José António e Paulo Cardoso são os responsáveis por dar forma à Luthier Cardoso, empresa alentejana de construção, restauro e reparação de instrumentos musicais de corda que tem em exibição no Centro Unesco, em Beja, a exposição Natureza Tonal.
Texto Ana Filipa Sousa de Sousa
Esta exposição é fruto de um longo percurso que se iniciou em 2008, quando pai e filho deram os primeiros passos como artesãos “fazendo a sua primeira guitarra clássica para satisfação pessoal”, conta, o filho, Paulo Cardoso, ao ‘Diário do Alentejo’.
O gosto pela música e o prazer de trabalhar madeira foram a chave para que José António e Paulo Cardoso procurassem aprimorar os seus conhecimentos e técnicas de modo a “tentar fazer algo de diferente de cariz artesanal”.
Deste desejo nasceu, em 2010, o seu atelier na Trindade, marcado pela “calma, clima e pacatez” característica do Alentejo e pelo “conhecimento, tempo e paixão” dos artesãos.
De olhos postos no futuro e no mercado internacional, apostaram num nome familiar, mas também que ultrapassa fronteiras – Luthier Cardoso – onde, a palavra francesa “luth”, que significa alaúde, se generalizou pelo mundo para designar o ofício de construção e reparação de instrumentos de corda.
Atualmente contam com um catálogo vasto e diverso, entre guitarras clássicas, guitarras acústicas, guitarras portuguesas, bandolins, cavaquinhos, ukuleles, balalaikas, violinos e até violas campaniças, entre muitas outras violas tradicionais portuguesas.
Paulo Cardoso confessa, que em termos de desafio, a guitarra portuguesa é aquela “tecnicamente mais evoluída, sendo uma fina flor de construção”, mas “a que mais gozo nos dá construir é a viola campaniça”.
No atelier o tempo de construção é “variável” dependendo do tipo de instrumento, dos materiais a trabalhar e até do estado do tempo. “Por exemplo, para dar goma laca, o tempo tem que estar limpo e sem humidade, mas a base são 180 horas para uma viola campaniça e 220 horas para uma guitarra portuguesa”, revela Paulo Cardoso.
Os materiais utilizados também são múltiplos, e ainda que habitualmente prefiram trabalhar com madeiras nobres e exóticas, o cliente tem oportunidade de escolher qualquer uma das quase 100 madeiras do “nosso mostruário”. Para cada parte do instrumento existe um leque de material especifico que, graças às suas características, permitem uma melhor qualidade de trabalho.
A título de exemplo, Paulo Cardoso menciona ao ‘DA’ que, usualmente, entre a caixa-de-ressonância, o tampo, a escala, o cavalete, o braço, o sistema de afinação e o pente, pestana e pontos são utilizados vários tipos de materiais, entre eles madeira de nogueira nacional ou americana, de carvalho, de pinho de Flandres, de pau-santo, de ébano, de mogno, cedro das Honduras ou alparca, entre muitos outros. A Luthier Cardoso orgulha-se ainda de utilizar madeiras FSC (Forest Stewardship Council), ou seja, madeiras que são repostas e ambientalmente sustentáveis.
Divulgado o projeto nas redes sociais, no seu site oficial e em exposições, como a que está em exibição no Centro Unesco até ao próximo dia 25 de fevereiro, pai e filho descrevem-no em três palavras simples: “arte, tonal e madeira”, ainda que a arte adquira aqui uma “vertente artesanal”. E acrescentam: “os construtores de instrumentos, sendo artistas, não são mais do que artesãos, coabitando com outros profissionais tais como marceneiros, escultores, pintores ou ferreiros… encontrando-se bem distantes do pensamento dos intelectuais ou académicos”, por isso a sensibilidade, a criatividade e a paciência são os segredos para o sucesso de cada obra.
Durante as últimas semanas e até sexta-feira (25/02), de segunda a sábado, os visitantes do Centro Unesco puderam e continuam a puder conhecer 20 instrumentos de fabrico próprio, alguns deles cedidos por clientes, sete instrumentos do construtor de beiroas e beiroinhas, António José de Idanha-a-Nova, convidado pela Luthier Cardoso, e uma plataforma de montagem utilizada pela empresa.
“Esta exposição e outros eventos desta natureza funcionam como uma montra do nosso trabalho, tornando-se um excelente meio de divulgação por um lado e por outro de preservação do que é genuinamente alentejano e português”, conclui Paulo Cardoso.