Diário do Alentejo

“O barranquenho fala-se e, agora, também se escreve”

27 de julho 2025 - 08:00
II Congresso Internacional “O Barranquenho, ponte entre línguas e culturas”
Foto | D.R.Foto | D.R.

Nos passados dias 15 e 16 realizou-se, em Barrancos, o II Congresso Internacional com o tema “O Barranquenho, ponte entre línguas e culturas”. Daí resultaram os projetos de Convenção Ortográfica, Gramática Básica e Dicionário de Barranquenho. A vereadora com o pelouro da Cultura, Cláudia Costa, falou ao “Diário do Alentejo” sobre a importância deste evento para “eternizar uma língua falada, [mas] sem qualquer registo escrito, [que está] enraizada na história e vivência atual de um povo, e é elemento fulcral da sua identidade”.

 

Texto Aníbal Fernandes

 

No final do encontro, que se realizou no Centro In-terpretativo do Barran-quenho, foram, simbolicamente, entregues ao presidente da câmara, Leonel Rodrigues, três “documentos estruturantes para a língua barranquenha”: os projetos de Convenção Ortográfica do Barranquenho, da Gramática Básica de Barranquenho e do Dicionário de Barranquenho, na opinião da vereadora Cláudia Costa “essenciais para alavancar a escrita da língua barranquenha, perpetuando-a por futuras gerações, preservando a identidade de que todos os barranquenhos se orgulham”.

O envelhecimento acentuado da população é um desafio para a manutenção desta língua e para “como não perdê-la quando o último falante deixar de existir e a memória dos demais se esvanecer”, questiona Cláudia Costa, respondendo: “Escrevendo-a”.

As ferramentas agora apresentadas resultam de um trabalho científico no âmbito do Programa de Preservação e Valorização do Património Cultural Barranquenho, em parceria com Maria Filomena Gonçalves (Universidade de Évora), María Vitoria Navas (Universidade Complutense de Madrid) e Victor Correia (Universidade de Évora), que têm estudado a língua e cultura barranquenha e, em breve, “serão disponibilizados na página eletrónica do município para consulta pública e recolha de contributos para aprovação final”, explica a também vice-presidente da Câmara Municipal de Barrancos.

Este evento só foi possível, recorda, devido ao “importante passo dado a 24 de junho de 2008, com a aprovação pela assembleia municipal do dialeto barranquenho como Património Cultural Imaterial de Interesse Municipal”, seguido, “mais recentemente, da merecida valorização do Estado Português que reconheceu o direito a cultivar e promover o barranquenho, enquanto veículo de transmissão do património cultural imaterial, materializado na lei n.º 97/2021, de 30 de dezembro”, recorda a autarca.

Apesar das inúmeras reuniões que precederam este congresso, e dos “diversos registos áudio (alguns bastante antigos) de falantes de barranquenho, de várias faixas etárias”, os documentos apresentados “não são estanques” e até à sua aprovação “podem ser continuamente melhorados, sem perder a base científica, por vezes difícil de entender, tanto quanto as diferentes oralidades que podemos encontrar quando diferentes pessoas dizem a mesma palavra. Poder-se-á dizer que mais do que um ponto de chegada, pretendem ser um ponto de partida para cimentar o barranquenho como língua minoritária com o merecido reconhecimento nacional e além-fronteiras”, explica.

Para que se sedimente “é essencial entrar no patamar do ensino-aprendizagem, entrar no espaço escolar”, numa primeira fase “em atividades de enriquecimento curricular, ou atividades culturais”, decisão que deve ser consentânea com o Agrupamento de Escolas de Barrancos.

Outra importante decisão do congresso foi a sugestão para a criação de uma associação para defesa da língua e cultura barranquenha, para que possa contar com o apoio logístico e financeiro do município de Barrancos.

O congresso contou com a participação de inúmeros investigadores, nomeadamente, para além dos já citados, Ana Paula Amendoeira, vice-presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo, Xosé Afonso Álvarez, da Universidade de Alcalá, Filipe Themudo Barata, antigo titular da Cátedra Unesco/Universidade de Évora, Alcides Meirinhos, da Associaçon de Lhéngua i Cultura Mirandesa, Alberto Gómez Bautista, da Universidade de Aveiro (P.Frontespo), Ignacio López Aberasturi, da Universidade de Granada, Claudia Elena Menéndez, da Universidade de Oviedo, José Enrique Gargallo Gil, da Universidade de Barcelona, e Vera Ferreira, do Centro Interdisciplinar de Documentação Linguística e Social –Cidles/P. Frontespo. (Ver texto de opinião na página 11).

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