Diário do Alentejo

Descoberta muralha da Idade do Bronze em Mombeja

01 de setembro 2021 - 19:20

Três perguntas a  Miguel Serra, arqueólogo responsável pelo projeto Outeiro do Circo

 

Texto José Serrano

 

Os trabalhos arqueológicos em curso no povoado da Idade do Bronze Final (1250 a 750 a.C.) do Outeiro do Circo, junto a Mombeja, estão a revelar uma muralha em excelente estado de conservação. Como descreve este achado arqueológico?

Já tínhamos escavado esta muralha, numa outra área. As escavações incidem agora sob um troço da muralha que se encontra melhor preservado, por estar uma área que não foi afetada pela agricultura. Isso permitiu não só conservar melhor este troço mas também uma quantidade de materiais que lhe estão associados: um vasto conjunto de cerâmicas, algumas decoradas, e de ossos de animais, que nos permitem retirar informação sobre a economia, a pecuária desta comunidade. Para além do bom estado de conservação da muralha, tivemos a surpresa de este troço ser bastante diferente, em termos construtivos, de um outro troço escavado, a 20 metros deste – aqui a muralha é muito mais larga e robusta, o que dá a indicação que foi sofrendo alterações ao longo do seu tempo de utilização.

 

Quais as informações que estas mais recentes escavações revelam sobre os povos ancestrais que aqui viveram?

Temos a muralha bem documentada, mas continuamos a ter em falta os vestígios habitacionais – os espaços onde esta gente vivia, as cabanas, as lareiras. Estamos a encontrar um conjunto cada vez mais diversificado de objetos do quotidiano, mas falta-nos as estruturas. Poderá significar que, as mesmas, poderão ter existido numa área interior do povoado, com menos solo que poderá ter sido sempre lavrado, impedido a sua preservação. A muralha, que foi acumulando em cima muita terra, não sofreu danos com os trabalhos da agricultura mecanizada, estando claramente bem preservada.

 

O que é expectável ainda encontrar até ao final deste mês, altura em que cessam os trabalhos?

Até ao final da campanha, iremos tentar perceber a técnica construtiva da muralha e escavar o máximo possível da área interior, previsivelmente habitacional, na expectativa de encontrar mais alguns elementos relacionados com a parte doméstica. No final da campanha, para além do estudo das recolhas que fizemos, que vai preencher todo o próximo ano, o grande objetivo é que sejam criadas condições para que toda esta estrutura possa ficar permanentemente à vista, com a possibilidade de criação de um projeto de valorização para este sítio, tornando-o visitável.

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