Três Perguntas a Alice Fonseca, Técnica da Associação de Defesa do Património de Mértola (ADPM)
Texto José Serrano
Decorreu, na passada semana, em Évora, o seminário “A escassez hídrica no Alentejo”. A ADPM, parceira do projeto “Alentejo – Clima em Escassez Hídrica”, foi uma das entidades representadas. Que desafios se colocam no âmbito da escassez hídrica do Baixo Alentejo?
O Alentejo enfrenta grandes desafios de disponibilidade hídrica, que tendem a agravar-se. Dos cenários climáticos para a região, segundo a Estratégia Regional de Adaptação às Alterações Climáticas, são expectáveis alterações na temperatura média, que pode vir a aumentar mais de três graus centígrados, e uma diminuição da precipitação média anual, que pode ultrapassar os 20 por cento, até ao final do século. Está assim traçada uma realidade de vulnerabilidade, muito marcada no Baixo Alentejo, que resulta da conjugação das características da paisagem com as alterações climáticas. É crucial a implementação de estratégias de gestão eficaz da água que assegure a coesão territorial desta vasta região.
Que medidas são necessárias tomar, a curto/médio prazo, para a mitigação deste problema?
O projeto “Alentejo – Clima em Escassez Hídrica”, promovido pela Agência Portuguesa do Ambiente, através da Administração da Região Hidrográfica do Alentejo, em parceria com a ADPM, pretendeu capacitar e sensibilizar diferentes atores para a implementação de uma estratégia de intervenção territorial, em prol da adaptação às alterações climáticas e melhoria da gestão dos recursos hídricos. Ao longo do projeto, as medidas que surgiram como mais relevantes apontam para a necessidade de reduzir os consumos de água e as perdas nos sistemas de abastecimento. Destacou-se, igualmente, a pertinência da utilização de origens alternativas de água como forma de reduzir a captação de água natural, acompanhada de uma proteção das origens de água, mediante o controlo de fontes de poluição e outras pressões. Emergiu, ainda, a importância de um plano de implementação de ações prioritárias, para dar resposta à adaptação a condições de escassez hídrica. Todas estas medidas devem ser pensadas numa lógica integrada e multi escala, com a participação ativa de todas as partes interessadas.
Considera que a consciencialização, de cada um de nós, acerca da escassez de água, é essencial para ultrapassar o problema?
É essencial um ganho de consciência, por todos, relativamente ao valor da água, como bem escasso, e à necessidade de uma ação coordenada, da comunidade, que inclui medidas individuais e coletivas. Por essa razão, o projeto focou, também, a sensibilização de vários públicos, como técnicos autárquicos, comunidade escolar ou profissionais de saúde, através de ações de informação e boas práticas e da criação de redes, onde se procurou impulsionar a mudança de comportamentos. A gestão da água, em contexto de incerteza climática, é um desafio complexo, que exige o envolvimento de todos, de forma a diminuir a vulnerabilidade regional. A literacia e a consciencialização são um primeiro passo, sendo crucial ser seguido da passagem à ação.