Diário do Alentejo

“Portugal é um país riquíssimo em material humorístico”

10 de fevereiro 2024 - 08:00
“Período de legislativas vai ser uma mina de ouro”, diz Kenny Simões
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Texto José Serrano

 

Kenny Simões, 29 anos, natural de Ferreira do Alentejo

 

É comediante de stand-up, filho de professores, designer gráfico e um “músico bastante fraquinho”, fazendo parte de bandas de rock, durante 10 anos, como guitarrista e vocalista, o que o levou a apaixonar-se pelo palco. Em 2017 terminou uma licenciatura em Artes do Espetáculo na Universidade de Lisboa e, simultaneamente, um curso em Design Gráfico, na Escola de Tecnologias Inovação e Criação. Em 2022 decidiu fazer stand-up pela primeira vez: “Nunca mais gostei tanto de mais nada”. 

 

Kenny Simões tem vindo a conquistar milhares de seguidores nas redes sociais através de breves sketches humorísticos que partilham o “tenha calma”, o sotaque e “as inquietações” do povo alentejano.

 

Apresenta-se na sua página de Instagram (https://www.instagram.com/kennystones/) como “alentejano, portanto, humorista”. De que forma é esta consequência inevitável?No Alentejo há uma concorrência enorme de gente engraçada que, felizmente, para o meu sustento, não se reconhece como tal. É muito difícil encontrar alguém, na região, que não tenha alguma perspicácia humorística. Qualquer pessoa que cresce no Alentejo pratica o humor desde muito pequeno. Orgulho-me das vezes que consegui fazer a minha turma rir-se nas aulas. Mas acho que todos os colegas, até os mais tímidos, conseguiram fazer isso, pelo menos uma vez. É terrível ser-se professor no Alentejo.

 

A sua naturalidade alentejana é suficiente para providenciar um bom set up para os seus espetáculos de stand-up ou tem de recorrer a outras fontes de inspiração? Claro que o facto de ser alentejano é uma fonte para o meu texto humorístico. Mas seria um comediante muito limitado se não me fosse inspirar a outros lados, também. Eu tento ver “o engraçado” em tudo. Vejo o ridículo nos pormenores do quotidiano, nas notícias, nos grandes e pequenos temas e, especialmente, em mim próprio e na minha vida. Que é, por si, bastante ridícula.

 

Assim que se lhe apresenta consegue detetar facilmente o que pode vir a ser bom material humorístico? Portugal é um país riquíssimo em material humorístico, especialmente, na nossa política. Não me lembro duma altura em que estivéssemos pobres de coisas engraçadas a acontecer. Tenho a sensação de que este período de legislativas vai ser uma mina de ouro. Talvez o mês de agosto seja chato, que o pessoal está de férias. Mas também é para isso que se entrevistam pessoas nas praias.

É alentejano e inventa piadas sobre alentejanos. Rirmos de nós próprios é mesmo o melhor remédio?O melhor remédio é capaz de ser ibuprofeno. Também gosto de actifed, mas dá-me sono. Rir também é giro. Eu acho que uma pessoa que se sabe rir de si própria é uma pessoa bem resolvida. Ou, pelo menos, uma pessoa conformada. Eu sempre admirei isso na nossa cultura alentejana. Orgulho-me disso e espero que continue assim. Muitas culturas não suportariam ser o alvo de tanta piada, quanto mais conceber essas mesmas piadas.

 

O que mais o faz rir?Pessoas que se levam demasiado a sério e condescendência, que é hilariante. Acho que sempre foi por isso que tive problemas em ambientes de escritório e na faculdade. Vejo muito humor em coisas controladas e discursos preparados que não têm espaço para erro. Políticos e pessoas que têm cargos que usufruem de minúsculos poderes. Tudo isso para mim é um fartote. Também me faz rir um bom “tralho”, até quando sou eu a dá-lo. 

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