Considerado “o local de maior encantamento” do festival, o souk não encena uma recriação histórica, antes vivendo o presente como qualquer mercado árabe dos dias de hoje. Os cabedais, as djallabas (peças de vestuário), o incenso, o sândalo, o chá de menta, as especiarias e a mistura de vozes dão cor, aroma e melodia às ruas da “vila velha” cobertas de tecidos coloridos.
As bancadas do mercado são cobertas de artesanato, tecidos, doçaria, produtos regionais ou peças de arte provenientes de países como Marrocos, Tunísia, Egito ou Espanha e, claro, do Alentejo. A compra, essa, está invariavelmente associada ao ritual árabe de regatear um bom preço, surgindo aqui e ali pontos de animação espontânea, como uma dançarina, um poeta ou um cantor. Num espaço improvisado, lá no alto, destaca-se um recanto reservado à oração.
Vereadora na Câmara Municipal de Mértola, Rosinda Pimenta diz tratar-se de um evento de “grande relevância cultural” para o município e para a região: “É a afirmação da cultura como um pilar de desenvolvimento e um meio de união e diálogo entre diferentes povos. A Mértola acedem pessoas de todo o lugar, de todas as idades e nacionalidades”. E depois, claro, há o impacto económico: “Os alojamentos do concelho e dos concelhos limítrofes esgotam, os restaurantes ficam cheios e o comércio tem oportunidades únicas de negócio. A cada edição o número de visitantes aumenta e são esperados para este ano mais de 40 mil visitantes”.
A autarca lembra que, para além de todos os achados arqueológicos expostos no núcleo de arte islâmica do Museu de Mértola, “que representa uma pequena parte do volume de achados do período islâmico encontrados” na vila, o legado islâmico pode sentir-se hoje em dia nos mais diversos domínios, como a arquitetura das casas, muitas ainda com tradicionais pátios interiores, a toponímia de alguns lugares ou a gastronomia.
“A açorda e o gaspacho são comidas típicas daqui mas temos o mesmo em Marrocos, tal como o feijão e o grão. É a mesma coisa”, confirma Salam Lahraoui, que em 2013 deixou Errachidia, cidade marroquina de 90 mil habitantes, para se instalar em Mértola. Seis anos depois continua a dizer-se “apaixonado por esta terra”.