Festival de Bandas de Beja, com início em 2006
Organizado pela Arruaça e pela Zarcos – Associação de Músicos de Beja, o Festival de Bandas de Beja nasceu em 2006 para dar palco a projetos alternativos da região, abrindo espaço para música com menos oportunidades de se apresentar na cidade. Nesta edição, face à dificuldade de programar apenas com bandas locais, o festival abre-se, pela primeira vez, a projetos de todo o País e, também, de Espanha.
O Festival de Bandas em Beja, vai ter nesta edição, com a Galeria do Desassossego como cenário, a presença de quatro bandas da Península Ibérica. O “Diário do Alentejo” conversou com Cristina Matos, presidente da Arruaça.
O Festival de Bandas de Beja transformou-se este ano em Festival de Bandas em Beja. Quero isto dizer que há falta de “prata da casa”?
Sim, desde há algumas edições que sentimos dificuldade em programar o festival apenas com bandas locais. São poucos os projetos de música alternativa que subsistem e ainda menos os que aparecem de novo – isso acabou por nos deixar, nas últimas edições com uma programação saturada.
Qual a razão deste silêncio “elétrico”, numa cidade em que as bandas de pop e rock&roll “desde sempre” se fizeram ouvir?
É uma questão estrutural. Sem salas de ensaio, sem espaços onde a música original seja regularmente ouvida e apoiada, torna-se quase impossível que surjam novas bandas. E sem bandas não há novos públicos. É um ciclo vicioso que não é exclusivo de Beja, mas que aqui se sente de forma mais aguda, porque a cidade não cria condições para que essa energia elétrica se mantenha acesa.
Beja é, com certeza, uma das cidades do País com maior número de talentos musicais, per capita, alguns deles sobejamente conhecidos a nível nacional e internacional. Considera que esta aptidão deveria merecer outro acolhimento por parte dos responsáveis municipais, nomeadamente na facilitação de casas de ensaio?
Sem dúvida. Beja tem uma enorme massa artística, mas a sua expressão parece reduzir-se quase exclusivamente ao cante, que é património e uma marca essencial mas que não pode ser a única. Uma cidade que não aposta na diversidade cultural condena-se a empobrecer social e culturalmente. O que sentimos é uma estagnação preocupante, uma visão cultural demasiado estreita e conservadora, que não dá espaço a quem quer experimentar e criar, fora do registo dominante.
A troca do “de” por o “em” no nome, vai possibilitar ao festival, neste ano, tornar-se internacional, com a apresentação de uma banda (The Birra’s Terror) vinda de Madrid. Poderá esta internacionalização vir a catapultar o festival para um novo nível de maior fôlego?
Procuramos, acima de tudo, oferecer alternativa. A presença dos The Birra’s Terror insere-se nesse espírito: trazer a Beja música que, de outra forma, não teria palco aqui. Se isso der visibilidade e fizer o festival crescer, tanto melhor, mas não é esse o objetivo central. O que nos move é a cidade: que desperte, que recupere a energia, que os jovens voltem a ter vontade de criar bandas e que a cidade volte a acreditar que pode ser culturalmente viva, como qualquer outra capital de distrito.
José Serrano