Começa no próximo dia 30 e termina a 4 de maio. Como nos tem habituado, a Ovibeja vai manter o “carácter reivindicativo que a tem caracterizado ao longo dos anos”, mas o tema deste ano aposta no futuro e na inovação, sob o lema “+Agricultura +Futuro”. Rui Garrido, presidente da ACOS – Associação de Agricultores do Sul, revela, numa entrevista cedida à comunicação social pelo gabinete de imprensa do evento, aquilo que a maior feira do Sul vai mostrar e fala dos grandes temas do setor, da imigração à água, passando pela necessidade de rejuvenescer a atividade.
Texto Aníbal Fernandes
Sem água não há vida e, também, não há agricultura. Não é, pois, de estranhar que Rui Garrido, presidente da ACOS – associação que organiza a Ovibeja – se mostre preocupado com a sua gestão e que alerte para que “a quota da água de Alqueva, neste momento, disponível para a agricultura, já não vai chegar tendo em conta o que é previsível sair para as outras bacias e o aumento da área regada”.
O também presidente da Federação das Associações de Agricultores do Baixo Alentejo diz que vai “continuar a reivindicar o aumento da quota da água para a agricultura”, a que o Governo já tinha dado o seu acordo, e acredita que “uma renegociação com a EDP” e o “alteamento das barragens do Pedrógão e, eventualmente, de Alvito”, conforme está previsto na estratégia “Água que Une”, possa acautelar problemas futuros.
A questão dos precários e dos pequenos regadios de apoio ao sequeiro também estão na ordem do dia, tal como as candidaturas ao investimento, assuntos que têm sido discutidos com o atual Governo. Rui Garrido exige que, para além das candidaturas para jovens agricultores – que estão a decorrer até ao final do ano –, “sejam também contempladas candidaturas para todos os outros agricultores que precisam de investir”.
Coincidindo com a pré-campanha e campanha eleitoral, é de esperar que muitos protagonistas políticos visitem a Ovibeja e isso será aproveitado para lembrar os temas “que afetam a agricultura da nossa região e que são, também, muitos deles, transversais a todo o País, como é o caso da pecuária extensiva. É preciso que os responsáveis de todos os partidos políticos saibam qual é a nossa realidade, as nossas preocupações e reivindicações”.
“Água que une”
A estratégia “Água que une” foi apresentada pelo Governo, recentemente, em Beja, nas instalações da ACOS e Rui Garrido congratula-se com “o trabalho realizado”. “É um trabalho muito importante”, explica, “com uma filosofia de gestão conjunta da água de norte a sul de Portugal”, defendendo que o governo “que vier a seguir” o “tente melhorar”, considere as “críticas construtivas” que já foram apresentadas e que haja “vontade política” para o concretizar, pois, sem isso, “muitas daquelas medidas nunca serão implementadas”.
Do que está previsto no documento para a região do Baixo Alentejo ressalva “a construção de duas barragens, uma na ribeira de Terges e Cobres, e outra na ribeira de Carreiras, ambas no concelho de Mértola”, e onde “será importante a possibilidade da constituição de pequenos regadios de apoio à pecuária extensiva. Esta é uma reivindicação com dois anos da ACOS e da Federação das Associações de Agricultores do Baixo Alentejo de que não abdicaremos. Esta ideia para os pequenos regadios está a ganhar força, havendo cada vez mais pessoas a acreditar nela, mas esta possibilidade não está devidamente expressa na estratégia ‘Água que Une’. Há que lutar por ela, pois é (...) fundamental para a região, para a manutenção da atividade económica no interior e para o País”.
Rui Garrido não se opõe a que a água do Alqueva seja usada na “regularização do caudal ecológico do Guadiana”, conforme definido no acordo com Espanha, com o fornecimento de água ao Algarve a partir do Pomarão ou o reforço da barragem de Santa Clara, “mas é preciso salvaguardar também a entrada de água no grande lago de Alqueva. A estratégia contempla, e bem, que se pretenda fazer uma interligação do rio Tejo ao rio Guadiana, a partir de Nisa, pela barragem do Caia. Se assim for, se uma parte da água do Tejo for canalizada para Alqueva, podemos concretizar todos os projetos fundamentais para o nosso Alentejo”, diz.
Migração
Assinado recentemente, o Protocolo de Cooperação para a Migração Laboral Regulada é visto como “uma medida que pode facilitar muito a relação de empregabilidade, de ambos os lados”.
“O que tem vindo a acontecer até aqui, salvo raras exceções, é as empresas agrícolas recorrerem a empresas de recursos humanos dedicadas a efetuar contratos com trabalhadores de outros países. Essas empresas de recrutamento contratam os trabalhadores e, depois, contratamos com essas empresas pessoal para os trabalhos agrícolas. Com este protocolo tudo isso vai mudar”, diz Rui Garrido, explicando que os agricultores passam a ter “acesso direto, com condições bem definidas, às equipas a contratar. Entre as condições salvaguardadas no protocolo salienta-se a vinda de migrantes com contrato de trabalho, com alojamento garantido, com garantia de acesso aos serviços de saúde, ou seja, de uma forma digna e que salvaguarde a segurança, tanto de quem emprega, como dos trabalhadores contratados”.
E dá como “exemplo de boas práticas” o que acontece na zona de Cartaya, na província de Huelva, em Espanha: “Trata-se de uma parceria específica entre o município, as empresas espanholas e as empresas de Marrocos. Foram construídos e definidos locais onde as pessoas podem ser alojadas. As empresas contratam diretamente de acordo com regras bem definidas. Do lado de Marrocos existem também empresas que fazem a prospeção e encaminham a mão de obra de acordo com as regras e as especificações definidas. Neste modelo, muitas das vezes, os trabalhadores são os mesmos que regressam sempre que começa novo ciclo de trabalho. Este trabalho já testado com êxito em Espanha e o protocolo assinado agora em Portugal evitam os intermediários que faz com que o trabalhador tenha dois patrões e, muitas vezes, vinculados a relações contratuais pouco claras”.