Dinis Cortes, 69 anos, natural de Vila Real
Médico. Fotógrafo de natureza e vida selvagem. “Prémio Carreira” atribuído pelo Fundo para o Apoio e Proteção dos Animais Selvagens e pela Câmara de Castelo de Vide pelo trabalho de divulgação científica e formação realizado na área de Natureza. Autor de várias publicações, conferências e trabalhos de campo sobre biodiversidade, evolução humana, astronomia e o universo das aves de Portugal, é assessor para a área de natureza e biodiversidade da empresa Wildscape. Fundador da Quercus-Beja e associado de várias outras associações, incluindo a ZERO.
Está patente ao público, no Centro de Arqueologia e Artes de Beja, até ao dia 5 de abril, a exposição “Dos Sítios, das Artes e das Noites Megalíticas”, da autoria de Dinis Cortes.
Como nos apresenta esta sua exposição?
É uma viagem fotográfica ao mundo dos primeiros pastores e agricultores e dos que, a seguir, fundiram os primeiros metais. Os monumentos megalíticos fotografados prosseguem fins diversos como locais de culto e reunião, de marcação territorial ou de finalidade funerária. São essas diferentes formas de arte, arquitetura, escultura, cerâmica e pintura, e o simbolismo a elas inerente, os verdadeiros motivos da exposição fotográfica. O espaço temporal encontra-se entre o 8.º milénio e o 4º milénio, antes do presente, abrangendo o Neolítico, Calcolítico e início da Idade do Bronze.
As fotografias apresentadas percorrem o País, de Bragança a Sagres. Como classifica o Baixo Alentejo em riqueza de vestígios pré-históricos?
A cultura megalítica teve uma expressão importante no nosso país. As zonas com maior expressão de monumentos dessa época serão, de norte para sul, o planalto de Castro Laboreiro, a zona de Montalegre e Barroso, a envolvente do médio Tua, as zonas de Baião/Serra da Aboboreira, do médio Vouga, entre Dão e Mondego, de Niza/Castelo de Vide/ /Marvão, de Montemor-o-Novo/Évora e a de Évora/Monsaraz, a zona de Melides e a zona de Vila do Bispo/Sagres. O Baixo Alentejo não é, efetivamente, uma zona de grande concentração desse tipo de monumentos, embora existam vários com muito interesse dispersos pelo território.
Dos sítios megalíticos do Baixo Alentejo quais o que considera mais relevantes, “obrigatórios” de visita?
As duas antas da Corte Serrão, em Marmelar (Vidigueira), e a anta de Pias (Serpa) deverão ser visitadas. Há uma interessante estela calcolítica, perto do parque fotovoltaico do Rosário, em Almodôvar, com figuras gravadas. O grande menir do monte do Mac Abraão, em Vila de Frades (Vidigueira), permanece caído e meio soterrado e muitas das antas do nosso território encontram-se ao abandono, envergonhando-nos a todos. Estes monumentos funerários, que contiveram os corpos dos nossos antepassados, merecem, no mínimo, respeito pelo seu significado e pelo papel agregador e cultural que tiveram num momento crucial do desenvolvimento humano, há sete mil anos.
Considera que a visitação de sítios megalíticos pode contribuir como fator de desenvolvimento de algumas povoações do interior?
Para que tal aconteça é necessário valorizar esse património. A educação patrimonial, nas escolas, clubes, associações recreativas, é uma necessidade absoluta. Em segundo lugar, é preciso proteger, através de legislação adequada, da sensibilização de proprietários e das autoridades, das lideranças políticas e associações cívicas. Por fim, é preciso promover esses monumentos, descrevendo a sua antiguidade, origem e função envolvendo os representantes dessas populações e criando o sentimento de pertença e valor, como se fossem um cartão-de-visita da localidade.
José Serrano