Diário do Alentejo

Academia Nacional de Belas Artes reconhece banda desenhada

20 de outubro 2023 - 09:35
Instituição recebe Paulo Monteiro como novo membro
Foto| Ricardo ZambujoFoto| Ricardo Zambujo

A Academia Nacional de Belas Artes reconhece a banda desenhada como forma superior de expressão da cultura e acolhe Paulo Monteiro, responsável pelo Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja, como membro da instituição. O autor de BD considera que esta distinção poderá ser benéfica para a cidade, conferindo-lhe, no âmbito desta arte, uma notoriedade acrescida.

 

Texto José Serrano

 

A banda desenhada, o cinema e a dança incorporam, desde a passada quarta-feira, a Academia Nacional de Belas Artes pelo valor artístico e cultural que acrescentam à cultura portuguesa. Na sessão solene, presidida pelo ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, procedeu-se à integração dos dois primeiros académicos na área da banda desenhada (BD), Penim Loureiro e Paulo Monteiro, sendo este o responsável pelo Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja.

Para o reconhecido autor de BD, esta distinção é mais um passo decisivo na credibilização da “nobre arte de contar histórias com imagens desenhadas” e dos seus autores, vistos, durante muito tempo, “como uns tipos que faziam uns ‘bonequinhos’. Felizmente, este preconceito tem vindo a ser desconstruído”, sublinha. Esta entrada para a Academia é também fundamental, considera, para a aproximação a outros países da Europa, “desde há anos” com estatuto académico. “A história da BD portuguesa tem uma riqueza incalculável, representa um património artístico que não podemos descurar e há que dá-la a conhecer a outros países. Nós, responsáveis pela Bedeteca de Beja, temos feito variadíssimas conferências, um pouco por toda a Europa, dando a conhecer o trabalho de artistas nacionais, clássicos e contemporâneos”. Mas esta parcela de divulgação que cabe à Bedeteca de Beja, diz, “é pequena, o movimento tem de ser muito mais alargado”, sendo que esta elevação se constitui, na persecução desse objetivo, “como um passo muito importante”.

Paulo Monteiro acredita que esta relevância dada à BD portuguesa poderá vir a fortalecer “o importante e reconhecido trabalho que tem vido a ser desenvolvido” em Beja, beneficiando a cidade, “que tem uma dinâmica muito particular, neste domínio”. Para tal, crê ser fundamental continuar “a atividade regular da Bedeteca, levando o trabalho que desenvolvemos além-fronteiras” e a investir no Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja, reconhecido na Europa e mais além. “Na última edição, recebemos uma equipa de jornalistas que fez uma peça sobre o festival, que passou na ‘TV Globo’, e uma outra, vinda de Espanha, com a publicação de uma grande reportagem, no ‘El País’”. Paulo Monteiro acentua o momento de “enorme e inigualável pujança” que a BD portuguesa atravessa e reitera a importância de Beja no centro deste movimento, tal como está Lisboa e Amadora.

“É, realmente, um momento muito excitante que estamos a viver”, energizado com a intensa procura de público pelas “chamadas novela gráficas, que são, apenas e só, BD, mas que, de alguma forma, se acabam por colar à linguagem própria da literatura”, com os autores a apostar em narrativas mais longas, com uma mais profunda densidade. Nesse sentido, diz, o País está abrir-se à BD, compreendida “a mais-valia cultural, financeira e promotora das localidades” que representa, com o “próprio poder político” a olhar para esta arte “de outra maneira”. “Não vamos, tão cedo, em Portugal, sair deste contexto, desta explosão. Já se assistiu a este momento em outros países europeus e, até agora, não se retraiu. Ler BD em França, na Bélgica ou em Espanha é tão natural como ir ao cinema e isso vai acontecer entre nós”.

Sobre o futuro Museu da Banda Desenhada de Beja, Paulo Monteiro expõe: “Os projetos de museografia e de arquitetura estão feitos e o acervo está reunido – porque esta ideia surgiu há, quase, oito anos, já é algum tempo. Eu acredito que sim, que as coisas caminhem no bom sentido”. Com esta perspetiva, o novo membro da Academia Nacional de Belas Artes, instituída em 1836 pela rainha D. Maria II, hoje sob a tutela da Secretaria de Estado da Cultura, diz ser sua intenção apresentar a este organismo uma proposta de solenização, “de uma forma digna”, no âmbito do centenário de Jayme Cortez, um dos mais considerados artistas portugueses de BD, que se celebra em 2026. “Poder apresentar essa celebração no Museu da Banda Desenhada de Beja seria maravilhoso”, conclui.

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