Diário do Alentejo

“Uma mensagem de alerta para a problemática da poluição”

13 de agosto 2023 - 11:00
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Bruno Costa tem 42 anos e é natural de Vila Chã, no concelho de Vila do Conde. É fotógrafo, videógrafo, designer, artesão, escultor. Desde 2019 que aprofunda as questões da sustentabilidade das praias, enquanto modo de vida piscatório, específico e tradicional, e no que diz respeito à poluição e biodiversidade. É coautor do “Mar de Experiências”, projeto no qual explora a sua vertente artística com a ilustração de livros, jogos, vídeos de animação e documentários, além da criação de instalações artísticas, com lixo, cujas obras podem ser admiradas em várias cidades do País.

 

No âmbito das várias iniciativas que assinalam os 300 anos da morte de soror Mariana Alcoforado, inaugurou a obra, elaborada a partir de lixo reciclável,  que celebra a memória da freira bejense e das Cartas Portuguesas.

 

Texto José Serrano

 

Como nos apresenta este seu trabalho representativo do busto de Mariana Alcoforado?

Na maioria das minhas instalações criadas com lixo procuro seguir a orientação “isto é lixo que nos conta história”. Esta instalação, em particular, resulta da apanha de lixo efetuada na festa Ageas Seguros e do desafio que esta instituição me lançou para transformar esse mesmo lixo numa peça que retrata Mariana Alcoforado. Foi um trabalho que me deu muito prazer fazer, principalmente, por me ter permitido perceber quem foi esta personalidade de referência de Beja.

 

Existe neste seu trabalho, criado a partir de resíduos, materiais e objetos sem função que artisticamente reciclou, uma preocupação ambiental e ecológica latente que pretende partilhar com o público?

Com estes trabalhos pretendo consciencializar para a quantidade de lixo que existe de forma desorganizada, para a forma digna que podemos dar ao lixo que produzimos, mas também para a questão histórica. Acredito que a história e a ciência são fundamentais para resolver a problemática da poluição. O facto de não criarmos uma ligação ao nosso meio envolvente gera uma sensação de que esse espaço não é nosso. A história traz-nos a ligação emocional ao meio, através de pessoas, locais ou mesmo edifícios e todos sabemos que quando a nós diz respeito, cuidamos.

 

São a personagem de Mariana Alcoforado e as suas Cartas Portuguesas, intrinsecamente ligadas a uma devastadora paixão, inspiradoras para um artista?

Claro que sim. O amor é um pilar central da vida. Perceber o que foi a história de soror Mariana Alcoforado é um misto entre sentir paixão e tristeza. É perceber que ela viveu a leveza da paixão e o peso incomensurável da tristeza. O desafio de criar emoções em bustos criados com lixos é grande, ainda mais quando se procura transmitir emoções como as que Mariana Alcoforado viveu, tão intensas e contrastantes. Além disso, não dispunha de diversidade de referências ao nível de imagens desta personalidade, procurando pôr no olhar a expressão da esperança.

 

O que mais gostaria que esta “sua” Mariana possa entregar a quem com ela se encontre na Casa da Cultura de Beja?

Gostaria que esta Mariana consiga transmitir uma mensagem de alerta para a problemática da poluição e dar a entender que o lixo pode e deve ser tratado de forma digna.  

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