Diário do Alentejo

O trigo, o vinho, o azeite…

26 de janeiro 2024 -
50 anos de Abril

Texto Aníbal Fernandes

A produção vitivinícola é hoje – a par do olival e da pecuária – um sub-setor de excelência da agricultura do Baixo Alentejo. Mas nem sempre assim foi.

Na “Nota do Dia” da edição de 25 de janeiro de 1974 lia-se que “o problema dos vinhos do Alentejo” exigia “o alargamento do plantio de vinhas em zonas adequadas”. Isto a propósito de uma notícia, publicada com destaque na última página da edição do “Diário do Alentejo” dois dias antes, em que se dava conta de uma intervenção do engenheiro agrónomo e vereador da Câmara Municipal de Beja, Joaquim Sampaio, em que o edil dizia não se compreender que, “‘numa região votada a continuar a ser agrícola, o que quer dizer pobre e despovoada’, (…) o plantio da vinha e respectiva produção sejam aqui interditos ou mesmo drasticamente condicionados”.

O protesto do autarca e agricultor não era de somenos e justificava-se pelo facto de, no dia 29 do mesmo mês, começar a ser discutida na Assembleia Nacional, em Lisboa, a proposta de lei sobre o regime de condicionamento do plantio da vinha.

No “Diário do Alentejo” antecipavam-se argumentos a favor da autorização e criticavam-se “as chamadas forças vivas da região” pela pouca persistência e energia em defesa deste objetivo.

Assim, “a larga faixa alentejana oficialmente reconhecida como dotada de invulgares aptidões para a produção de bons vinhos (Moura, Serpa, Vidigueira, Cuba, Alvito, Redondo, Borba, Reguengos de Monsaraz, etc., etc.) continua sem o aproveitamento exigido pela valorização económica regional, negando-se ao Alentejo o que prodigamente e com muito menor fundamento se tem concedido a outras províncias. Ao Alentejo, que é uma zona essencialmente agrícola e por cujo incremento industrial – tido como tão necessário – as estâncias governativas não têm mostrado qualquer interesse positivo!”.

“A proposta de lei sobre o regime de condicionamento do plantio de vinha, (…) encerra matéria que, longe de atender as justas aspirações dos viticultores alentejanos ou dos lavradores que pretendam ingressar nesse número, os prejudica largamente (ainda maiis!)”, concluía o articulista. De volta a Joaquim Sampaio, o edil “aludiu também aos interesses antagónicos existentes entre o Norte e o Sul e que têm levado o Alentejo a ser continuamente preterido em matéria de plantação de vinhas, dado que (…) o Norte tem sabido (naturalmente) defender os seus interesses, o que não tem acontecido em relação ao Alentejo (‘Nós costumamos ser largamente vencidos quando se põem em confronto o Norte e o Sul’) e assim, o Norte tem hoje o privilégio de produzir quase todo o vinho nacional”. Um cenário que, entretanto, mudou.

Também o trigo, fruto da crise energética, estava na berlinda. A questão era a “escassez de petróleo” que afetava o comércio mundial deste cereal, nomeadamente, no transporte marítimo (tal como hoje…).

E no azeite, idem, idem, aspas, aspas. “Alguns proprietários de lagares de azeite (…) foram punidos com severas multas por especulação com preços de azeite novo. A fiscalização descobriu que vendiam o referido azeite a 45$00 o litro (mais ou menos, 200 vezes menos do que preço atual) e atribuiu-lhes multas de dez a trinta contos. Esta situação resulta do facto de a safra actual ser inferior à do ano passado, o que obrigou os pequenos lavradores a venderem a sua produção aos grandes proprietários, que, por sua vez, arrecadam o produto à espera de melhores ofertas do mercado”.

Entretanto, na sexta-feira, “o professor Amba, hipnotizador e mentalista com trabalhos de reconhecido mérito artístico, estará no Pax Júlia, para um espectáculo em que apresentará sugestivos números de telepatia psíquica”.

Faltam 89 dias para o 25 de abril

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