Diário do Alentejo

"Não há vontade política em se investir na saúde pública"

10 de março 2022 - 10:27

Três perguntas a Isabel Santos, Membro da Comissão de Utentes de Beja

 

Texto José Serrano

 

Organizada pela Comissão de Utentes de Beja, realizou-se, no dia 26 de fevereiro, na cidade, uma marcha em defesa da saúde. Quais as principais carências da região, motivadoras desta manifestação?

A Comissão de Utentes de Beja saiu à rua em defesa do Serviço Nacional de Saúde, do Hospital José Joaquim Fernandes, a exigir mais médicos, enfermeiros, assistentes operacionais, valências e equipamentos. Há extensões de saúde fechadas, médicos de família em falta, dois anos de pandemia que levaram ao caos a saúde dos utentes nas aldeias do concelho e do distrito – motivos para a Comissão fazer ouvir a sua voz.

 

Tendo sido “Não Dá Mais!” o lema desta caminhada, o que considera poder vir a suceder, na área de abrangência da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (Ulsba), caso as revindicações apresentadas não sejam, a curto/médio prazo, implementadas?

É o acesso da população aos cuidados de saúde, nos centros de saúde e no hospital de Beja, que estará ainda mais comprometido, porque a maior dificuldade da Ulsba é debater-se com uma enorme falta de todos os grupos profissionais, mas onde a carreira médica é a mais afetada. Considerando as necessidades da população, estarão em falta cerca de 75 médicos. No hospital, os serviços de obstetrícia, ginecologia, pediatria e otorrino são os que estão em maior risco, havendo muitas dificuldades também na oftalmologia, cardiologia, radiologia, fisiatria, neurologia, etc.. Em consequência de todo este enfraquecimento do serviço público de saúde surge uma grande oportunidade de negócio com a anunciada construção de um hospital privado, principal objetivo de quem poderia inverter este caminho. Referimo-nos ao Governo, à Administração do Hospital, e ao patrocínio da atual autarquia de Beja à construção deste hospital privado, que será a “machadada final” no hospital de Beja e o motivo pelo qual não avança a sua tão necessária remodelação e ampliação. Ao nível dos centros de saúde, é previsível que cada vez mais utentes fiquem sem médico de família, o que comprometerá a prevenção das doenças, por falta de vigilância e acompanhamento, e aumentará a procura de médicos no privado.

 

Considera que seria desejável uma outra atitude do poder político, representativo da região, face a esta questão?

Está claro que não há vontade política e que se trata de uma opção deixar degradar os serviços públicos de saúde assegurados pelo hospital de Beja e pelos centros de saúde, para que o investimento privado possa ter uma oportunidade. Este interesse é contrário ao interesse da população, uma vez que o público é de todos e o privado é só de alguns que o podem pagar. Aqui têm responsabilidade os Governos, principalmente nestes últimos sete anos, que já poderiam ter feito o investimento com vista à construção do novo edifício do hospital de Beja, com resoluções aprovadas na Assembleia da República. Não podemos deixar de acusar a administração do hospital e a autarquia de Beja de subserviência ao Governo que, vendo a população cada vez mais carenciada de cuidados de saúde, estão silenciados.

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