A propósito da recente distinção pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) do montado de Serpa como Sistema de Património Agrícola de Importância Global o “Diário do Alentejo” conversou com David Machado, presidente da direção da Rota do Guadiana, entidade promotora da candidatura, sobre a importância deste reconhecimento para o concelho, os possíveis incentivos que possa vir a existir para o plantio e manutenção do montado, bem como a sua perceção quanto ao conhecimento por parte dos poderes políticos, dos agricultores e da população quanto à preservação e valorização deste habitat.
Texto José Serrano
O montado da serra de Serpa foi, recentemente, distinguido pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) como Sistema de Património Agrícola de Importância Global (Sipam). Qual a importância desta distinção para o concelho de Serpa?
O espaço geográfico do “Montado da Serra de Serpa” passou a fazer parte de 102 locais que, à escala planetária, são reconhecidos por albergarem sistemas agrícolas únicos devido à sua resiliência, à sua agro-biodiversidade, ao conjunto das práticas agrícolas tradicionais, ao seu contributo para a segurança alimentar e nutricional, à sua cultura e paisagem. A par de outras situações relativas ao reconhecimento patrimonial, Serpa passou agora a fazer parte desse conjunto restrito de locais, facto que certamente contribuirá, entre outros aspetos, para a valorização económica dos seus produtos e serviços na medida em que, à semelhança de outros locais, poderemos vir a assistir a uma procura turística diferenciada.
Dada a importância desta distinção, é expectável que possam vir a ser apresentadas medidas de incentivo, no concelho, para o plantio e manutenção de montado?
Uma das peças da candidatura é um plano de ação a três anos, cujos eixos visam: a melhoria das estruturas das unidades produtivas e das competências dos agentes económicos; a promoção económica e social deste sistema extensivo; a valorização do património cultural e natural; a promoção internacional como Sipam. A concretização deste plano de ação será tanto mais frutuosa quanto maior for o empenhamento da população e dos agentes locais e nacionais, desde sempre convidados a associarem-se a esta iniciativa. No que apenas à agricultura diz respeito, é também desejável que sejam criadas majorações nas ajudas à produção.
Considera que, na generalidade, existe por parte dos poderes políticos, dos agricultores e da população a informação conveniente, capaz de proporcionar a preservação e valorização do montado?
Devemos sempre considerar que a informação e o esclarecimento acerca deste reconhecimento planetário do património local nunca serão suficientes. Por isso, também encontramos no plano de ação medidas com tal propósito. É importante compreender que chegámos até aqui com práticas e saberes que passaram de geração em geração. Naturalmente, se é importante divulgar e promover o sistema para fora não é de somenos importância olhar para dentro. Tal significa, valorizar as produções locais, melhorar práticas e continuar a investigar para construir conhecimento. Na prática, a partir do árduo esforço de várias gerações de habitantes da serra de Serpa, sejam agricultores, produtores agroalimentares ou prestadores de serviços de alojamento ou restauração, há que criar condições que contribuam para a melhoria das suas condições de vida e trabalho. A chamada de atenção para este espaço, através da produção de informação diversificada e com rigor científico, é considerada fundamental.