Diário do Alentejo

Vacina para a língua azul é obrigatória

03 de setembro 2022 - 10:30
DGAV deixa de comparticipar custos da aplicação
Foto | José Serrano/ArquivoFoto | José Serrano/Arquivo

A febre catarra ovina, também conhecida como língua azul, foi identificada em nove distritos de Portugal. A Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) declarou, na semana passada, a obrigatoriedade da vacinação para os reprodutores e jovens destinados à reprodução. A vacina é cedida gratuitamente, mas a aplicação – que até agora era cofinanciada – deixou de ser apoiada.

 

Texto Aníbal Fernandes

 

A doença da língua azul é conhecida na região mais a Sul de Portugal (Baixo Alentejo e Algarve) desde há algumas décadas. Nos finais do século XX, Ferreira do Alentejo era o concelho mais a Norte onde foi identificada, mas posteriormente, de forma constante, foi-se alastrando aos distritos de Setúbal, Évora, Portalegre, Santarém e Castelo Branco.

 

Em 2022 a doença já atinge vários concelhos dos distritos de Coimbra (Arganil, Oliveira do Hospital e Tábua), Guarda (Gouveia, Forno de Algodres e Seia) e Viseu (Carregal do Sal, Castro Daire, Nelas, Oliveira de Fadres, Tondela e Viseu).

 

Miguel Madeira, membro da direção da ACOS – Associação de Agricultores do Sul, diz que esta nova geografia é que é a “novidade” e resulta, acredita, “das alterações climatéricas” verificadas.

 

O também veterinário disse ao “Diário do Alentejo” que a vacinação dos ovinos está a decorrer dentro da “normalidade” na região e que já é uma coisa rotineira no Baixo Alentejo, esclarecendo que é uma doença que “não afeta os humanos”.

 

O problema, este ano, ao contrário do que tem sido a prática até aqui, é que a DGAV apenas cede a vacina e deixou de comparticipar nas despesas da aplicação da mesma.

 

“Este é um custo que contribui, ainda mais, para o copo se encher. Num ano em que todos os fatores de produção aumentaram e em que a forragem é escassa – obrigando os produtores a alimentar os animais de julho a março – esse era um contributo importante para minimizar os custos. Aquando da Ovibeja, fizemos sentir isso à ministra, mas, pelos vistos, não nos ouviu”, diz Miguel Madeira.

 

Segundo o edital 65 da DGAV a vacinação é obrigatória em exemplares ovinos reprodutores adultos e jovens destinados à reprodução a partir dos três meses. É ainda aconselhada a vacinação dos restantes animais de espécies sensíveis, como bovinos que, apesar de poderem ficar infetados, normalmente se apresentam assintomáticos.

 

O QUE É A LÍNGUA AZUL

A  Língua azul é causada por um arbovírus da família Reoviridae, género Orbivirus. Existem 24 serótipos antigénicos do vírus que não desenvolvem imunidade cruzada entre si. A virulência varia com os serótipos do vírus.

 

A doença é transmitida por insetos do género Culicoides, que são os vetores biológicos e que com as alterações climatéricas têm encontrado outros territórios propícios ao seu desenvolvimento.

 

Segundo a DGAV, “em 2020, a ocorrência de focos de serótipo 1 e serótipo 4 de língua azul na região do Algarve, determinou uma readaptação das zonas de restrição e a obrigatoriedade de vacinação contra este serótipos.

 

Em virtude da deteção de resultados positivos ao serótipo 4 no concelho de Serpa, em agosto de 2021 e, posteriormente, da confirmação de novos focos da mesma variante do vírus da língua azul noutros concelhos do Alentejo e em concelhos da Região de Lisboa e Vale do Tejo e da Região Centro”, ficou definido que a região do Alentejo e os distritos de Santarém, Setúbal e Castelo Branco, eram áreas afetadas pelo serótipo 4.

 

Em julho de 2022, foram confirmados novos focos de serótipo 4 noutros concelhos da região Centro.

 

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