Diário do Alentejo

A identidade dos aljustrelenses “continua valorizada”

14 de janeiro 2024 - 08:00
Aljustrel – 5000 anos de História, um livro de Eduardo Moreira

Eduardo Maria Moreira, 90 anos, natural de Lisboa

 

Foi para Aljustrel com nove meses. Começou a trabalhar nas minas aos 14 anos, primeiro como ajudante de serralheiro mecânico, depois nos serviços topográficos, geologia e arqueologia. Em 1962 foi contratado para o reconhecimento geológico de Moçambique. Regressou em 1974, contratado pela administração das minas de Aljustrel para aí trabalhar como encarregado geral dos serviços de construção e obras, tendo, também, à sua responsabilidade o museu mineiro, geológico e arqueológico da empresa Pirites Alentejanas, do qual foi cofundador.

 

Eduardo Moreira apresentou recentemente, na Biblioteca Municipal de Aljustrel, o seu novo livro, intitulado Aljustrel – 5000 anos de História, o qual pretende, de acordo com o autor, dar a conhecer o património cultural do concelho e sensibilizar para a sua preservação.

 

Como nos apresenta este seu livro?

Este meu novo livro, tal como os anteriores, versa, sobretudo, sobre a história mineira deste lugar que hoje se chama Aljustrel, desde o período Calcolítico (Idade do Cobre) até aos dias de hoje. Todos os povos que passaram, ao longo de milhares de anos, por este lugar, entre os quais os celtas, os iberos, os romanos e os árabes, deixaram vestígios da sua passagem, no que diz respeito à exploração mineira. Com este livro pretendo dar a conhecer aos meus patrícios, atuais e vindouros, não só a riqueza milenar mineira, geológica e arqueológica de Aljustrel, mas, também, a sua história, no que diz respeito à agricultura. Neste livro abordo, ainda, os principais recursos físicos, culturais, económicos e sociais de Aljustrel, procurando estabelecer uma ponte com o passado.

 

É este livro dirigido, fundamentalmente, a académicos ou pretende esta obra entusiasmar, na sua leitura, um público-alvo mais abrangente?

Este livro é dirigido a todos aqueles que se interessam pelas matérias nele abordadas e, sobretudo, pretende dar a conhecer, aos meus conterrâneos, todo o património cultural deste riquíssimo concelho, sensibilizando-os para a sua preservação.

 

Ao longo destes cinco milénios pelos quais o seu livro viaja, quais os principais acontecimentos que marcaram, de forma indelével, a “personalidade” de Aljustrel?

Foi, sem dúvida nenhuma, em primeiro lugar, a exploração mineira. A agricultura também teve um papel muito relevante na vida dos aljustrelenses, o que é testemunhado pelos inúmeros moinhos de vento que existiram na região e que, infelizmente, apenas um, dos 10 que se encontram em ruínas, foi restaurado. Ainda hoje os habitantes de Aljustrel vivem, sobretudo, desses dois setores de atividade.

 

Considera que a identidade ancestral dos aljustrelenses, assente na história e na cultura próprias do território, permanece valorizada?

Considero que continua muito valorizada, pois, se assim não fosse, as minas de Aljustrel não seriam uma das maiores da Europa, na extração de pirite de ferro cuprífera da qual se extrai, atualmente, em grande quantidade, cobre e zinco e, em menor quantidade, chumbo e estanho.

 

Como classifica a importância de um povo conhecer a sua própria história, na tomada de decisões benéficas no presente, visando um futuro sustentável do território?

Um povo que é conhecedor da sua história está mais bem preparado para o presente e para o desenvolvimento de projetos futuros, tendo em conta os êxitos e os erros do passado. Felizmente, foi criada uma associação de defesa do património de Aljustrel, denominada Do Fundo à Superfície, que, na minha opinião, já devia existir há muito tempo. Aljustrel vive da mina, mas o minério um dia acabará. O que restará à vila será o seu grande património, se ainda existir.

 

Texto | José Serrano

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