Como não houve diálogo e o processo seguiu o seu curso, “sem qualquer tipo de justificação”, o abaixo-assinado vai no sentido de “solicitar à Câmara explicações, tanto às pessoas que utilizam a Casa como a toda a cidade”. Afirma: “Nós percebemos que, agora, com a pandemia, as coisas alteram-se. Mas alterar não quer dizer que se tenha que fechar tudo, e que se aproveite a situação para pôr em prática coisas que, se calhar, já estavam pensadas há muito tempo.”
O utilizador da Casa da Cultura explica que, embora os ateliers possam ter poucos alunos, acabam por ser de grande importância, porque vêm dar uma dinâmica na parte cultural, que a cidade não pode dar de outra forma. “Não há muitas outras alternativas. Beja é uma cidade pequena, e, por isso, em termos culturais ainda mais pequena é”. Por outro lado, acrescenta que a decisão vem afetar “alguns formadores cuja única fonte de rendimento eram as aulas que ali davam em regime pós-laboral”
“A CULTURA É PARA TODA A GENTE”
“Pode-se entender o espaço cultural como uma coisa para dar aos miúdos e para as escolas, mas a cultura é para toda a gente. Há muitas pessoas, de várias idades, que tem interesse em frequentá-lo, mas em horário pós-laboral”, diz perentório.
Ainda de acordo com Simão Matos, durante muitos anos a Casa da Cultura de Beja “teve altos e baixos e gestões diferentes”, mas, neste momento, “as coisas estavam a funcionar muito bem”, com ateliers importantes a funcionar e pessoas a frequentá-los. Posto isto, diz que não consegue entender a decisão da Câmara. E dá o exemplo de um dos ateliers mais importantes, o de Banda Desenhada e Ilustração, que reúne “entre 12 e 14” pessoas, e ilustradores vencedores de vários prémios nacionais como Paulo Monteiro, Susana Monteiro e Rita Cortez, entre outros nomes de referência na área. “Cortar um atelier como aquele é cortar a veia criativa, pois havia edições que se estavam a preparar.” Por outro lado, “o atelier na Casa da Cultura, à noite, é muito importante para a execução do Festival de Banda Desenhada, porque uma grande parte das pessoas que lá está, ajuda a fazer este festival, é voluntária”.
Segundo Simão Matos, por uma questão formal, o abaixo-assinado foi entregue no Município e agora o grupo de utilizadores, monitores e alunos, espera uma resposta atempada da autarquia. Ou, dito de forma direta, “que o assunto não se dilua nas férias”.
Contactada pelo “Diário do Alentejo” para comentar os acontecimentos, a Câmara Municipal de Beja disse que se irá “pronunciar sobre o assunto, em momento oportuno”.
Bandas de músicas também são prejudicadas
Para além do espaço onde vários ateliers funcionam em horário pós-laboral, a Casa da Cultura de Beja é lugar de ensaios de algumas bandas de música, também à noite. “Neste momento, esses grupos estão um pouco comprometidos porque têm o material lá e não sabem se podem aceder ou não ao espaço, que fecha às 17h 30”, observa Simão Matos, sublinhado, uma vez mais, a necessidade de uma rápida resposta do município ao exposto e pedido no abaixo-assinado. Face a tudo isto, conclui, reafirmando: “Não creio que seja a melhor solução acabar com uma coisa [encerrar o espaço a partir das 17:30 horas], de um momento para o outro, e sem falar com as pessoas envolvidas que, como se vê, são muitas”.