João Dias 51 anos, natural do concelho de Serpa
Licenciado em Enfermagem, com uma pós-licenciatura em Enfermagem de Reabilitação, exerceu a sua profissão durante duas décadas na Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, em Beja, onde coordenou a Comissão de Prevenção e Tratamento de Feridas. Foi consultor da Ordem dos Enfermeiros e da Direção-Geral de Saúde e lecionou nas universidades de Évora e Coimbra. Foi deputado à Assembleia da República entre 2018 e 2024. Atualmente exerce enfermagem no Centro de Saúde de Beja, na Unidade de Cuidados na Comunidade de Beja.
João Dias obteve uma menção honrosa nos Prémios Valor e Excelência 2024, atribuídos, recentemente, pela Ordem dos Enfermeiros.
Como acolheu este reconhecimento?
Com surpresa, uma vez que tudo o que tenho feito tem sido a pensar na promoção dos cuidados de saúde e da minha profissão, nunca no reconhecimento. Depois, com orgulho que acredito ser extensível aos que sem os quais não teria sido possível atingir tão elevada distinção – família, colegas, professores, utentes e todos os que contribuíram, direta ou indiretamente, para este reconhecimento. Este prémio também é deles.
A fundamentação do louvor menciona que “tem sido uma voz ativa na defesa dos direitos dos enfermeiros e da valorização da Enfermagem”. Quais os principais obstáculos impeditivos de um reconhecimento mais justo da profissão?
A falta de vozes ativas que defendam e valorizem a profissão. A enfermagem já tem todos os níveis académicos, da licenciatura ao doutoramento, faz investigação de elevada qualidade, presta cuidados de excelência… No entanto, é necessário que tenha um maior envolvimento na vida política e nas decisões que a afetam. É a partir daí que podem ser criadas as condições para influenciar as políticas de Saúde e o justo reconhecimento da enfermagem. É necessário que os enfermeiros se envolvam, ativamente, nos órgãos de decisão política.
A Ordem dos Enfermeiros recebeu, em 2023, um total de 1689 pedidos de declaração para efeitos de emigração, o que representa cerca de 60 por cento dos 2916 enfermeiros inscritos nesse ano. Reflete-se este fluxo migratório nas necessidades dos cuidados de enfermagem prestados na região?
Em Portugal formamos dos melhores enfermeiros do mundo. Formação, na qual é feito o investimento necessário para assegurar a prestação de cuidados de saúde em Portugal, que depois desaproveitamos, entregando de “mão beijada” esse valioso recurso a outros países que não investiram um cêntimo nessa formação. Tudo isto por não criarmos condições de valorização e dignificação da profissão no nosso país que levassem os enfermeiros a preferirem ficar por cá. Devido a esse “sangramento” verificou-se uma enorme fragilização do Serviço Nacional de Saúde (SNS), como um todo, acabando por afetar, também, a nossa região.
O que é necessário para que este fluxo migratório possa estancar?
A ida de enfermeiros para o estrangeiro resulta da progressiva degradação de condições de exercício profissional no SNS, fruto das políticas de “costas voltadas” para todos os profissionais de Saúde, em particular, os enfermeiros. O que é necessário para estancar o fluxo migratório são políticas, precisamente, contrárias às que têm vindo a ser implementadas. Existe, pois, espaço para o regresso de profissionais ao SNS, incluindo muitos com importante experiência profissional, desde que lhes sejam criadas condições atrativas.
José Serrano