Jaime Mariano Coelho, natural de Pias (Serpa), 16/10/1942 a 18/02/2021
Filho de comerciante local trabalhou no comércio até final dos anos Setenta, altura em que decidiu completar o ensino secundário. Exerceu funções em sociedades recreativas, associações e no clube de futebol da sua terra, mas foi ao Grupo Coral e Etnográfico Os Camponeses de Pias, do qual foi diretor e ensaiador, que mais tempo dedicou. no aprimoramento da etnografia, no rigor das apresentações em público, na exigência dos ensaios, na organização. Em vida, editou os livros, de sua autoria, Primos Irmãos e Irmã Rute.
Em homenagem, a título póstumo, a Casa do Povo de Pias recebeu, recentemente, a apresentação dos livros Terras de Messangil e O Cante do Alentejo, de Jaime Mariano Coelho, obras compiladas e revistas pelo seu filho José Rafael Coelho, a quem o “Diário do Alentejo” colocou as questões desta entrevista.
Como nos apresenta estes dois livros, agora apresentados?
Após o seu falecimento, encontrámos duas estórias que o meu pai tinha escrito separadamente, mas que, por se enquadrarem no mesmo local e tempo, tomei a liberdade de as ligar, resultando o livro Terras de Messangil. Já O Cante do Alentejo é constituído por modas do grande repertório do Grupo Coral e Etnográfico Os Camponeses de Pias, contendo, também, a explicação de parte da gestão do grupo, da seleção das modas, do recrutamento dos cantadores, entre outros pensamentos.
Quais os principais objetivos a que o seu pai se propunha, ao recolher os documentos que agora se apresentam nestas duas obras?
O meu pai sempre teve gosto pela escrita, mas com o avançar da idade e já reformado, a sobra de tempo impulsionou-o a escrever mais. Em conversas com ele, sempre demonstrou vontade de voltar a editar, daí termos optado pela realização do Terras de Messangil. Já o livro sobre o cante espelha a paixão por este património que o meu pai abraçou, ao longo de 30 anos de dedicação. Gostava de organizar e gerir e guardava tudo o que escrevia, registava tudo o que recolhia e teve a coragem de acrescentar mais versos e quadras às já conhecidas, tanto do cancioneiro regional, como de outros autores locais. Pensámos que todo este trabalho de recolha, deveria ser perpetuado para as gerações vindouras, no intuito de contribuir para a divulgação e o crescimento do cante.
O que mais gostaria que sentissem os leitores destes dois livros?
Gostaria que o leitor de Terras de Messangil consiga entrar no imaginário criativo do autor e, ao fazê-lo, se sinta agradado pelo enlace desenvolvido no romance. O Cante do Alentejo traz uma visão diferente do que já vimos até agora, sem menosprezar, obviamente, tudo o que já foi escrito e publicado. O livro mostra a essência, a origem, a história, mas principalmente as preocupações organizativas e de gestão, que quase sempre são o principal problema na criação e manutenção deste tipo de grupos. O livro poderá constituir para os leitores um “catálogo” de letras, bem como a compreensão do cante – o porquê da sua existência e a razão da sua riqueza –, podendo ainda servir de “manual” de conceitos e de procedimentos na gestão de um grupo coral.
Como responsável da compilação e revisão destes dois livros, qual o sentimento que experienciou neste seu trabalho?
Certamente, o orgulho em fazer parte deste projeto e o facto de ter a oportunidade de contribuir para o legado deixado pelo meu pai. O sentimento de que era necessária fazer-lhe uma homenagem digna e séria, pela sua dedicação social e cultural que manteve em toda a sua vida.
José Serrano