Diário do Alentejo

Obras do Museu de Beja sem data para o arranque

19 de agosto 2021 - 14:45

As obras de reabilitação do Museu Regional de Beja ainda não têm data prevista de arranque. A diretora regional de Cultura do Alentejo sublinha, no entanto, que estão já em curso “outros programas de trabalho indispensáveis e preparatórios da obra”, nomeadamente, nas áreas da arqueologia e da conservação e restauro. O concurso internacional para diretor do museu, aberto em julho do ano passado, está “em fase de conclusão”.

 

Texto Nélia Pedrosa

 

Ainda não há data para o arranque das obras de reabilitação do Convento de Nossa Senhora da Conceição, que alberga o Museu Regional de Beja, sob tutela da Direção Regional de Cultura do Alentejo (DRCAlentejo) desde 2019.

 

Os trabalhos, orçados em 1,5 milhões de euros e com uma duração prevista de execução de 18 meses, “terão início logo que esteja concluído o processo de concurso público para seleção de empresa de construção a contratar, o que se espera que aconteça em breve”, diz a diretora regional de Cultura do Alentejo ao “Diário do Alentejo”. De acordo com Ana Paula Amendoeira, o processo “está a decorrer com normalidade, mas com a complexidade e morosidade inerentes a este tipo de procedimentos e ao respeito integral do Código de Contratação Pública”.

 

A responsável relembra que o primeiro concurso público para a seleção da empresa, aberto em janeiro último, foi “posteriormente anulado porque todas as propostas recebidas apresentavam orçamentos acima do preço base estabelecido”. Após a revisão do projeto e dos custos estimados para reavaliação do preço base, foi aberto um segundo concurso, “cujo período de audiência prévia de concorrentes acabou de encerrar. Os trabalhos terão início após a apreciação de documentos recebidos nesta fase e a decisão final de adjudicação à empresa que obtenha a melhor classificação”.

 

Elaborado “pelos serviços da Câmara Municipal de Beja, com os contributos da Direção Regional de Cultura do Alentejo para as componentes de acompanhamento arqueológico e de conservação e restauro” e a colaboração da Associação Portas do Território, “que possibilitou a apresentação da candidatura e obtenção do financiamento comunitário”, o projeto de intervenção, refere a diretora regional, contempla “a reabilitação das coberturas e caixilharias, criação de instalações sanitárias, melhoria da acessibilidade física, renovação da instalação elétrica, implantação de sistema de deteção de incêndios e alteração do local de receção de visitantes”.

 

“Este projeto de reabilitação do convento corresponde à primeira etapa de um programa a promover com vista a assegurar as melhores condições de funcionamento do museu. Nesta fase, os objetivos traçados são a qualificação do espaço de acolhimento do público e a criação ou reforço das condições de segurança de pessoas e bens, nomeadamente, os que integram o acervo museológico”, reforça.

 

O financiamento da obra de reabilitação foi assegurado através de uma candidatura apresentada no âmbito do Alentejo 2020. Para a sua viabilização, frisa a responsável, “dadas as condições exigidas pela entidade gestora do programa, foi constituída uma parceria entre a Associação Portas do Território, a Direção Regional de Cultura do Alentejo e a Câmara Municipal de Beja”.

 

TRABALHOS PREPARATÓRIOS “ESTÃO EM CURSO”

 

Ana Paula Amendoeira sublinha, no entanto, que estão já em curso “outros programas de trabalho indispensáveis e preparatórios da obra”, nomeadamente, nas áreas da arqueologia – organização, acondicionamento e deslocação de materiais arqueológicos para espaços de reserva – e da conservação e restauro – intervenções de proteção da azulejaria de revestimento e de acondicionamento de bens para colocação em reserva.

 

Para além desta empreitada, está a ser preparada “a que corresponde ao relevante investimento do Plano de Recuperação e Resiliência, que contempla o museu com intervenções de conservação e recuperação de áreas não incluídas [na outra intervenção], além da digitalização e da criação das visitas virtuais”, “importante intervenção” da responsabilidade da DRCAlentejo.

 

No decorrer das obras de reabilitação do convento, o também denominado Museu Rainha Dona Leonor deverá manter-se “parcialmente aberto, com os ajustamentos necessários em função do plano de trabalhos a decorrer em cada período”, diz a diretora regional. Está em preparação, contudo, “um conjunto de materiais informativos e de divulgação relativos ao museu e aos trabalhos que irão decorrer, de forma a manter a comunicação com o público e a corresponder ao seu interesse pelo património e pelas atividades em curso”.

 

O Núcleo Visigótico, na igreja de Santo Amaro, avança também Ana Paula Amendoeira, reabrirá ao público ainda no decorrer deste ano, “após as obras de requalificação realizadas no imóvel, os trabalhos de manutenção dos suportes museográficos e a intervenção de conservação e restauro das peças expostas”.

 

Quanto ao concurso internacional para diretor do museu, aberto em julho do ano passado, a responsável afirma que “está a decorrer como previsto, dentro da normalidade, em fase de conclusão”. “Os únicos constrangimentos registados decorrem da situação pandémica que interferiu em todos os aspetos da nossa vida. Logo que haja uma decisão do júri ela será tornada pública no tempo e no modo conforme às orientações superiores que nos forem transmitidas”.

 

“CONTÍNUO E INTENSO TRABALHO INVISÍVEL AO PÚBLICO”

 

Após a transferência da tutela para a DRCAlentejo, há cerca de ano e meio, “maioritariamente em contexto de pandemia”, o museu “protagonizou um conjunto de ações estratégicas, de programas de parceria e interações diversas, muitas em colaboração direta com a Câmara de Beja”, nomeadamente, a celebração de um acordo de colaboração com a autarquia “para o desenvolvimento de atividades do museu em articulação com as estruturas museológicas e culturais do município”, realça Ana Paula Amendoeira.

 

A diretora regional considera que “a parceria com o município é absolutamente central e estratégica para o museu” e assim “deverá sempre continuar”: “As relações de colaboração e proximidade são fundamentais para desbloquear e agilizar situações sempre no interesse público deste património tão relevante para a cidade, para a região e para o País”.

 

No âmbito do trabalho que tem vindo a ser desenvolvido, a responsável salienta, ainda, “o contínuo e intenso trabalho de bastidores invisível para o público”, relacionado com “a inventariação, conservação, organização, salvaguarda e restauro dos acervos e criação de condições de reserva para além da criação de condições de estudo, conhecimento, exposição e fruição”. Esta “é a função nuclear de um museu e é importante explicar e transmitir que é preciso um tempo para esse trabalho essencial e ‘sine qua non’ para a implementação de uma estratégia”, diz.

 

APÓS A REABERTURA EM ABRIL, VISITANTES TÊM VINDO A AUMENTAR

 

O Museu Regional de Beja reabriu a 6 de abril, após o segundo confinamento decretado no âmbito do combate à pandemia de covid-19, “com a normalidade possível” e “com a garantia de segurança sanitária” correspondente à atribuição do selo ‘Clean and Safe’. À semelhança de 2020, depois da primeira reabertura em contexto de pandemia, a visita está sujeita a alguns condicionamentos: permanência no interior do museu de um máximo de 10 pessoas, desinfeção de mãos à entrada, uso de máscara permanentemente e afastamento físico em relação a outros visitantes. Em casos especiais, “como pequenas apresentações ou conferências, fora das horas de abertura ao público”, são admitidas “até 30 pessoas”, respeitando as mesmas condições, diz a diretora regional. Tendo em conta que o museu esteve encerrado nos três primeiros meses do ano e que reabriu em abril, “ainda com enormes restrições à circulação interna e ainda maiores às viagens transfronteiriças”, Ana Paula Amendoeira considera a afluência atual de visitantes “bastante animadora”. Apesar das restrições, frisa, “os visitantes têm acorrido em número crescente: em abril, 258; em maio, 590; e, em junho, 953”. “Acreditamos que a situação tende a melhorar e que o número de visitantes poderá vir em breve a suplantar os anteriores à pandemia – 24 921 em 2019)”, conclui.

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