Diário do Alentejo

Beja: centro de abrigo temporário noturno já está a funcionar

18 de fevereiro 2024 - 12:00
Alojamento operará até dia 15 de março, “no limite”Foto | Ricardo Zambujo

As pessoas em situação de sem-abrigo que pernoitavam no antigo “edifício da Refer”, em Beja, foram transferidas na passada segunda-feira, dia 12, para os 11 contentores instalados no Estádio Flávio dos Santos. Segundo Marisa Saturnino, vereadora da câmara municipal, trata-se de uma resposta “social” e “temporária” que visa a autonomização, transição e estabilidade, “de uma forma mais digna”, dos que estão nesta circunstância precária, e não uma tentativa de criação de um novo “gueto” na cidade.

 

Texto | Ana Filipa Sousa de SousaFoto | Ricardo Zambujo

 

O antigo “edifício da Refer”, em Beja, começou a ser “limpo exteriormente”, na passada sexta-feira, dia 9, esperando-se que, nos próximos dias, o mesmo aconteça no seu interior. As pessoas em situação de sem-abrigo que o ocupavam, atualmente “perto de 30”, foram transferidas na segunda-feira, dia 12, para os 11 contentores do novo centro de abrigo temporário noturno localizado no Estádio Flávio dos Santos, onde deverão permanecer “até 15 de março, no limite”. O intuito, além da desocupação e interditação do edifício, passa, essencialmente, por terminar com a “insegurança e insalubridade”, assim como solucionar o problema habitacional daqueles que lá pernoitavam.

Segundo a vereadora da Câmara Municipal de Beja, Marisa Saturnino, durante o tempo em que o centro estará a funcionar “os técnicos [do Núcleo de Planeamento e Intervenção Sem-Abrigo de Beja (Npisa)] que acompanham as pessoas vão trabalhar no sentido de se arranjar uma resposta habitacional ou de se conseguir integrá-las em CAES [centros de alojamento de emergência social], caso existam vagas”, o que, de momento, não é possível. “As pessoas que vão para o centro de abrigo noturno temporário são pessoas que estão referenciadas e são acompanhadas pelos serviços e nós fizemos muito bem essa triagem, no sentido de acautelar que não há problemas de maior naquele espaço. Há pessoas que têm empregos com contratos de trabalho e que a empresa que os contratou não acautelou e não colaborou na procura de habitação e, depois, quando dizem que são imigrantes ninguém lhes quer arrendar uma casa, mas também há outros problemas, nomeadamente, pessoas [portuguesas] que não trabalham e que estão em situação de sem-abrigo há muito tempo e casos ligados à toxicodependência e à prostituição que, neste momento, vão ser encaminhadas para outro tipo de resposta”, esclarece.

Quanto à localização do centro, que a vereadora frisa ser “temporário”, foi a “alternativa” encontrada pelo município para “não comprometer a prática desportiva do concelho”, algo que iria acontecer se o alojamento “destas pessoas” fosse feito em pavilhões, assim como “noutras infraestruturas da câmara que servem a comunidade”.

 

“Não queremos criar guetos”

 

Para a vereadora responsável pela Divisão do Desenvolvimento e Inovação Social, é importante salientar que o centro de abrigo temporário noturno é um “apoio social” que está a ser dado, “neste momento”, às pessoas que estão nesta situação precária e que será uma ajuda na sua “transição e estabilização” de forma “mais digna dentro da comunidade bejense ou noutra comunidade qualquer”.

“É preciso trabalhar no sentido de conseguirmos arranjar condições de dignidade e também de higiene e segurança para estas pessoas, [porque só assim temos] uma comunidade mais solidária, humanista e, simultaneamente, uma comunidade que olha para todos. Estas pessoas estão integradas na nossa comunidade, portanto, fazem parte dela, e se fazem parte dela, e não foi acautelado que estariam cá com dignidade, alguém tem de fazer por isso e esse alguém também é o município”, garante.

Além disso, Marisa Saturnino recorda que o novo centro, constituído por nove espaços de pernoita “com beliches e camas de casal”, um de higiene e outro de segurança e logística, terá durante o seu funcionamento uma empresa que acautelará a segurança dos inquilinos e da comunidade em geral, assim como “policiamento de proximidade”.

“É para isso que estamos a trabalhar com estas pessoas, não queremos criar ali guetos. Estamos a fazer os esforços para conseguirmos dar um caminho a estas pessoas e é nessa perspetiva que a comunidade bejense deve sentir-se segura, porque insegurança e insalubridade era o que tínhamos no ‘edifício da Refer’”, salienta.

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