. A estas localidades acrescem ainda Almodôvar-a-Velha, Monte da Gadanha e Monte Domingas, no concelho de Almodôvar, segundo informação prestada ao “Diário do Alentejo” pelo comandante dos bombeiros locais António Piedade. 

Para além de abastecerem estes três agregados populacionais, os bombeiros de Almodôvar estão também a prestar assistência às localidades do concelho de Mértola, uma vez que a corporação deste concelho perdeu o autotanque num acidente. As razões que levam a que estas populações necessitem de ser abastecidas de água prendem-se com dois factores: a menor quantidade ou a sua baixa qualidade, que resulta do rebaixamento dos lençóis freáticos. No caso das localidades situadas no concelho de Odemira, a razão da quebra no abastecimento tem a ver com a pouca quantidade de água; nas restantes, a qualidade da água impede que seja usada pelas populações. 

 

Em todos estes lugares está prevista, a médio prazo, a construção de adutores, e em Alcaria Ruiva, a curto prazo, uma nova captação, à semelhança do que aconteceu em Penedos.

 

No que diz respeito às reservas de água nas barragens da região, a bacia hidrográfica do Guadiana apresenta 69,4 por cento da capacidade, abaixo da média (81,1). Mas o caso mais grave é o da bacia do Sado, onde a quantidade de água retida não chega a metade do total possível (45,8 por cento). Um bom exemplo deste cenário é o caso da barragem do Monte da Rocha que apresenta, neste momento, um nível de retenção de 10,4 por cento, um valor seis vezes menor do que a média.

 

José Núncio, presidente da Federação Nacional de Regantes, mostra-se conformado com o cenário atual: “Temos de nos habituar a viver nestas condições”. Os agricultores “vão gerindo a situação na medida do possível”, o que, em alguns casos, implica a redução da área cultivada, que é o que está a acontecer no Alto Sado, com a cultura do arroz reduzida a metade. 

 

O dirigente associativo diz que as medidas tomadas pelo Governo para ajudar os agricultores são bem-vindas – a antecipação do pagamento das ajudas e os apoios para a prospeção de furos e charcas –, mas considera essencial, no âmbito de uma estratégia nacional de combate à seca, a construção de mais barragens, de forma a aumentar a capacidade de resistir períodos de seca que serão “maiores e mais frequentes”. 

 

O ministro do Ambiente e da Transição Energética, João Pedro Matos Fernandes, disse recentemente aos jornalistas, em Beja, que “relativamente ao abastecimento público, os problemas, a acontecerem, serão sempre absolutamente pontuais e em pequenas localidades”, mas “não temos qualquer previsão de que eles possam vir a acontecer”.

 

Segundo o governante, “em pequenos aglomerados, que no verão recebem mais pessoas, esses problemas podem surgir”, mas as entidades responsáveis estão preparadas para responder a eventuais problemas, através da contratação de camiões cisterna para abastecer reservatórios de água das localidades afetadas. “Não temos hoje uma situação de seca tão complexa como tínhamos há dois anos por esta altura, é menos complexa, mas temos a absoluta consciência de que, com o aquecimento global, a tendência – não quer dizer que cada ano seja pior – é, de facto, de agravamento”, alertou o ministro.

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