Promover hábitos de vida saudáveis, fomentando as caminhadas a pé de casa até à escola e criar “boas memórias” são os objetivos principais do recente projeto municipal “Vamos andando… para a escola” em Castro Verde.
Texto Ana Filipa Sousa de Sousa
Assim como é habitual com o início de mais um ano escolar, os casacos e as mangas compridas começam a deixar antever a chegada do outono. Os pequenos olhos inchados do sono e as vozes roucas não enganam que estão acordados há pouco mais de uma hora e as mochilas às costas são o sinal de que está prestes a começar mais um dia de aulas.
Na vila de Castro Verde, a chegada do novo ano letivo trouxe também para os alunos do 1.º ciclo do ensino básico a oportunidade de “adotarem um estilo de vida mais saudável e amigo do ambiente”, através de caminhadas, acompanhadas por responsáveis, entre as suas casas e as escolas.
“Bom dia! Estão com muito sono?”, ouve-se aquando da segunda paragem.
O projeto “Vamos andando… para a escola”, promovido pela Câmara Municipal de Castro Verde, surge com o propósito de “proporcionar aos pais que estejam interessados e que gostariam que os seus filhos fossem a pé para a escola, e que por algum motivo não têm condições nesta idade de os acompanhar diariamente, a possibilidade destes o fazerem em conjunto com outras crianças e com uma supervisão de alguém em quem podem confiar”, explica ao “Diário do Alentejo” o vice-presidente do município, David Marques.
“Sabem que dia é hoje?”, questiona a responsável enquanto se sobe a rua em direção à Basílica Real. Sem ter que esperar muito tempo, as respostas começam a surgir. “É o dia sem carros”, responde um. “Hoje só podemos andar a pé ou de bicicleta”, interrompe outro. De repente um turbilhão de vozes começa a fazer-se soar.
O intuito, além de estimular a atividade física dos mais novos, passa também por permitir que estes tenham um maior conhecimento dos espaços que os rodeiam, assim como “guardar boas memórias destas caminhadas matinais e de tarde com os seus colegas”.
“[Estes percursos são] algo que as crianças teriam de fazer, mas que [no projeto] o fazem de uma forma partilhada e com uma relação mais direta com o espaço onde vivem, cortando aquela dinâmica de casa/escola e escola/casa. O que queremos é oferecer-lhes condições para que sejam ativos, com um bem-estar físico que, depois, naturalmente, tem reflexos no bem-estar mental e social”, realça o autarca.
A iniciativa, que arrancou no passado dia 19, conta com dois percursos distintos, devidamente assinalados e com horários específicos, que terminam/iniciam, consoante a altura do dia, nos centros escolares Dr. Francisco Alegre e n.º 1 de Castro Verde. Segundo David Marques, a frequência do projeto tem assegurada também a disponibilização de “capas e chapéus de chuva” para os dias em que for necessário, salvaguardando que, “se chover, e os pais entenderem que nesse dia a criança não participa, não há problema”.
O ESPELHO DA MUDANÇA
Para o também vereador com o pelouro do Desporto, o “Vamos andando… para a escola” tem um carácter diferenciador relativamente às demais atividades desenvolvidas na área da promoção da saúde, pelo facto de ser “diário, de continuidade e permanente” e de, consequentemente, ser um forte influenciador.
“É uma iniciativa que estamos a arrancar e que acreditamos que pode mudar algumas atitudes e comportamentos, não só dos mais novos, mas também dos mais velhos, que, pelo exemplo das crianças, são incentivados a escolher a opção de deixar o carro parado e a optar por escolher uma outra via”, refere. E acrescenta: “Nós não queremos impor nada a ninguém, simplesmente queremos oferecer esta alternativa, porque acreditamos que é algo que responde a vários desafios, entre eles a promoção de qualidade de vida, o convívio e a relação com o espaço e a própria comunidade”.
O caminho até à escola, nos dois percursos, demora em média 40 minutos, tendo pelo meio sete/oito paragens cada um. O trajeto é o mesmo ao final da tarde. De acordo com David Marques, ainda que a adesão esteja a ser positiva, atualmente com 28 crianças inscritas, “a participação não é exatamente nessa medida, mas acreditamos que agora estes primeiros dias vão ajudar a que outros se juntem ao projeto”.
“Não queremos de todo recuar no tempo, este não é um projeto de recuar para a altura onde se faziam grandes caminhadas para se chegar à escola. Há evidências que demonstram que a caminhada diária é algo que contribui para o nosso bem-estar e nós queremos que as caminhadas e a utilização do espaço público façam parte do crescimento destas crianças”, frisa.
Com o aproximar dos portões da escola os olhos curiosos começam a ficar mais arregalados. Às vozes, outrora tímidas e frágeis, juntam-se agora também gargalhadas à mistura, por uma ou outra graça contada por uma das crianças. A entrada no recinto escolar faz terminar mais uma caminhada matinal. “Encontramo-nos à tarde!”, despede-se a responsável.
“Queremos envolver a comunidade neste projeto”
Segundo o vice-presidente da Câmara de Castro Verde, o “Vamos andando… para a escola” tem ainda programado uma segunda fase de seleção e criação de uma rede de voluntários de acompanhamento. Assim, “para este projeto crescer e para que tenha sustentabilidade, o ideal é criar uma bolsa ou interligar bolsas de voluntários [com] pais/avós que, tendo tempo, estão disponíveis para acompanhar estes percursos”, fazendo com que este se mantenha “contínuo no tempo”.
“O processo de inscrição é muito simples”
Os pais/encarregados de educação interessados podem inscrever os seus educados através do formulário on line, sendo que, posteriormente, os serviços da autarquia “contactarão os pais no sentido de esclarecer todas as dúvidas que possam existir, informar sobre os percursos e as condições de cada um”, sublinha ao “Diário do Alentejo” o vereador da Câmara de Castro Verde, David Marques.