Diário do Alentejo

Fórum Romano de Beja poderá ser visitável em 2022

12 de junho 2020 - 11:00

A Câmara Municipal de Beja já assegurou cerca de metade da verba necessária para “estabilizar, conservar e tornar visitável” o Fórum Romano no Centro Histórico da cidade. Paulo Arsénio acredita que parte substancial do restante chegará através de um empréstimo ao Banco Europeu de Investimento (BEI) e que as estruturas arqueológicas possam ser abertas ao público em 2022.

 

Texto Aníbal Fernandes

 

Depois de dois anos de avanços e recuos em busca de uma solução para o Fórum Romano de Beja e após um processo de discussão pública que teve lugar em fevereiro passado, “para tentar estabelecer pontes entre as partes muito desavindas” acerca do tipo de intervenção a ter no local, o presidente da Câmara Municipal de Beja mostra-se convicto de se ter “chegado a bom porto”. Paulo Arsénio diz que “qualquer que fosse a solução não agradaria a todos”, mas diz-se satisfeito com o projeto que “reduz o nível de construção” no local e irá permitir a visualização do sítio arqueológico a partir da Rua da Moeda.

 

O gabinete de arquitetura Vítor Mestre/Sofia Aleixo, escolhido pela anterior vereação, contactado pelo “Diário do Alentejo”, explicou que “as posições [entre arquitetos e arqueólogos] se conciliaram” tendo em vista “a articulação entre os valores arqueológicos em presença, com a forma de os comunicar eficazmente ao cidadão não especialista, num circuito de visita”.

 

Ainda segundo os técnicos responsáveis pelo projeto, “essa articulação, foi alcançada com os sábios contributos” dos arqueólogos Adília Alarcão e Jorge Alarcão, o que permitiu “otimizar o projeto de arquitetura em sintonia com a definição do circuito de visita”.

 

O projeto orçado em 1,550 milhões de euros é financiado pelo Feder em 750 mil euros e, até ao fim de maio, será objeto de uma candidatura a um empréstimo ao BEI a 15 anos, com dois de carência, no montante de 630 mil euros. “O restante será assegurado pela tesouraria da Câmara Municipal de Beja”, garante Paulo Arsénio.

 

No entanto, ainda há passos a dar para a concretização do processo. Para já é preciso conseguir o empréstimo, mas o autarca não vê “razões para que isso não aconteça”. Depois será necessário lançar o concurso da obra, adjudicá-la e obter o visto do Tribunal de Contas. Se tudo correr como previsto, em 2021 as obras poderão começar e, durante o segundo semestre de 2022, “finalmente”, Beja poderá mostrar o Fórum Romano, estrutura “essencial” para afirmar a cidade “como centro nevrálgico do estudo da época romana” em Portugal, diz o autarca.

 

ARTICULAR O PASSADO COM O PRESENTE

A solução arquitetónica encontrada vai permitir uma “articulação sociocultural entre o passado histórico e a vida contemporânea da cidade de Beja, que procura integrar-se na política de salvaguarda e valorização do centro histórico e no espírito de cidade cosmopolita em que o património contribui de forma culta para a fruição dos seus valores pela comunidade e visitantes, dizem os autores do projeto.

 

O “Diário do Alentejo” quis ainda saber se esta solução será definitiva ou se prevê que, no futuro, seja possível realizar novas escavações. “A proposta arquitetónica baseia-se no conceito de reversibilidade/flexibilidade que consideramos necessário e inerente quando se concebe para um sítio com várias camadas de história no seu subsolo”.

 

Ou seja, explicam os arquitetos, é uma solução “definitiva no e para o atual tempo histórico, na justa medida em que responde ao programa a instalar e às condicionantes arqueológicas, permitindo, pela utilização de pavimento modular amovível, manter o edifício em funcionamento e, simultaneamente, proceder a escavações no subsolo”. Mas, acrescentam, também não é uma proposta “definitiva” uma vez que “o sistema estrutural por aparafusamento permite a sua desmontagem e remontagem, valorizando o investimento económico da construção noutro local, se assim se entender”.

 

A IMPORTÂNCIA DE BEJA

“Este conjunto de estruturas, num espaço tão concentrado como este, muito dificilmente se encontra no centro histórico de qualquer cidade”, disse ao “Diário do Alentejo, em agosto de 2018, a arqueóloga Conceição Lopes, responsável pelas escavações durante décadas. Opinião que é acompanhada por Jorge Alarcão, professor catedrático, consagrado investigador deste período histórico e divulgador de Conímbriga que, por seu lado, considerava, em finais de 2017, que a cidade de Beja “era uma cidade muito importante. Aliás não só uma cidade muito importante na época romana, mas uma cidade que já era importante no período anterior aos romanos”.

 

O sítio arqueológico do centro histórico de Beja tem a particularidade de apresentar no mesmo local o período republicano, o período augustano e o templo de culto imperial construído no tempo de Tibério, o que o torna num “complexo histórico e arqueológico fabuloso”, diz Conceição Lopes. Concluindo: “a cidade romana de Beja era muito mais importante do que a cidade romana de Conímbriga”, garante Jorge Alarcão.

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