Diário do Alentejo

Maioria dos medicamentos em falta tem substituto, garantem farmacêuticos

27 de novembro 2022 - 11:00
Rutura verifica-se sobretudo nos fármacos para a hipertensão e diabetes
Fotos | Ricardo ZambujoFotos | Ricardo Zambujo

As farmácias portuguesas estão com ruturas em vários medicamentos,  sobretudo, para a hipertensão e diabetes. Para a maioria, no entanto, há alternativas no mercado, garantem os farmacêuticos do distrito de Beja ouvidos pelo “Diário do Alentejo”. O presidente do Conselho Sub-Regional de Beja da Ordem dos Médicos diz que a situação é “preocupante”.

 

Texto Nélia Pedrosa

 

À semelhança do que se tem vindo a verificar a nível nacional, e também um pouco por toda a Europa, as farmácias do distrito de Beja reportam faltas de alguns medicamentos, sobretudo, para a hipertensão e diabetes.

 

Na farmácia Central, na cidade de Beja, a falta de medicamentos tem vindo a agravar-se, diz o diretor técnico, verificando-se rotura “em vários segmentos”, dos anti-diabéticos aos anti-depressivos. Começa também a registar-se alguma falta em medicamentos não sujeitos a receita médica, como xaropes.

 

“Tínhamos algumas falhas pontuais, agora já temos falhas constantes”, frisa João Almeida, adiantando que a situação se agravou “com o conflito na Europa, com a questão energética, com a falta de matéria-prima”.

 

Embora na maior parte das situações haja uma substituição terapêutica, o diretor técnico considera que o Infarmed – Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde “tem de tomar medidas mais rigorosas e eficientes para evitar que isto aconteça”. “É uma situação lamentável, que nos deixa preocupados”.

 

Na Farmácia Pancada, em Mértola, diz Marta Godinho, técnica auxiliar de farmácia, a falta de medicamentos tem vindo a notar-se nos últimos dois meses. “Faltam os medicamentos que constam da lista que anda a circular pela comunicação social.

 

Para a diabetes, coração, ansiolíticos”, acrescenta, sublinhando que a farmácia já está a receber, vindo de Espanha, o genérico do Inderal, utilizado para controlar a hipertensão. Marta Godinho admite, no entanto, que alguns utentes, devido à proximidade com Espanha, possam estar a recorrer ao mercado espanhol para garantirem a sua medicação.

 

“Há falta, como em todo o País e também na Europa, devido à escassez de matérias-primas”, afirma, por sua vez, Sofia Boavida, diretora técnica da Farmácia Barranquense, em Barrancos. No caso do Inderal, frisa, cujo genérico “já está a ser importado de Espanha”, só “voltam a produzir em 2023”. Desde que “haja bom senso”, acrescenta, “há solução terapêutica”.

 

Em Vila Nova de Milfontes, Odemira, na farmácia Alfeirão, registam-se, há cerca de um mês, “bastantes faltas, numa grande variedade de medicamentos”.

 

“Quando não há o medicamento de marca opta-se por um genérico. Nos casos em que não há um nem outro, como nas insulinas, o utente recorre ao seu médico para encontrar uma solução”, explica Leonardo Dias, técnico auxiliar de farmácia.

 

Andreia Neves, farmacêutica substituta da Farmácia Ramos, em Almodôvar, garante que “ninguém fica sem tratamento”. “Quase sempre há um substituto para os medicamentos em falta”, diz, sublinhando, no entanto, que, à exceção do Inderal, “não se nota grande diferença” comparativamente a outros períodos.

 

“Sempre sentimos falta de medicamentos, é uma situação que se arrasta há, pelo menos, seis anos”. Mais uma vez, faltam fármacos, sobretudo, para a hipertensão e diabetes.

 

Já Hugo Cardoso, farmacêutico adjunto na Farmácia da Misericórdia, em Cuba, afirma que “não são assim tantos os medicamentos em falta, já houve mais”, mas “quase sempre há alternativas, e quando não há as entidades competentes arranjam solução, como a possibilidade de importar”, como está acontecer com o genérico do Inderal.

 

O farmacêutico sublinha que “o Infarmed está constantemente a recolher informação sobre os medicamentos em falta” e que os médicos “também têm acesso a essa informação e, portanto, podem encontrar uma alternativa”, pelo que “tudo se está a resolver bem”.

 

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SITUAÇÃO É "PREOCUPANTE", DIZ ORDEM DOS MÉDICOS 

Para o presidente do Conselho Sub-Regional de Beja da Ordem dos Médicos, Pedro Vasconcelos, a falta de medicamentos é uma situação “preocupante”, “quer pela ansiedade que provoca em quem precisa deles, como, sobretudo, pelo transtorno causado na regularidade de alguns tratamentos”.

 

Em comunicado enviado às redações, o Infarmed garante que a esmagadora maioria dos fármacos em falta nas farmácias portuguesas “tem alternativas disponíveis na mesma substância ativa”.

 

O “Diário do Alentejo” tentou obter ainda comentários junto da Associação de Farmácias de Portugal e da Associação Nacional de Farmácias, mas tal não foi possível até ao fecho desta edição.

 

Em entrevista recente à “TVI”, a vice-presidente da Associação de Farmácias de Portugal sublinhou que estas falhas são uma situação “recorrente, pontual e cíclica” e não devem ser motivo de preocupação para a população, pois “as farmácias (…) tentam sempre resolver o problema do utente”.

 

A responsável esclareceu ainda que quando confrontadas com falhas de medicamentos, “as farmácias reportam imediatamente” às entidades competentes, uma vez que “existem mecanismos e ferramentas” que acionam para o “Infarmed ter conhecimento (…) e o Infarmed aciona autorizações especiais e excecionais”, por forma a dar resposta às necessidades. Manuela Pacheco apelou ainda à população “para não açambarcar medicamentos”, evitando aviar todas as suas receitas de uma vez, alertando que este comportamento “irá contribuir para um aumento das faltas de medicamentos”.

 

 

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MINISTRO DA SAÚDE QUER MITIGAR FALTA DE MEDICAMENTOS 

O ministro da Saúde assegurou, entretanto, que os medicamentos em falta nas farmácias têm substitutos.

 

“Felizmente temos, em todos os casos, alternativas. Claro que é incómodo para o doente e é incómodo para o profissional de saúde a troca de um medicamento por outro, mas não estamos a falar de nenhuma falta que ponha em perigo a vida ou a saúde das pessoas”, salientou em declarações à “Lusa”.

 

Manuel Pizzaro adiantou ainda que estão a trabalhar com a indústria farmacêutica, com a distribuição, as farmácias e o Infarmed (Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde) para criarem “alternativas que, pelo menos, mitiguem o número e a frequência destas faltas” e frisou que o problema da falta de alguns medicamentos nas farmácias não é exclusivo de Portugal, existindo “um pouco por toda a Europa”.

 

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