A Câmara Municipal de Odemira abriu em finais de julho um concurso para a prestação de serviços de transporte de água em camiões cisterna. No entanto, ao contrário do que se poderia pensar devido à seca, este é um procedimento normal a que o município recorre para abastecer montes e povoações que não beneficiam da água da barragem. Na albufeira, a água está a metro e meio de ficar na cota a partir da qual apenas será utilizada para consumo humano.
TEXTO ANÍBAL FERNANDES
A barragem de Santa Clara, segundo o boletim semanal da Agência Portuguesa do Ambiente, encontra-se com apenas 31 por cento da capacidade preenchida, quando a média das últimas três décadas é de cerca 70 por cento.
Em termos gerais, o armazenamento no fim de setembro, por bacia hidrográfica, apresentava médias superiores às médias de armazenamento do período entre 1990/91 e 2021/22. Por exemplo, a bacia hidrográfica do Guadiana estava a 66,6 por cento, quando a média é 61,6. No entanto, as bacias hidrográficas do Vouga, Sado, Mira, Ribeiras do Barlavento e Ribeiras do Sotavento, estavam muito abaixo da média do mesmo período.
Neste momento a cota da albufeira de Santa Clara está nos 105,6 metros e aproxima-se, perigosamente, da cota 104, a linha vermelha traçada pelo ministro do Ambiente e Ação Climática para a suspensão do abastecimento a todas as atividades – agricultura e indústria – à exceção do abastecimento humano. Neste metro e meio de água, segundo cálculos efetuados pelo semanário “Expresso”, estarão cerca de 13,5 milhões de metros cúbicos do precioso líquido. Ainda segundo a mesma fonte, assistiu-se a uma redução drástica no uso de água pelo setor agrícola – de 26 milhões de metros cúbicos, em 2021, para 14 milhões, em 2022/23 –, mas até setembro já teriam sido gastos 9,4 milhões do total autorizado.
Segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera, nos próximos 10 dias, na zona de Odemira, a temperatura máxima andará sempre à volta dos 30 graus – com o pico no próximo fim de semana a atingir os 34 graus. Já quanto à pluviosidade, a previsão é de zero.
TRANSPORTE DE ÁGUA
A Câmara Municipal de Odemira abriu em finais de julho um concurso para o fornecimento do serviço de transporte de água em camiões cisterna para abastecimento público, com o preço base de 72 600 euros. Hélder Guerreiro, presidente da autarquia, explicou ao “Diário do Alentejo” que esta iniciativa é um “procedimento normal” do município que assegura o abastecimento de água a alguns “locais isolados” do concelho que, habitualmente, são servidos com recurso a furos e poços, mas que, “entretanto, secaram”.
O autarca garantiu que o abastecimento aos aglomerados populacionais abastecidos diretamente pela barragem, “mesmo que não chova, estão assegurados por este ano e mais dois”. No entanto, informa o presidente, a Direção Regional de Agricultura do Alentejo tem em curso um processo para a instalação de uma jangada na albufeira, o que vai permitir que a extração da água se faça a uma cota mais baixa do que atualmente. Hélder Guerreiro acredita que a obra possa ficar concluída no prazo de dois anos.
ALGUNS NÚMEROS
Há uma década, a água na albufeira de Santa Clara estava nos 125,9 metros. Um ano depois subiu aos 126,8, mas daí para cá – com a exceção de 2018 (118 metros) – foi sempre a descer até aos atuais 105,6 metros.
Ao mesmo tempo, o peso das explorações de frutos vermelhos na área irrigada por esta albufeira passou de 4,9 por cento, em 2013, para 24,8 por cento, em 2022. No entanto, o consumo médio de água na agricultura é hoje quase metade (2,6 mil metros cúbicos por hectare) do que era em 2012 (4,8 m3/há).
25 MIL EUROS PARA APICULTORES
Os apicultores afetados pelo incêndio de maio em Odemira, Monchique e Aljezur vão ter direito a um apoio de 6,80 euros por colmeia, desde que o respetivo apiário se situasse a menos de 1,5 quilómetros da mancha ardida. O valor total deste apoio publicado em “Diário da República” ascende a 25 mil euros e justifica-se por “os referidos incêndios [terem comprometido] a alimentação das abelhas das explorações apícolas cujos apiários se situam na proximidade das áreas ardidas, privando as abelhas do alimento natural que estas áreas lhes proporcionavam”, lê-se no despacho do Ministério da Agricultura. Para se candidatarem à ajuda, os pedidos devem ser apresentados no prazo máximo de 30 dias úteis após a data de publicação do presente despacho normativo junto da Direção Regional de Agricultura e Pescas (DRAP) territorialmente competente, instruído com uma ficha de declaração de prejuízos.