Diário do Alentejo

“Um olhar para o passado com objetivos de futuro”

16 de novembro 2024 - 08:00
Designer Diogo Mestre apresentou coleção na ModaLisboa

Diogo Mestre, 22 anos, natural de Serpa

Saiu aos 17 anos de Serpa rumo à capital. Licenciou-se em Escultura na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, em 2022, e, no mesmo ano, ingressou no mestrado em Design de Moda, na Faculdade de Arquitetura da mesma universidade. O seu gosto pela moda vem desde sempre, aliando-se, mais tarde, com a arte. Mais do que criar roupa, Diogo Mestre pretende “criar narrativas que consigam emergir, de forma profunda, os espetadores no seu universo”.

 

Diogo Mestre foi um dos designers convidados para integrar a 63.ª edição da ModaLisboa, evento que ocorreu em outubro, na capital portuguesa

 

Como nos apresentaria a coleção que, recentemente, exibiu na ModaLisboa?Esta coleção é bastante nostálgica, sendo marcada pela morte do meu avô. É um olhar para o lado mais sentimental da roupa e, ao mesmo tempo, um reinterpretação das peças clássicas de tricô do nosso guarda-roupa, desde as camisolas de criança aos cardigans dos avós. Esta coleção é um “obrigado por terem existido”, um “nunca me esqueço de ti”, mas, também, um “vou continuar a viver”. É um olhar para o passado com objetivos de futuro.

 O que procura, essencialmente, colocar em cada uma das suas criações? Procuro colocar muito significado – gosto de criar peças que contêm uma história. Para lá do querer fazer “roupa”, quero criar peças com que o utilizador se possa conectar a um nível mais profundo. Não quero que seja algo descartável, que dura uma estação e se esquece na seguinte.

 

Quem “pode”, preferencialmente, vestir as suas peças?Quero que o meu público compre as minhas criações porque se identifica e se sente bem com elas. As minhas peças não têm género nem idade. Aliás, nenhumas deveriam ter.

 

Sendo natural de Serpa, quanto de inspiração do seu imaginário alentejano colocou na coleção apresentada nesta ModaLisboa?Muita inspiração. Desde as cadeiras, da minha infância, pintadas à mão, às peças feitas em palha – as franjas que simulam searas ao vento. Todas as referências são uma viagem por quem eu sou e o Alentejo é um elemento, inegável, da minha pessoa.

 As características inerentes à região têm-no ajudado a encontrar um caminho, uma personalidade criativa própria?Têm, claro. O meu trabalho baseia-se muito nas minhas raízes alentejanas. Acredito que a fase da vida em que mais sonhamos é a infância e a minha infância é no Alentejo. Sonho as minhas coleções ainda sendo essa criança.

 Que pode o “mundo da moda” esperar de Diogo Mestre?Muito tricô, muitos sonhos, uma moda muito singela que se concentra na sua própria narrativa. Não posso falar de certezas para o futuro, mas, neste momento, a certeza é a de uma caminhada. Todos os dias mudo de vontades, pois a moda deve ser algo inquietante, que se questiona. É assim que quero continuar, a questionar-me, constantemente, a não ter certezas, a explorar todos os dias o que sou e o que posso ser. José Serrano

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