Diário do Alentejo

Estudo “Regadio 20/30” com parecer negativo das associações

14 de janeiro 2022 - 15:20

Cinco organizações ambientalistas alertam para a “preocupante expansão” do regadio em Portugal e deram parecer negativo ao estudo “Regadio 20/30 – Levantamento do Potencial de um Desenvolvimento do Regadio de Iniciativa Pública no Horizonte de uma Década”.

 

O estudo “Regadio 20/30” é coordenado pela Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva e com a colaboração de diversas entidades do Ministério da Agricultura, autarquias, empresas, e associações de regantes.

 

No documento, cuja consulta pública termina hoje e segundo o qual Portugal conta com uma superfície irrigável de 626.820 hectares e uma superfície regada de 562.255 hectares, preconiza-se que, “através de uma gestão criteriosa dos recursos hídricos nacionais, há condições para a expansão sustentável do regadio público em Portugal”.

 

Em concreto, o estudo indicam que as regiões a norte do país podem aumentar as áreas de regadio. Enquanto “na região do Alentejo a agricultura de regadio apresenta condições de sustentabilidade económica, técnico e ambiental”, pelo que “deverá, sempre que existirem condições para tal, promover-se a expansão da área de regadio, possibilitando dinamização económico-social do território, em linha com a estratégia de ligação em rede a partir de Alqueva para outros Aproveitamentos, constituindo e si mesmo uma resposta às alterações climáticas”.

 

Na análise do documento as organizações ambientalistas - Geota, ANP/WWF, SPEA, LPN e ProTejo - afirmam que o estudo é setorial, “com objetivos estritamente económicos, não integrando as componentes ecológicas e sociais enfatizadas pela nova Política Agrícola Comum Europeia”, onde é referido que a agricultura e as zonas rurais são fundamentais para o Pacto Ecológico Europeu.

 

O documento não coloca em contraponto a produtividade agrícola e a preservação dos recursos hídricos, do solo e a biodiversidade, nem tem em conta o património cultural e natural, acusam as associações.

 

“A consideração do património natural e cultural é meramente descritiva, não sendo integrada como critério de avaliação para definição dos projetos de regadio, que abrangem mais de 127.000 hectares, o que corresponde a um acréscimo de 22% da superfície agrícola regada a nível nacional, que se junta ao acréscimo de 21% observado entre 2009 e 2019, conforme dados do Recenseamento Agrícola de 2019”, alertam.

 

E dizem ainda, as cinco associações, que o “Projeto Tejo” continua a ser equacionado, apesar dos impactos ecológicos, sociais e económicos associados, e que o empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva, apesar dos “graves impactos ambientais, culturais e sociais”, é considerado uma referência e um caso de sucesso.

 

As associações consideram que o estudo apresenta elementos positivos, nomeadamente a defesa do regadio eficiente, mas apelam “para a necessidade de que o estudo considere também os impactos negativos da expansão do regadio, e que equacione práticas agrícolas alternativas que sejam benéficas ou menos prejudiciais para a economia, o ambiente e a sociedade”.

Comentários