Diário do Alentejo

Educação para todos

30 de agosto 2024 - 08:00
50 anos de Abril

Texto | Aníbal Fernandes

 

"Atingir um curso superior e conclui-lo, é ainda ambição impossível de concretizar para os estudantes pobres do nosso País”. É assim que a “Nota do Dia” da edição do “Diário do Alentejo” de 26 de agosto de 1974 traça o retrato do estado da educação em Portugal, há 50 anos.E continuava: “A verdade é que, concluído o curso complementar do ensino liceal ou médio, os nossos estudantes que pretendam ingressar no escalão universitário vêem-se impedidos de tal se os seus pais não dispuserem de suficientes recursos económicos, o que acontece na esmagadora maioria” dos casos.

Nem de propósito: a meio de agosto deste ano (14/08/2024), foi divulgado um estudo realizado pelo ISCTE que revelava que frequentar o ensino superior nos nossos dias, em Portugal, custa, em média, 900 euros por mês, verba que, tendo em conta os salários em Portugal, pode deixar muita gente de fora.

No entanto, os números do Pordata, cinco décadas depois, mostram que a realidade é substancialmente diferente do que era na altura do 25 de Abril.

Senão, vejamos: em 1978, cerca de 81 mil estudantes frequentavam o ensino superior e politécnico, em 2023, foram contabilizados mais de 445 mil, dos quais 81 por cento frequentam escolas públicas e apenas 19 por cento o privado; há 50 anos, apenas cinco por cento da população tinha frequentado o ensino secundário, enquanto em 2023 essa percentagem subiu para 88; e até no pré-escolar passou-se de uma taxa de cobertura de oito por cento para 93 por cento.

Escrevia na altura o articulista do “DA”: “Perdem-se assim talentos, vocações que, devidamente estimuladas e aproveitadas, como deveria sempre acontecer, serviriam grandemente a cultura e o desenvolvimento científico do País. Da democratização do ensino nacional nos seus vários sectores, só há pouco começou a falar-se, a ser apontada e a reconhecer-se não só como uma necessidade como, também, uma justiça que se deve aos jovens portugueses, principalmente àqueles que possuem verdadeiras qualidades de inteligência e de trabalho. (…) Esperemos que se entre agora numa ampla e operante acção que conduza a esses salutares objectivos”, concluía o autor do texto. E, já agora, digo eu, que, nos dias de hoje, acabados os estudos superiores, os nossos jovens não tenham de procurar no estrangeiro um trabalho que lhes proporcione uma vida digna.

 

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Terça-feira, 27 de agosto de 1974: “Consta que está assegurada a construção do edifício definitivo para a Escola Preparatória Mário Beirão, de Beja, o qual se localizará nos terrenos próximos ao hospital distrital”, in Zunzuns das Portas de Mértola.

 

Sexta-feira, 30 de agosto de 1974: “Não sem encontrar forte resistência dos sectores mais reaccionários, especialmente da Igreja, está a decorrer no norte do País uma campanha de alfabetização a cargo de brigadas de jovens estudantes, empenhados em· libertar o povo da ignorância que, durantes 48 anos, foi suporte para a vigência de um regime de opressão fascista”, in fotolegenda na capaQuarta-feira, 28 de agosto de 1974: “Segundo dados relativos a 1973, incluídos no 45.º volume das ‘Estatísticas Demográficas’, recentemente editado pelo Instituto Nacional de Estatística, 79 517 portugueses emigraram legalmente durante o ano passado. A Alemanha Ocidental foi o principal destino da emigração legal, recebendo, segundo os números provisórios do INE., 31 479 emigrantes portugueses. Os emigrantes não controlados que, durante 1973, trocaram o país pelas terras de França representou mais de metade do total anual da emigração legal, atingindo 40 502”. 

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