Diário do Alentejo

Rebentamentos na mina de Aljustrel são “autênticos tremores de terra”

02 de novembro 2025 - 08:00
Foto | Ricardo Zambujo

A concessão C-9 do complexo mineiro da vila de Aljustrel foi, recentemente, fiscalizada pela Direção-Geral de Energia e Geologia, após várias reclamações por parte da câmara a esta entidade, considerando estar o impacto de algumas explosões, que se vêm a sentir à superfície desde há cerca de um ano, “acima do que seria aceitável”.

 

Texto | José SerranoFoto | Ricardo Zambujo

De acordo com um comunicado da Câmara Municipal de Aljustrel, a Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG), serviço da administração central direta do Estado, com a competência, entre outras, de proceder a ações fiscalizadoras nos domínios dos recursos geológicos, efetuou, recentemente, uma ação de fiscalização à concessão C-9 do complexo mineiro da vila, tendo por base as várias reclamações da autarquia relativas aos disparos resultantes da atividade mineira. Carlos Teles, edil que cessará funções no próximo dia 3 de novembro (recorde-se que Fernando Ruas, da CDU, venceu as eleições Autárquicas de dia 12), declara ao “Diário do Alentejo” que o aumento da potência dos disparos, “que, por vezes, são muito fortes, acima do que seria aceitável, e muito demorados”, fazendo lembrar “autênticos tremores de terra”, se tem vindo a verificar desde finais “do ano passado e ao longo deste ano”, impactando de forma negativa o quotidiano dos aljustrelenses. “Nós estamos habituados a viver por cima de uma mina, convivemos, há já muitos anos, com disparos provenientes da laboração mineira, mas, ultimamente, têm existido alguns enormes impactos, que estarão, eventualmente, na origem de danos – brechas, azulejos partidos, queda de rebocos –, que se têm vindo a verificar em algumas habitações”. O aumento da potência das explosões que se faz sentir na localidade estará relacionado, diz o autarca, “com um novo filão que vai ser explorado”, encontrando-se, esse, localizado “mais à superfície e mesmo junto à vila de Aljustrel”.Da ação de fiscalização, da qual se aguardam resultados, a DGEG adiantou à autarquia que se encontram em análise, pelos serviços técnicos, os registos das velocidades de propagação das vibrações (vmax), os horários dos disparos realizados e as metodologias de desmonte utilizadas em cada operação. Informou ainda a DGEG que em breve será realizada uma reunião com especialistas e com a empresa fornecedora de explosivos para que se possa tentar atenuar os efeitos dos rebentamentos à superfície.O município de Aljustrel, “tendo em conta o alcance de um equilíbrio entre a atividade mineira, essencial ao concelho, e a permanência da qualidade de vida da população”, tem ainda reunido e solicitado informação, no âmbito desta questão, a outras entidades, para lá da DGEG, nomeadamente, junto da empresa concessionária (Almina), do Ministério do Ambiente, da Agência Portuguesa do Ambiente, da secretaria de Estado do Ambiente e da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo (CCDR Alentejo). Com esta última entidade Carlos Teles reuniu-se no passado mês de setembro, tendo ficado acordado o desenvolvimento e a implementação, por parte desta entidade, de um projeto para a instalação de uma estação de monitorização permanente da qualidade do ar em Aljustrel, recordando a comprovação, em anos anteriores, de níveis de arsénio no ar em quantidades superiores ao definido por lei.“Temos consciência de que a atividade mineira tem impactos – não há qualquer atividade económica que inclua laboração e indústria que não os tenha – e nós já estamos habituados a conviver com eles. Mas há que elaborar estudos para que esses impactos sejam aceitáveis, que se façam sentir da menor forma, que sejam atenuados, para que possamos todos, empresa e população, estar aqui em comunidade e em consenso. Porque, efetivamente, Aljustrel precisa da mina, que é, economicamente, o motor do concelho. Aqui, todos desejamos que a mina continue a laborar, mas também queremos que se faça um esforço maior, capaz de reduzir os impactos da laboração no nosso cotidiano”.

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