Aljustrel, Almodôvar, Beja, Serpa e Vidigueira foram os municípios que, nas últimas eleições autárquicas, deram uma cambalhota política, alterando as forças partidárias que estavam no poder.
 
Texto | Ana Filipa Sousa de SousaIlustração | Susa Monteiro/Arquivo
 
No passado dia 12, o distrito de Beja foi alvo de mudanças ao nível autárquico. As que seriam completamente previsíveis aconteceram por os presidentes em exercício de funções se encontrarem a cumprir o último dos três mandatos permitidos por lei ou por não se recandidatarem. No entanto, aconteceram algumas surpresas.
 
Aljustrel Em Aljustrel, ao fim de 16 anos, a câmara municipal deixou de ser gerida pelo Partido Socialista (PS) e passou para as mãos de Fernando Ruas, eleito pela Coligação Democrática Unitária (CDU). Ao “Diário do Alentejo” (“DA”), o novo presidente admite que a necessidade de mudança “foi traduzida em votos pela população do concelho” e, por isso, vista como “positiva”.“Foi manifesta a vontade da população de querer mudança ao fim de 16 anos de governação do PS à frente da Câmara de Aljustrel [e] isto dá-nos um grande alento, mas também uma grande responsabilidade. Costumo dizer que aqui no concelho as pessoas são muito exigentes [e] esperam sempre muito dos dirigentes políticos e de quem está no poder”, começa por dizer. Consciente de que “a população não perdoa”, Fernando Ruas afirma que “quem está no poder tem sempre um grande trabalho em mãos” e que é necessário começar a trabalhar desde o primeiro dia, nomeadamente, nas áreas da “educação, saúde, habitação e desenvolvimento económico”.“A habitação é uma questão fundamental. Os valores da habitação aqui em Aljustrel são muito altos e isso resulta de haver muita procura e pouca oferta”, assume, recordando, de seguida, que “a câmara teve em 2021 uma estratégia local de habitação aprovada e que, infelizmente, não conseguiu executar”.Paralelamente, e “influenciado por este aumento do número de habitantes”, impulsionado em grande medida pela exploração mineira, o autarca assume como prioridades para o próximo mandato, 2025-2029, a atração de “mais médicos” para colmatar “os habitantes que não possuem um médico de família”, a requalificação da Extensão de Saúde de Rio de Moinhos, para que “as pessoas dessa freguesia tenham o mesmo acesso aos cuidados de saúde que as restantes”, e a remodelação da Escola Secundária de Aljustrel.“Estamos com muita falta de salas de aulas, tendo em conta o número de turmas e de alunos que temos. [Por isso], temos de procurar fazer investimentos também a esse nível, porque, se não, corremos o risco de entrarmos numa situação muito preocupante”, alerta.Recorde-se que a CDU venceu em Aljustrel com 46,72 por cento dos votos, elegendo três vereadores, e derrotando a lista do PS (dois eleitos), encabeçada por Nelson Brito.
 
Almodôvar Em Almodôvar o cenário repetiu-se. José Tadeu Freitas é o novo presidente da câmara municipal eleito pelo Partido Social Democrata (PSD), retirando o poder aos socialistas ao fim de 12 anos.“Esta mudança implica mesmo uma alteração de paradigma. Nós, efetivamente, temos uma ideia diferente daquilo que queremos para Almodôvar. Entendemos, ao contrário do que tem acontecido até aqui, que tem de ser bom viver em Almodôvar e que o concelho precisa de mudar o paradigma social e económico”, salienta.Segundo José Tadeu Feitas, o município não pode “continuar a depender exclusivamente da Somincor” (concessionária da mina de Neves-Corvo) e, por isso, existe a necessidade de se “criarem outras fontes de rendimento, que passam sempre por uma melhoria no comércio local e das empresas do concelho”, assim como na “incrementação do turismo”.De uma forma preliminar, o novo presidente assume que pretende “transformar o serviço da câmara” para que “as pessoas trabalhem de uma forma mais feliz e organizada” e com qualidade nas suas infraestruturas e estacionamentos. Paralelamente, o executivo tem em vista o início das obras de recuperação na Escola Básica (EB) 2,3/Secundária Dr. João Brito Camacho, a construção de duas novas creches, a já projetada e uma outra, assim como a disponibilização de lotes com incentivos fiscais para fixar jovens na vila e nas freguesias adjacentes. No último dia 12, o PSD alcançou a maioria dos votos (47,44 por cento), elegendo três representantes, enquanto a segunda força política mais votada foi o PS, que elegeu dois eleitos.
 
Beja Na capital de distrito, a coligação Beja Consegue (PSD/ /CDS-PP/Iniciativa Liberal) venceu, fazendo com que o então vereador sem pelouros Nuno Palma Ferro assumisse a liderança da autarquia. Em declarações ao “DA”, o novo presidente da Câmara Municipal de Beja admite que a sua lista assumirá o novo mandato autárquico “com toda a nossa energia, com todas as nossas forças [e] sentido de responsabilidade [e] humildade”, uma vez que a população votou “num programa eleitoral, numa ideia e num projeto”. Questionado quanto às prioridades para os próximos quatros anos, Nuno Palma Ferro é perentório e garante que “todo o programa eleitoral” será cumprido e terá toda a sua atenção, ainda assim, admite que, “de forma particular” e “já no imediato”, existem áreas de maior urgência.“Vamos centrar as nossas atenções na questão das acessibilidades, [nomeadamente] na A26, e no melhoramento da higiene e limpeza [nas ruas]. Estes serão, para já, os primeiros eixos que vamos tentar pôr a andar, mas, obviamente, será um processo lento”, afirma. A coligação Beja Consegue alcançou 31,14 por cento dos votos, elegendo dois vereadores, à semelhança do PS e da CDU, enquanto o Chega ficou com um eleito. Perante este cenário de instabilidade governativa, o novo presidente apresentou uma proposta ao PS “para ter um vereador a tempo inteiro no executivo da câmara”, proposta essa que foi recusada. “Neste momento, o que posso adiantar é que estamos a aguardar pela resposta [a uma proposta semelhante] da CDU. É o que posso dizer, é o que sei”, disse, na terça-feira, dia 28 (antes do fecho da presente edição).Anteriormente, segundo a agência “Lusa”,Nuno Palma Ferro também já tinha endereçado um convite ao candidato do Chega, David Catita, para ter uma vereação com pelouros, mas sem permanência no executivo.
 
Serpa No concelho de Serpa, a CDU perdeu um dos seus grandes bastiões, com a câmara municipal a passar para as mãos do PS, numa lista encabeçada por Francisco Picareta. Para o novo presidente, que tomou posse na passada terça-feira, dia 28, esta alteração de cor política é “em prol das pessoas”.“Até ao dia de hoje tivemos uma postura, uma ideologia, que coloca os interesses nacionais, na nossa opinião, acima dos interesses da população. Portanto, uma grande mudança é colocar as pessoas, as empresas e as instituições acima de tudo e em primeiro lugar”, elucida. Desta forma, relembra o autarca, os objetivos primordiais para os próximos quatros anos assentam no “desencadear dos procedimentos” para o financiamento das obras de requalificação da Escola Secundária de Serpa e da Extensão de Saúde de Vila Nova de São Bento.“Queremos também, no imediato, estabelecer contactos com a Santa Casa da Misericórdia de Serpa, com a União das Misericórdias Portuguesas e com a Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, para nos inteirarmos da situação real que se passa na santa casa da misericórdia e podermos, dentro daquilo que for a legalidade e respeitando a administração, ajudar naquilo que for possível”, assegura.Para além disso, Francisco Picareta quer, também, reorganizar os serviços da autarquia e dar início “a uma nova forma de funcionamento”, com base “na prestação do serviço público à nossa comunidade”. Neste concelho o executivo é composto por quatro eleitos do PS (41,25 por cento) e três eleitos da CDU.
 
Vidigueira Em Vidigueira o socialista Ricardo Bonito derrotou o então presidente da câmara comunista, Rui Raposo, com 44,56 por cento, elegendo três representantes, deixando os outros dois eleitos nas mãos da CDU. Em declarações ao “DA”, o novo autarca lembrou que o concelho tem “muitas potencialidades a todos os níveis” e que é urgente “ouvir aquilo que são os agentes económicos, as associações e toda a comunidade”, para que se comece a “transformar” a vila “a médio prazo”. “Precisamos de um concelho onde as pessoas gostem de viver, de trabalhar e onde consigamos atrair empresas que se queiram fixar, transformando, assim, o nosso concelho numa região de excelência e de que as pessoas se orgulham”, refere.O foco, conforme explica, está, então, em potencializar a vila de forma a melhorar a qualidade de vida daqueles que nela habitam com a fixação de jovens, nomeadamente, nas áreas da habitação e educação – “porque é preciso contrariar um pouco aquilo que tem sido a demografia” – e no “olhar para a comunidade sénior”. Em simultâneo, Ricardo Bonito pretende aprofundar “aquilo que são as questões culturais e turísticas”, aliadas também ao desenvolvimento económico e social, “para que quem nos visita fique com a ideia de que Vidigueira é uma terra que tem muito a oferecer”.“Acho que estão reunidos todos os ingredientes para transformar o nosso concelho, no prazo de 10 anos, num concelho de excelência”, resume.
 
Tomadas de posse para o próximo quadriénio Para hoje, sexta-feira, estão agendadas as tomadas de posse em Vidigueira, às 10:30 horas, no salão da Biblioteca Municipal Doutor Palma Caetano, em Beja, às 11:00 horas, no auditório do Pax Julia Teatro Municipal, em Cuba, às 18:00 horas, no auditório do centro cultural, e em Ourique, às 18:00 horas, no Cineteatro Sousa Telles. Por sua vez, para o próximo dia 3 de novembro, estão agendadas as sessões em Aljustrel, às 10:30 horas, no edifício dos paços do concelho, e em Moura, às 19:00 horas, na Torre do Relógio, na freguesia de Amareleja. Os momentos são abertos ao público e marcam o início de funções dos novos membros do executivo municipal e da assembleia municipal para o quadriénio de 2025-2029.