Diário do Alentejo

Comunidade de Energia Renovável agrícola nasce em Aljustrel

08 de abril 2022 - 11:15

A Associação de Beneficiários do Roxo (Abroxo) e a Federação Nacional de Regantes de Portugal (Fenareg) lançaram um projeto-piloto para criar, em Montes Velhos, Aljustrel, a primeira Comunidade de Energia Renovável em área agrícola em Portugal.

 

Texto Aníbal Fernandes

 

A produção de energias renováveis no perímetro de rega do Roxo visa reduzir os gastos das explorações agrícolas com eletricidade em usos associados à rega e que, segundo António Parreira, presidente da Abroxo, já atingiram os 500 euros por megawatt, um valor oito vezes superior ao que se verificava em 2021.

 

O projeto a instalar no perímetro de rega do Roxo – que abrange 8,5 mil hectares nos municípios de Aljustrel, Ferreira do Alentejo e Santiago do Cacém - prevê a ampliação da central fotovoltaica aí instalada em 2018, para bombear água da barragem.

 

“Neste momento, o que temos são painéis seguidores, cujo número vamos aumentar. E vamos instalar painéis fixos e ainda painéis sobre o canal condutor principal” do aproveitamento, “o que será inovador”, explicou António Parreira que prevê igualmente “a construção de uma [central] mini-hídrica para a água à saída da barragem”, cujo projeto de execução está em elaboração, adiantou.

 

De acordo com António Parreira, em declarações à Lusa, o investimento na ampliação da central fotovoltaica deve ascender a 300 mil euros e deverá estar concretizado “dentro de um ano”. Por sua vez, a construção da central mini-hídrica está avaliada em cerca de “dois milhões de euros” e, quando o projeto de execução “estiver pronto”, será lançado o concurso para a empreitada.

 

Para António Parreira, com a concretização destes dois investimentos, a associação poderá vir produzir energia “durante o dia”, com a central fotovoltaica, e “durante a noite” com a central mini-hídrica. “Seremos completamente autossuficientes em termos energéticos, ou seja, forneceremos água e energia”, disse.

 

O projeto permite ainda que nos períodos em que haja excesso de energia produzida, sobretudo na primavera e verão, esta possa ser vendida a “outros utilizadores” e não injetada “na rede a um preço ridículo. “Já temos acordo com uma empresa e a câmara poderá ser outro parceiro, ou seja, vamos vender energia a preços que, para nós,serão vantajosos, pois, serão superiores àquilo que recebemos por entregar na rede, enquanto os outros parceiros pagarão um preço inferior” ao praticado pelos fornecedores normais, concluiu António Parreira

 

José Núncio, presidente da Fenareg e parceiro deste projecto, em declarações ao “Diário do Alentejo” disse estar “esperançado que o projecto resulte num reconhecimento oficial” e que venha a originar novos empreendimentos do género.

 

SEMINÁRIO

No início de março, a Fenareg organizou um seminário em Aljustrel, sobre as oportunidades de investimento, soluções e boas práticas de bombagem fotovoltaica no regadio coletivo.

 

Rogério Ferreira, diretor-geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural, disse na altura que “no regadio coletivo nacional, há muitos e bons exemplos de eficiência hídrica e o setor está a iniciar o caminho para a eficiência energética e descarbonização através da utilização de energias limpas, é um percurso que vamos continuar a incentivar”.

 

Segundo José Núncio a “escalada do preço da energia no mercado ibérico obriga as associações de regantes a encontrar alternativas para ter fontes de energia mais barata”. António Parreira informou que a instalação dos painéis fotovoltaicos em 2018 para bombear água da barragem do Roxo e permitiu poupar em média 26 por cento na fatura da eletricidade e reduzir as emissões de carbono em 235 toneladas de CO2 por ano.

 

O presidente da Abroxo, explicou na altura que o objetivo “é produzir energia limpa para fornecer água aos agricultores a um preço competitivo e compatível com os seus custos de produção cada vez mais elevados. No regadio do Roxo estamos a falar de energia fotovoltaica, mas também hídrica, e poderão surgir outras. Precisamos de fontes de energia alternativas mais baratas e mais amigas do ambiente”.

 

O novo projeto trará vantagens para a indústria que comprará a energia mais barata e para a Aroxo que venderá a energia excedentária que produz neste sistema de painéis solares a preço mais elevado”, explicou José Núncio.

 

O PDR2020 financia as associações de regantes instalação de painéis fotovoltaicos nos aproveitamentos hidroagrícolas em 40 por cento do investimento até 500 mil euros.

 

A verba disponível é de 6 milhões de euros e as candidaturas estão abertas até dia 22 de abril, explicou na altura Vítor Cordeiro, coordenador da área de investimento e riscos da Autoridade de Gestão do PDR2020.

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