A falta de contactos, informações e respostas por parte do Governo e, consequentemente, da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, fez com que os municípios do distrito de Beja se sentissem “sozinhos no meio do oceano” e à sua “mercê” durante as cerca de 11 horas em que a região esteve sem eletricidade. O presidente da Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo, António Bota, não compreende a atuação governativa perante o apagão de segunda-feira, dia 28 de abril.
Texto |Ana Filipa Sousa de Sousa/José Serrano
Foram cerca de 11 as horas em que a região esteve sem eletricidade e, em alguns períodos, sem rede móvel. Durante este tempo, segundo o presidente da Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo (Cimbal), António Bota, “não houve qualquer tipo de contacto” por parte do Governo ou da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil para com as câmaras municipais do distrito.
“Não tivemos informação privilegiada sobre quantas horas poderia demorar [o apagão], sobre se estava a ser tratado, sobre se as consequências iam ser mais longas ou não. Estivemos à nossa mercê no sentido em que cada um de nós teve de encontrar soluções não sabendo a dimensão do problema”, referiu ao “Diário do Alentejo”. Prosseguindo: “Têm os nossos contactos pessoais, têm grupos de Whatsapp em que podiam comunicar uma só vez com todos nós [e] não o fizeram”.
Segundo o responsável, a “ausência” de informações fez com que os municípios se sentissem “sozinhos no meio do oceano” e com o sentimento de que “quando é para contribuir para o País estamos cá, [mas que] quando temos problemas para resolver somos gestores autónomos”.
“É uma pena, mas é o que temos e aprendemos que a autonomia dos municípios cada vez é mais importante, porque estamos sozinhos no meio do oceano quando há problemas”, afirmou.
Numa nota publicada nas suas redes sociais, António Bota adjetivou a situação como “inaceitável” e criticou ainda a tentativa de reunião agendada para as 23:00 horas de segunda-feira pelo Comando Sub-Regional de Emergência e Proteção Civil do Baixo Alentejo “somente para relatório das ocorrências”, que não se chegou a realizar devido à inexistência de Internet no distrito.
Ainda assim, o presidente da Cimbal garante ao “DA” que o balanço que faz em relação aos trabalhos desenvolvidos pelas 13 câmaras municipais é “positivo”, tendo estado “todas muito bem”.
“Estiveram todas, sem exceção, à altura de ativar os seus sistemas de proteção civil, de encontrar soluções para que a população não ficasse sem água, tivesse meios de socorro disponíveis [e] isso é o mais importante”, assegurou.Por sua vez, o Comando Sub-Regional de Emergência e Proteção Civil do Baixo Alentejo, contactado pelo “DA”, adiantou apenas que na segunda-feira, “tirando a situação em si que afetou o País todo”, não foram registadas, “felizmente”, situações “significativas” ou “excecionais” no distrito.
Já o presidente da Federação dos Bombeiros do Distrito de Beja, Domingos Fabela, confirmou que o apagão causou “muitos constrangimentos” para as corporações, nomeadamente, na resposta às situações de emergência. “Tivemos constrangimentos na questão do socorro imediato, na medida em que havia dificuldades enormes para as pessoas conseguirem contactar os bombeiros e isso levou a que houvesse alguns atrasos, não muito significativos, na prestação do serviço de socorro de emergência”, atestou ao “DA”. O responsável explicou também que o restabelecimento das comunicações internas do Siresp, rede de comunicações exclusiva do Estado para o comando, controlo e coordenação de comunicações em todas as situações de emergência, funcionou “através de geradores” e, por isso, não foi reportada “nenhuma situação penalizadora para os nossos cidadãos”. Sem ainda dados concretos, Domingos Fabela admitiu que na terça-feira, dia 29 de abril, após a retoma da energia, o serviço dos bombeiros estava “normal” e “a funcionar em pleno”.
“Continuamos com constrangimentos em alguns casos, como nos serviços programados, [porque] o hospital ainda não está a funcionar a 100 por cento e isso traz-nos alguns problemas com os exames e as consultas, mas está tudo a processar-se com a devida naturalidade”, reforçou.
Por outro lado, a Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (Ulsba) revelou em comunicado, nesse mesmo dia, ter retomado, de manhã, “toda a atividade nas diversas unidades da instituição”, após o regresso, na segunda-feira à noite, da energia elétrica.
A situação inusitada levou à suspensão, ao longo desse período, de “consultas, exames e cirurgias” no Hospital José Joaquim Fernandes, em Beja, e das deslocações de profissionais dos cuidados de saúde primários.
Ao “DA”, o gabinete de comunicação da Ulsba informou que “os serviços de urgência e atendimento a situações agudas não sofreram quaisquer constrangimentos, tendo funcionado em pleno”, e que, “tendo em conta os constrangimentos resultantes do sucedido, tudo decorreu sem complicações de maior até ao restabelecimento do fornecimento de energia”.