Diário do Alentejo

Cantadores do Alentejo apresentam álbum a 17 de maio

12 de maio 2022 - 11:45
"Atrevido" é o albúm de estreia lançado a 29 de abril e apresentado no próximo dia 17 de maio no Teatro Villaret
Foto | Ricardo ZambujoFoto | Ricardo Zambujo

osé Diogo Bento, Telmo Narciso, Duarte Farias, Jorge São Pedro e Gonçalo Narciso são aqueles que dão voz ao grupo Cantadores do Alentejo, que apresentam no próximo dia 17 de maio o seu albúm de estreia, "Atrevido", no Teatro Villaret, em Lisboa.

 

Texto Ana Filipa Sousa de Sousa

 

Humildade, foco, motivação, versatilidade, otimismo, persistência, criatividade, responsabilidade, organização e especialmente amizade, são algumas das palavras que descrevem não só o grupo Cantadores do Alentejo, mas essencialmente cada um dos seus elementos. É na voz, nas guitarras portuguesas e no coração que têm carregado, nos últimos dois anos, os campos de trigo e as tradições do Alentejo de lés a lés em Portugal.

 

Em 2020 aceitaram o convite do “grande amigo e músico”, Jorge Benvinda, para deixarem de lado as “tertúlias informais” e “encarar a possibilidade de passar do hobby para uma vertente mais séria”, oficializando-se no programa de talentos “Got Talent” da RTP1, no qual chegaram à semifinal. “Em relação ao Got Talent, existe uma história curiosa... Nós, no início dos Cantadores do Alentejo, nunca colocámos em equação a participação em programas televisivos, neste caso, concursos de talentos. O nosso foco foi sempre no sentido de criarmos uma base sólida de trabalho que nos permitisse a realização de concertos e a gravação em disco dos temas originais que viríamos a criar e desenvolver. Mas, entretanto, surge um desafio proposto pelos meus pais, através de uma inscrição à revelia nesse programa. Juntámo-nos e conversámos para decidir se fazia sentido na altura, e naquela fase do projeto, a nossa participação, e entre todos optámos por agarrar o desafio e passar por essa boa experiência”, conta, ao “Diário do Alentejo” (“DA”), José Diogo Bento, de 28 anos. Dela trouxeram a exigência, a seriedade, o conhecimento, o profissionalismo e a motivação “que um programa desse tipo acarreta”, bem como a vontade de deixar um marco de irreverência e originalidade no cante alentejano.

 

“Enquanto grupo, o que nos distingue dos outros que têm existido é a nossa vontade de trabalhar sobre uma base de reportório próprio, onde centramos o nosso trabalho na composição de temas originais. Bem como, na junção da guitarra portuguesa aos nossos arranjos musicais”, confessa o jovem músico Gonçalo Narciso. Exemplo disso é a música “Jaquim” que une alegria e humor ao tradicional cante alentejano. “Com este single pretendemos mostrar ao público que o cante também tem uma vertente mais leve, em que os seus principais elementos são o humor e a diversão”, antecipa Jorge São Pedro.

 

Têm consigo os horizontes das planícies, as tradições, a cultura e as gentes do Alentejo que representam um “modo de estar e de ser na vida” repleto de emoções, vivências e vozes “que nos ficam na memória”. Em cada subida ao palco, elevam na voz o que aprenderam com os mais velhos e os mais novos, com aqueles que cantam bem e os que cantam mal e de todos os que estão cientes “do bem que o Alentejo faz à alma”. Entoam as raízes da identidade da região deixando transparecer em cada moda o que de maior valor há na vida, ou seja, o amor, a simplicidade, a família e a amizade. Acreditam que “ninguém nasce alentejano” que esse “orgulho sábio, trabalhador, humilde e muito rico culturalmente não tem a ver com o nascer, mas sim com o ser e o honrar aquilo que é nosso”. Defendem que o cante é o modo imaterial de preservar os costumes, o dia-a-dia, o trabalho e a história “das nossas gentes” e que por isso é imprescindível imortalizá-lo num disco. A música “Património Mundial” homenageia todas essas vivências “de um povo e de uma região, que no passado foram muitas vezes esquecidos, mas que, anos mais tarde, acabam por receber o seu devido valor e reconhecimento através de uma distinção cultural que reconheceu o nosso Cante Alentejano como Património Mundial”.

 

Jaquim” e “Património Mundial” são duas das dez modas originais de Atrevido, o novo disco lançado hoje pelo grupo Cantadores do Alentejo, da autoria de Gonçalo Narciso. Nele consta ainda o tema “A Janela”, de Gonçalo e Telmo Narciso, “A Viagem do Passarinho” com Buba Espinho, “Alentejo e os teus trigais” com Pedro Mestre e a homenagem sentida a Amália Rodrigues na adaptação do tema “Tive um coração, perdi-o” com a participação da fadista Katia Guerreiro. O álbum conta também com Carlos Leitão, que acompanha com guitarra clássica, o baixista Carlos Menezes e o percussionista Rui Gonçalves.

 

Para o futuro os Cantadores do Alentejo só perspetivam o reconhecimento e o esforço, “sinal que todo o trabalho que temos vindo a desenvolver, enquanto grupo, está a valer a pena”. Duarte Farias, de 22 anos, confessa ao “DA” que um dos “grandes objetivos deste projeto é fazer o público feliz, através daquilo que nós lhes podemos oferecer, o nosso cante. Aí sentir-nos-íamos concretizados e bastantes felizes”.

 

Para já, aguardam por eles os mais de 300 lugares do Teatro Villaret, em Lisboa, para o concerto de apresentação de “Atrevido”, no próximo dia 17 de maio, que promete “sensibilizar as gerações mais novas a interessarem-se pelo cante e pelas nossas tradições”, bem como “influenciar e incentivar outros projetos de cante alentejano a comporem os seus próprios reportórios” e assim enriquecer “o nosso Cancioneiro Popular, não desprezando obviamente a salvaguarda do [acervo] mais antigo que tende, infelizmente, a ficar esquecido”, lamenta o aljustrelense, Gonçalo Narciso.

Nas suas próprias palavras e daqueles que os ouvem, o cante está, definitivamente, em boas mãos.

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