Texto Manuel Baiôa
No Sul do Alentejo a tradição de produzir aguardente de medronho está mais associada às regiões que confinam com a serra do Caldeirão, em particular o concelho de Almodôvar. No entanto, os medronheiros (arbutus unedo) encontram-se espalhados por diversas áreas, em particular nas serras alentejanas, em zonas de elevado declive e solos siliciosos pobres de arenito ou rochas metamórficas e magmáticas, como o quartzo e o xisto. A serra do Mendro, entre Vidigueira e Portel, é um dos locais onde podemos encontrar medronheiros, que se distinguem facilmente no outono pelos frutos encarniçados, indicando que a apanha está para breve. A cultura do medronho está a crescer na serra do Mendro, existindo em Alqueva o Museu do Medronho.
Na Herdade Aldeia de Cima, entre Vidigueira e Portel, Luísa Amorim e Francisco Rêgo têm vindo a recuperar o montado para a produção de cortiça e pastagem de ovelhas e reativaram algumas culturas tradicionais do Alentejo, como o vinho, o mel e, mais recentemente, a aguardente de medronho.
O medronheiro, uma espécie arbustiva de porte elevado, encontra condições perfeitas para a sua propagação espontânea na serra do Mendro, onde a altitude e os solos esqueléticos de xisto favorecem o seu crescimento e a acidez do fruto. A partir de um estudo geológico que permite analisar os perfis do solo mais adequados, foram identificados 25 hectares com boas condições, nascendo, assim, a ideia de selecionar em viveiro as plantas mais robustas e promissoras, por forma a micropropagar em vasos e, mais tarde, plantar os primeiros cinco hectares na zona dos Alfaiates, no cimo da serra do Mendro. Esta mancha arbustiva, que enriquece o enclave entre a vinha em patamares e a floresta de montado, promove a biodiversidade e a fixação de auxiliares das diferentes culturas.
O medronho e a sua aguardente fazem parte da tradição secular do Sul de Portugal, apreciado ao longo de gerações pela sua elegância e frescura aromática. Em 2021, com os enólogos Jorge Alves e António Cavalheiro, inicia-se a primeira colheita com a apanha manual de medronhos selvagens existentes na Herdade Aldeia de Cima e noutras herdades vizinhas, conseguindo destilar cerca de 500 litros (3500 quilos) e produzir a primeira aguardente de medronho da Herdade da Aldeia de Cima com 48 por cento (teor alcoólico). Com um design depurado e uma rolha em cortiça criada especificamente para esta aguardente, foi desenvolvida uma caixa individual em formato de um monte alentejano, com uma pequena porta amarela que simboliza a autenticidade e a frescura do medronho e a cor do ponto ideal para a sua colheita.
Tradicionalmente consumida como digestivo, a aguardente de medronho é uma bebida espirituosa, aromática e incolor. A sua versatilidade permite adicioná-la a vários cocktails ou simplesmente bebida com café ou doces. No entanto, aconselha-se que a aguardente de medronho da Herdade Aldeia de Cima seja servida pura e em pequenos copos à temperatura ambiente. Apresenta-se límpida, transparente, quase cristalina, com um aroma levemente frutado. Na boca mostrar-se fina e suave, com notas florais e de frutos de coroço, num registo menos rústico do que as aguardentes tradicionais. PVP: 65 €