Foi inaugurada, na passada quarta-feira, mais uma edição do certame que contêm em si “todo o Alentejo deste mundo”, contando com a presença governamental do ministro da Agricultura, que considerou a revitalização do setor como objetivo “estruturante” para o qual “Portugal tem de trabalhar no seio da União Europeia” e, na conclusão de alianças “previsíveis e estáveis, à escala global”.
Texto | José SerranoFoto | Vasile Iavorovschi
O ministro da Agricultura esteve presente na cerimónia inaugural da 41.ª edição da Ovibeja, tendo o certame aberto, de forma formal, no início da manhã de quarta-feira, com o seminário “Jovem Empresário Rural”, organizado pela Associação de Jovens Agricultores de Portugal.
Na sua intervenção, José Manuel Fernandes, aludindo à necessidade de uma renovação geracional do setor, sendo, para tal, precisas políticas de proteção e incentivo –“não é por acaso que duplicámos os apoios para os jovens agricultores” –, sublinhou a importância da atividade para o País. “Para nós, a agricultura é estratégica, estruturante – o Orçamento do Estado nunca apoiou tanto a agricultura, fizemos uma resolução em que apoiámos com 300 milhões de euros, (60 milhões de euros por ano durante cinco anos), o reforço para apoio ao agricultor. A agricultura é segurança alimentar, ‘comida no prato’. Mas também é defesa – face a situações que nós tivemos, como a pandemia, face à atual situação geopolítica, às guerras, percebe-se melhor [este conceito]”. Por isso, diz, a revitalização do setor “tem de ser um objetivo para o qual temos de dar o nosso contributo, para o qual Portugal tem de trabalhar no seio da União Europeia” e, na conclusão de alianças “previsíveis e estáveis, à escala global”.
Com eleições legislativas marcadas para dia 18, e questionado sobre “a marca que deixou neste executivo”, o governante referiu o aumento do rendimento dos agricultores, o investimento na floresta – “nós voltámos a colocar a floresta no Ministério da Agricultura” –, a valoração da proximidade do setor em termos de funcionamento dos serviços regionais – “o anterior Governo tinha acabado com as direções regionais [de agricultura]” – e a alavancagem de projetos relacionados com a água, referindo, em particular, o intitulado “Água que une”, plano de estratégia nacional de gestão do recurso, lançado, recentemente, pelo Governo, considerado pelo ministro como de “extrema importância” para o reforço da “competitividade”, da atratividade “em termos de investimento” e da coesão territorial. “O objetivo é armazenar a água, para a distribuir de forma eficiente, se necessário, numa rede interligada, com a finalidade de a podermos ter em quantidade suficiente para a agricultura, para o consumo humano – nós não podemos deixar fugir a água toda pelo mar. Algumas pessoas prefeririam o deserto, mas nós consideramos que a água é um elemento essencial para o território e para o investimento, para a coesão. Este será um investimento “brutal”, mas se não fizermos esse investimento é um custo, pois se olharmos para o exemplo do Alqueva verificamos que [com os dividendos daí resultantes] ele já se pagou várias vezes – não investir no objetivo da água é um prejuízo”, considerou.
Frisando, em declarações aos jornalistas, estar presente no certame na qualidade de ministro – “não queria estar em simultâneo, em modo campanha eleitoral” – José Manuel Fernandes acentuou, no entanto, que há no setor agrícola “um grande investimento e uma grande recuperação a fazer, que não se concluem em 11 meses. O que eu não consigo perceber é por que é que o Governo anterior tentou desmantelar o Ministério da Agricultura. Nós estamos a reconstruir, a refazer e a reforçar”, disse.
Apoios para jovens e incentivos financeiros e fiscais diferenciados Também Rui Garrido, presidente da ACOS – Associação de Agricultores do Sul e da comissão organizadora da Ovibeja, vaticinando que esta seja “mais uma grande feira, no seguimento das que temos tido nos últimos anos”, esperando que “São Pedro não atrapalhe aqui as nossas expectativas”, realçou a importância de se valorizar, politicamente, a agricultura.
“A população mundial não para de aumentar e há que produzir mais alimentos”, numa área de terra que vai sendo cada vez mais diminuta, ocupada que é por outras atividades. Temos, por isso, que ser imaginativos e produzir de forma ambientalmente sustentável, tarefa que exige a conjugação de esforços entre agricultores e a investigação científica”, bem como a regeneração geracional dos agricultores portugueses. “Portugal é, na Europa, o País com maior percentagem de agricultores acima dos 65 anos (51,9 por cento) e onde apenas nove por cento dos agricultores têm menos de 40 anos”.
Nesse sentido, de forma a dotar a atividade de argumentos capazes de atrair os mais jovens, “há aqui um esforço muito grande que tem que ser feito”, continuando, na sua perspetiva, a ter de existir apoios para que os jovens “possam investir e possam instalar explorações agrícolas” e a possibilidade de se equacionarem incentivos financeiros e fiscais diferenciados – “acho que seria fundamental”. Contudo, o presidente da ACOS perspetiva a resolução da questão para além dos apoios orçamentais. “Na minha opinião, têm de existir, para que os jovens se possam manter aqui, no nosso interior, bons acessos à saúde, à cultura, à Internet, boas acessibilidades – nunca resisto a dizer que Beja e Portalegre são as únicas capitais de distrito que não têm uma autoestrada”. Será através deste conjunto articulado de medidas que, refere Rui Garrido, a região terá capacidade de “prestigiar a profissão” e de, assim, atrair jovens para o setor agrícola, regenerando-o.
Organizada pela ACOS – Associação de Agricultores do Sul, a Ovibeja realiza-se até domingo, dia 4, no Parque de Feiras e Exposições Manuel Castro e Brito e espera receber “mais de 100 mil visitantes”, segundo a entidade promotora. O tema da edição deste ano do certame é “+ Agricultura + Futuro”, com a reflexão a centrar-se na “importância da agricultura como motor de desenvolvimento sustentável frente aos desafios globais”.