Diário do Alentejo

"O Estatuto do Cuidador Informal vem conferir direitos fulcrais"

23 de fevereiro 2022 - 11:10

Três perguntas a Paulo Lopes, Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Reabilitação na Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo

 

Texto José Serrano

 

É coautor (juntamente com Ana Diz e Bruno Ferreira, enfermeiros no Centro Hospitalar de Setúbal e no Hospital Beatriz Ângelo – Loures, respetivamente) de um artigo científico que analisa a evolução do conceito de cuidador, publicado, em janeiro, no “Journal of Personalized Medicine”. Que resumo nos fazem deste vosso artigo, que contou com a colaboração de quatro investigadores do Comprehensive Health Research Centre – Universidade de Évora?

O objetivo da investigação foi analisar as tendências das evidências científicas sobre a evolução do conceito de cuidador informal. Para tal, recorremos à análise bibliométrica, permitindo concluir que a aplicação do termo “cuidador informal” teve, desde 1990 (ano da sua origem) até à atualidade, um crescimento exponencial, apresentando outras denominações, como cuidador familiar ou cuidador. A maioria da evidência científica produzida encontra-se escrita em língua inglesa e os EUA são o país com mais publicações na área. As revistas dedicadas à geriatria e à gerontologia são as que mais publicam matéria nesta área, sendo a Enfermagem e Psicologia as duas disciplinas com maior produção científica. Assim, a presente investigação torna-se ponto de partida para que, em trabalhos futuros, seja interpretada a relevância e com que intenção o termo é mais utilizado, em busca de uma linguagem comum.

 

Como classificam as dificuldades inerentes aos cuidadores informais, no Baixo Alentejo?

Os profissionais de saúde e as autarquias devem reunir um esforço conjunto no auxílio à pessoa em situação de dependência e aos cuidadores informais. Acreditamos que o fácil acesso a bancos de ajudas técnicas e o desenvolvimento de tecnologias de informação poderá ser fundamental para incrementar a qualidade de cuidados prestados a esta população em situação de fragilidade.

No Baixo Alentejo, grande parte dos cuidadores informais ou são familiares diretos, que se encontram em idade laboral e apresentam um elevado risco de desgaste físico e psicológico, ou são pessoas com idade avançada (cônjuges), que apresentam limitações físicas. Deveriam existir mais apoios no acompanhamento psicológico destes cuidadores e na existência de um maior número de residências de apoio.

 

O novo Estatuto do Cuidador Informal, criado em 2020, veio apoiar de forma inequívoca os cuidadores informais ou necessita de uma maior efetivação?

A criação do estatuto constituiu um ponto de viragem na forma como os cuidadores informais são encarados – o início de um longo caminho com vista à formação direcionada, criação de estruturas de apoio ou reconhecimento de necessidades vividas diariamente por estes prestadores de cuidados. A realidade portuguesa traduz-se pela elevada procura de uma rede de serviços que se apresenta longe da resposta ideal. No entanto, acreditamos que a criação do Estatuto do Cuidador Informal vem conferir direitos fulcrais às pessoas que se tornam aliadas na prestação de cuidados, encurtando a distância existente entre estas e os profissionais capacitados para disponibilizar assistência.

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