Diário do Alentejo

Alvito, Almodôvar e Moura perderam 25 por cento dos alunos em 10 anos

04 de março 2023 - 09:00
Ensino profissional tem “contribuído para mitigar a quebra da demografia escolar”, diz investigador Bravo Nico
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Os dados divulgados recentemente pela Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência indicam que os concelhos de Alvito, Almodôvar e Moura perderam, entre os anos letivos 2011/12 e 2020/21, cerca de um quarto dos alunos do pré-escolar ao ensino secundário. Cuba, Beja e Ferreira do Alentejo foram os que registaram o menor decréscimo.

 

Texto Nélia Pedrosa

 

As escolas do Baixo Alentejo – que, para fins estatísticos, corresponde ao distrito de Beja, com exceção do concelho de Odemira – perderam, numa década, 15,9 por cento dos alunos do pré-escolar ao ensino secundário, passando de 20 749 no ano letivo 2011/12 para 17 449 em 2020/21 (menos 3300 alunos inscritos).

 

De acordo com os dados divulgados recentemente pela Direção- Geral de Estatísticas da Educação e Ciência, o Alentejo registou um decréscimo de 17,1 por cento de alunos inscritos entre 2011/12 e 2020/21, passando de 80 940 para 67 059 (menos 13 881).

 

Das quatro regiões alentejanas, o Alentejo Litoral (que inclui o concelho de Odemira e quatro do distrito de Setúbal) é aquele onde se verificou o menor decréscimo de alunos inscritos, 12,6 por cento: no ano letivo 2011/12 eram 15 161 e, em 2020/21, 13 251 (menos 1910 inscritos).

 

Já o Alentejo Central registou um decréscimo de 17,6 por cento (de 24 466 para 21 814, menos 4652) e o Alto Alentejo uma quebra de 21,6 por cento (de 18 564 para 14 545, menos 4019).

 

Analisando os dados por concelho, dos 14 que integram o distrito de Beja (os 13 do Baixo Alentejo e o de Odemira), há três que perderam cerca de um quarto dos alunos entre 2011/12 e 2020/21: Alvito (-26,3 por cento), Almodôvar (-25,6 por cento) e Moura (-24,3 por cento). Em sentido contrário, Cuba (-4,3 por cento), Beja (-9,5 por cento) e Ferreira do Alentejo (-9,6 por cento) foram os que registaram o menor decréscimo.

 

Em termos absolutos, o concelho de Moura foi o que perdeu o maior número de alunos numadécada, 733, seguindo-se Beja, com menos 662, e Serpa, com menos 501. Cuba (menos 30 alunos inscritos), Barrancos (menos 38) e Ferreira do Alentejo (menos 93) foram os que perderam menos. No ano letivo 2020/21, Beja era o concelho que concentrava o maior número de alunos do distrito (6324), seguindo-se Odemira (2480) e Moura (2285). No fundo da tabela, encontravam-se os concelhos de Barrancos (166 inscritos), Alvito (389) e Ourique (527).

 

ENSINO PROFISSIONAL TEM “CONTRIBUÍDO PARA MITIGAR A QUEBRA DA DEMOGRAFIA ESCOLAR”

Para José Bravo Nico, professor associado com agregação na Escola de Ciências Sociais da Universidade de Évora, os números da Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência “não são uma surpresa, uma vez que os dados demográficos disponibilizados, periodicamente, pelo Instituto Nacional de Estatística, revelam, há muito tempo, uma acentuada quebra demográfica em curso na região alentejana”.

 

No entanto, sublinha o docente universitário e investigador no Centro de Investigação em Educação e Psicologia em declarações ao “Diário do Alentejo”, “apesar de se conhecer, há muito tempo, a evolução da demografia escolar, os números colocam-nos perante o maior desafio de todo o interior de Portugal: o despovoamento progressivo e, aparentemente, irreversível, com particular incidência nas faixas etárias mais jovens”.

 

“Se a evolução demográfica se mantiver, com as taxas que os números existentes até ao presente evidenciam”, frisa José Bravo Nico, “facilmente se conclui que, dentro de duas a três décadas, a população residente em muitas localidades do Alentejo será residual, até porque os poucos jovens que ainda forem nascendo, cedo sentirão a necessidade de saírem dos seus territórios, para poderem realizar os seus percursos de qualificação académica e de realização profissional”.

De acordo com o docente universitário, “o decréscimo da população, em qualquer território, resulta sempre da conjugação de diversos fatores que concorrem, de forma específica, para esse efeito”, sendo “a baixa natalidade, a falta de empregos, as intermitências existentes entre os percursos de qualificação e de emprego ou as frágeis condições sociais de apoio às famílias”, entre outras, “circunstâncias que terão o seu peso específico na equação demográfica de cada território”.

 

O investigador salienta, ainda, que “num número muito significativo de concelhos do Alentejo (e de todo o interior português), a rede escolar já não comporta o ensino secundário e, em alguns casos, o terceiro ciclo do ensino básico”. Nestas condições, acrescenta, “os jovens, para frequentarem a escolaridade obrigatória, terão, necessariamente, que sair do seu concelho”, e esta “‘migração escolar obrigatória’ concorre para o esvaziamento demográfico dos pequenos concelhos, em favor dos concelhos de maior dimensão, e sedimenta-se, à medida que o percurso escolar é mais longo”.

 

Por outro lado, diz José Bravo Nico, “existem alguns casos em que este fenómeno tem amortecido a quebra da demografia escolar:os concelhos que possuem escolas profissionais”. O ensino profissional e, em particular as escolas profissionais (públicas e privadas), na região Alentejo, “têm contribuído para mitigar a quebra da demografia escolar e, mais importante ainda, para aumentar a fixação de jovens profissionais no território, com qualificações muito importantes para a economia regional”, conclui.

 

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