O cantor António Zambujo rodeou-se de dois amigos e lançou uma linha de vinhos super premium com o seu nome. Reconstruiram uma adega centenária para o estágio dos vinhos, que se converteu também num wine bar e num local de intercâmbio artístico, musical e cultural em Vila de Frades – a adega da Zabele.
Texto Manuel BaiôaFotos Ricardo Zambujo
A ideia de lançar este projeto começou a germinar num “daqueles almoços que juntam amigos e que se prolongam pela noite dentro no Alentejo”, conforme relata João Pedro Baião. Posteriormente, “a ideia foi ganhando formato e amadurecendo, dando origem a melodias irreverentes, mas, desta vez, em estado líquido”. António Zambujo sempre foi um profundo apreciador de vinhos e decidiu juntar ideias e sinergias com Luís Morgado Leão, um dos enólogos mais conceituados do Baixo Alentejo, e com o empresário local João Pedro Baião, para lançarem a marca de vinhos António Zambujo.
Adega da Zabele Os primeiros passos passaram pela identificação, compra e reconstrução de uma adega secular (1879) em Vila de Frades (Vidigueira), situada ao lado do Centro Interpretativo do Vinho de Talha. João Pedro Baião conta que dos “vários nomes cogitados para a adega surgiu a palavra ‘Zabele’, que é um termo regional que reúne as iniciais dos três sócios, Za de Zambujo, B de Baião e Le de Leão”. António Zambujo relembra que “no Alentejo, a Isabel é a Zabele. É a prima Zabele, a comadre Zabele. E assim é um nome que remete para as nossas raízes”.
Este espaço multifuncional agrega a função de local de estágio dos vinhos em barricas de carvalho e de taberna requintada. A mesma abre de sexta-feira a domingo, tendo, para além dos seus vinhos, outras referências de várias empresas vinícolas da região. Os preços dos vinhos são iguais aos praticados nas várias adegas parceiras, podendo ainda ser bebidos no local com uma taxa de rolha de cinco euros, acompanhados por vários petiscos regionais, entre queijos, enchidos e enlatados.
Mas a adega da Zabele é muito mais do que um local de estágio de vinhos, garrafeira e wine bar, pois é também um espaço para outras expressões de arte. António Zambujo pretende que a adega se transforme numa espécie de “residência artística de várias áreas, da pintura, da escultura e da música”. Desde o início do outono “tem havido uma noite por mês dedicado ao cante”, tendo já passado por este espaço nomes consagrados da música portuguesa como Pedro Abrunhosa, Tiago Nogueira, Ricardo Ribeiro e, obviamente, António Zambujo. Em cada um dos jantares são servidos vinhos de uma adega parceira. A adega da Zabele também quer ser uma montra para os artistas locais e por isso nas suas paredes já estiveram patentes pinturas e desenhos do artista alentejano Flávio Horta, com a exposição “Gente da terra ardente”.
Os vinhos António Zambujo Os vinhos António Zambujo pretendem contar a sua história discográfica, que já apresenta 10 discos, através de vários estilos de vinhos com composições de castas diversas, que têm os nomes dos diversos álbuns do artista. Neste momento foram lançados três vinhos, correspondentes ao terceiro, quarto e quinto discos (“Outro sentido”, “Guia” e “Quinto”). Foram feitos 1000 packs com as três garrafas (PVP: 310 euros), onde cada marca tem uma casta ou um blend diferente e todos eles estagiaram 18 meses em barricas de carvalho francês.
Luís Morgado Leão, que supervisiona a parte enológica do projeto, referiu que uma vez que a “sociedade não tem vinhas próprias”, adquirem “lotes de vinhos em adegas parceiras, cujo posterior envelhecimento decorre nas barricas na nossa adega e, mais tarde, fazemos um lote ao gosto dos três, que vá ao encontro do que esperamos encontrar num vinho de grande qualidade e na ligação ao álbum que o mesmo retrata”. Os três vinhos agora lançados são vinhos regionais alentejanos, mas, de futuro, haverá vinhos de outras regiões, como será o caso “Do avesso”, que será um vinho da casta Avesso da região dos vinhos verdes. Ainda em 2024 serão disponibilizadas 600 garrafas magnum referentes aos dois primeiros álbuns (“O mesmo fado” e “Por meu cante”), os que estão mais intimamente ligados às raízes de António Zambujo, o fado e o cante, e que serão um espelho das garrafas a apresentar. Estes vinhos precisaram de um maior tempo de estágio para mostrar todo o seu potencial. Em 2025 será lançada uma nova trilogia correspondente aos álbuns que se seguiram (“Rua da emenda”, “Até pensei que fosse minha” e “Do Avesso”), em igual quantidade deste primeiro pack.
Os vinhos António Zambujo, à semelhança dos seus discos, pretendem mostrar as várias influências que têm pautado a sua carreira, a começar pelas alentejanas e pelo fado, mas também as urbanas e internacionais, num registo de grande sofisticação e excelência.
“Outro sentido 2020”Vinho regional alentejano, tintoAdega da ZabeleCasta: Petit VerdotApresenta cor rubi intensa, aroma a fruta vermelha e notas vegetais vibrantes. Poderoso e fresco, impressiona pela excelente harmonia entre a fruta e a madeira. Um dos grandes Petit Verdot portugueses. É o acompanhamento perfeito para pratos de caça ou carnes vermelhas.14% vol.
“Guia 2020”Vinho Regional Alentejano, tintoAdega da ZabeleCastas: Trincadeira e AragonezÉ o mais genuíno alentejano dos três vinhos, pois combina as castas tintas mais emblemáticas do Alentejo. Apresenta cor rubi de média intensidade e mostra um aroma de frutos do bosque complexo e taninos que lhe auguram longa vida, num registo clássico, em que a complexidade e a frescura se entrelaçam. É vinho ideal para harmonizar com vários pratos da cozinha alentejana de inverno.14% vol.
“Quinto 2020”Vinho regional alentejano, tintoAdega da ZabeleCastas: Trincadeira e SyrahApresenta uma cor rubi de grande intensidade e revela uma fruta preta compotada, sabor intenso e profundo, com notas de iodo, menta e chocolate preto. Combina a casta regional Trincadeira, que ancora frescura e alguma rusticidade, à casta internacional Syrah, que aporta fruta madura. Pode harmonizar com pratos condimentados e complexos da cozinha internacional.14% vol.