“Apríngio surge como um bispo erudito e ortodoxo, sendo secundário, mas não irrelevante para o nosso intento, a sua origem oriental ou hispano-romana. A sua erudição não reside apenas no bom uso da pena e no conhecimento das Escrituras e da Tradição, nem das técnicas greco-latinas de redação e exposição, mas essencialmente na ortodoxia da mensagem que brota dessa pena. Apríngio é um guerreiro da ortodoxia católica, empunhando, preferencial e decididamente, as armas da luz, com vigor e mansidão, sem ataques diretos ou violentos. A sua pluma é incisiva, mas prudente, sempre solidamente fundamentada. À ortodoxia alia-se provavelmente a santidade de vida".
Texto Ana Filipa Sousa de Sousa
Uma biografia de Apríngio Pacense, primeiro bispo da cidade de Beja, foi recentemente publicada pelo padre Paulo Reis Godinho, pároco em Cuba. “Apríngio de Beja – Guerreiro de Fé” dá a conhecer a comunidade cristã de Beja, nos primeiros séculos depois do nascimento de Cristo. Ao longo das 284 páginas, divididas em quatro capítulos, podemos encontrar um enquadramento histórico “exaustivo” sobre a cidade de Beja, “a sua relevância e estatuto, acompanhado de centenas de notas e 50 páginas de bibliografia”, bem como a importância da figura de Apríngio para a comunidade religiosa a que presidiu, revela Paulo Reis Godinho ao “Diário do Alentejo”.
“Essencialmente [a obra serve para] dar a conhecer a magnitude da cidade de Beja desde que há memória histórica, bem como a importância da síntese que o cristianismo permitiu entre a herança da Antiguidade Clássica, particularmente a romana, e aquela trazida pelos povos germânicos, vulgarmente chamados bárbaros”, da mesma forma que “apresentar ao grande público uma figura desconhecida, mas profundamente referencial para a Hispânia dos séculos VI a X”.
A obra “Comentário ao Apocalipse de São João”, da autoria do próprio Apríngio, guardada na Biblioteca Nacional de Copenhaga, as referências históricas de diferentes autores até ao século XVII, o material arqueológico disponibilizado e diversos estudos de investigadores portugueses, espanhóis, brasileiros e norte-americanos foram a base documental utilizada para a elaboração da obra.
A conclusão deste primeiro livro de uma trilogia sobre Apríngio e o cristianismo na Península Ibérica durou cerca de 16 anos, 11 dos quais em investigação e cinco em escrita, até a sua publicação. Explica o autor que esta longa linha temporal deveu-se, essencialmente, ao facto de acumular o trabalho de investigação histórica com o paroquial, bem como “à dificuldade de acesso direto às fontes, ao insuficiente investimento na arqueologia na cidade de Beja e ao tratamento incompleto das marcas arqueológicas já descobertas ou sinalizadas”.