Diário do Alentejo

Os desafios de envelhecer com paralisia cerebral

20 de outubro 2024 - 08:00
Lar Residencial Dr. Artur Carvalhal, do Centro de Paralisia Cerebral de Beja, tem lista de espera “com mais de 30 pessoas”Foto| Ricardo Zambujo

A “velhice ou incapacidade do cuidador para tratar do familiar com paralisia cerebral” e “o aumento da esperança de vida destes” são fatores “que pesam muito nas respostas sociais existentes”, que enfrentam “grandes listas de espera”. No lar residencial do Centro de Paralisia Cerebral de Beja, que tem capacidade para 22 pessoas – atualmente lotada –. a lista “tem, neste momento, mais de 30 pessoas”.

 

Texto | Nélia PedrosaFoto | Ricardo Zambujo

 

O Observatório Ibérico das Residências (OIR) para pessoas com paralisia cerebral, projeto que envolve cinco associações de paralisia cerebral de Portugal – entre elas, o Centro de Paralisia Cerebral de Beja (CPCBeja) –, e duas de Espanha, abrangendo mais de 300 pessoas e três dezenas de elementos das respetivas equipas técnicas, foi formalmente apresentado na semana passada, no Porto.

O OIR para pessoas com paralisia cerebral “propõe-se estudar, refletir e partilhar as melhores práticas vivenciadas em estruturas residenciais vocacionadas para pessoas com paralisia cerebral”, dado que “a velhice ou incapacidade do cuidador para tratar do familiar com paralisia cerebral e o aumento da esperança de vida destes” são fatores que pesam muito nas respostas sociais existentes nos dois países, que enfrentam “grandes listas de espera”.

A diretora técnica do Lar Residencial Dr. Artur Carvalhal, do Centro de Paralisia Cerebral de Beja, sublinha, em declarações ao “Diário do Alentejo”, que estas pessoas “vivem, cada vez mais, até mais tarde, porque são acompanhados devidamente”, pelo que é necessário encontrar soluções, nomeadamente, de habitação, dado que os pedidos para acolhimento têm vindo a aumentar. No caso do lar residencial do CPCBeja – com capacidade para 22 pessoas, atualmente lotada –, revela Susana Lampreia, a lista de espera “tem, neste momento, mais de 30 pessoas”.

“Temos pedidos a chegar-nos de todo o País. São sempre situações emergentes. Claro que depois temos critérios de colocação – como o não terem quem cuide deles e a condição financeira das famílias. E temos também utentes que já frequentam o centro de paralisia há cerca de 30 anos, em várias respostas sociais, cujos pais foram para lares de idosos ou faleceram, e que, por isso, estão ao cuidado dos irmãos. E não sabemos como é que os vamos acolher [no lar residencial] porque não temos mais capacidade. Não vamos conseguir acudir a estas pessoas que estão a frequentar o centro e que ao fim do dia regressam para as famílias”.

Apresentado o projeto, segue-se, agora, adianta a diretora técnica, a discussão, em grupos de trabalho compostos por técnicos especializados e de diferentes áreas, das quatro temáticas identificadas – saúde, políticas sociais, direitos e prestação de apoio/autonomia funcional. “Estamos aqui numa fase muito inicial, mas a ideia é começar a desenvolver estes temas e fazê-los sair cá para fora e despertar toda a população, os serviços à comunidade, as famílias, as tutelas, fundamentalmente, as tutelas”, refere Susana Lampreia, frisando que, no CPCBeja, irão iniciar-se pela área da saúde, ligada ao envelhecimento, porque, atualmente, é a que mais os “aflige”. “O objetivo é ajudar a nossa população e melhorar também o nosso desempenho. Não é só debater os temas, é também percebermos onde é que podemos melhorar, onde é que estamos a falhar. Como é que poderemos lidar com o futuro destas pessoas. A ideia é que resulte algo concreto destas análises, algo que venha a ter impacto na vida destas pessoas, na sociedade”, conclui.

Para além do CPCBeja, são entidades fundadoras do OIR a Associação do Porto de Paralisia Cerebral, a Associação de Paralisia Cerebral de Lisboa, a Associação de Paralisia Cerebral de Viseu, a Associação Portuguesa de Paralisia Cerebral de Faro e, ainda, a Asociacíon de Familias de Persoas com Parálise Cerebral e o Centro de Atención Integral Amencer-Aspace Vigo.

Segundo a CPCBeja, o observatório “continuará aberto à participação e contributos de mais instituições com intervenção na área da paralisia cerebral, sendo que em termos de futuro está já a ser analisada a possibilidade de alargar o OIR a outras áreas de deficiência”.

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