Texto Manuel Baiôa
A Adega de Borba foi constituída em 1955 por um grupo de viticultores da região com o objetivo de valorizar as suas uvas e controlar a qualidade do vinho colocado no mercado com o nome de Borba. Atualmente esta cooperativa conta com 270 sócios, tendo uma área de vinha em exploração de 2.220 hectares, distribuídos por 70% de castas tintas e 30% de castas brancas.
Nos anos 50 e 60 do século passado os vinhos alentejanos eram muito diferentes dos de hoje. A produção de vinho estava pulverizada em pequenas adegas tradicionais, quase exclusivamente de talhas. Estas adegas situavam-se maioritariamente em casa de habitação ou em pequenas empresas, dispersas pelos montes, aldeias e vilas. O vinho produzido era depois comprado por “intermediários” e “armazenistas” que controlavam o mercado e os preços. As adegas cooperativas que foram criadas nos anos 50 e 60 no Alentejo procuraram ganhar escala e massa crítica, apostaram em novas tecnologias e em marcas comerciais fortes.
Os viticultores alentejanos deixaram assim de vender vinho e passaram a vender uvas às cooperativas. Foi neste processo que centenas de pequenas adegas de vinho de talha foram encerrando, pois, as uvas passaram a ser encaminhadas para as cooperativas que as vinificavam em grandes depósitos de cimento.
Com o recente ressurgimento dos vinhos de talha algumas adegas cooperativas não quiseram ficar à margem deste movimento. A Adega de Borba tem um portefólio muito diversificado, mas faltava-lhe um vinho de talha. Em 2016 surgiu o primeiro vinho de talha tinto, e agora, chegou a vez de apresentarem um vinho de talha branco.
O Talhas de Borba Branco 2021 é um DOC Alentejo produzido com uvas das castas autóctones Rabo de Ovelha, Tamarez e Roupeiro, selecionadas em parcelas de vinha em sistema de produção integrada. Estas castas antigas representam bem o passado do Alentejo e têm estado infelizmente afastadas da ribalta.
No processo produtivo deste vinho de talha, as uvas são despejadas num pequeno tegão, desengaçadas por um ‘desengaçador por oscilação’ e colocadas em simultâneo com o sumo dentro das talhas, onde ocorre a fermentação. Durante as 3 a 4 semanas em que decorre a fermentação, as massas sobem à superfície da talha, sendo necessário passar à remontagem. Esta operação consiste em misturar o mosto com as películas e grainhas da uva, sendo a parte sólida mergulhada na parte líquida. Concluída a fermentação e de forma lenta, dia após dia, as películas e grainhas vão caindo para o fundo da talha, formando uma manta compacta, conhecida por ‘mãe’. Esta manta tem como função principal filtrar naturalmente o vinho para que fique pronto a beber quando sai da talha por gravidade. Este vinho teve uma intervenção enológica mínima, usando-se apenas as leveduras indígenas e sem qualquer correção aditiva.
O Talhas de Borba Branco 2021 apresenta uma cor limão maduro, aroma suave com notas florais e de fruta madura, com destaque para o marmelo.
Tem um teor alcoólico baixo, de 12% vol., como era apanágio dos grandes vinhos alentejanos do passado. Este vinho deve ter sido tirado da “mãe” em novembro, não tendo, por isso, uma concentração e rusticidade tão grande como outros vinhos de talha do Alentejo, que têm uma curtimenta mais longa. É por isso um bom cartão de visita para uma primeira aproximação aos consumidores que desconhecem este vinho ancestral, mas que procuram conhecer vinhos de perfil tradicional.
Este vinho está vocacionado para acompanhar os petiscos e os pratos típicos da região do Alentejo. PVP: 6,5€.