O Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo (PSVA), desenvolvido pela Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (Vinhos do Alentejo) permitiu colocar a região na sétima posição de destinos a visitar em 2022 pelo jornal americano The New York Times.
Texto Ana Filipa Sousa de Sousa
O projeto, iniciado em 2015, apresenta-se com o objetivo principal de promover a sustentabilidade “nos seus três eixos fundamentais”, ou seja, “o planeta, as pessoas e o progresso” colocando-os “no mesmo grau de importância, ao mesmo tempo que procura uma colaboração e adoção de melhores práticas por parte de todos os produtores alentejanos”, revela, ao “Diário do Alentejo” (DA), o coordenador do PSVA, João Barroso.
“Queremos garantir, de facto uma produção vitivinícola com menos impactos negativos ao nível ambiental, mas não poderíamos fazê-lo se essas mudanças que pretendemos promover não fossem economicamente atrativas, e se, do mesmo modo, não viessem acompanhadas de boas e justas condições de trabalho”, garante João Barroso.
Esta ‘mudança’ passa por investir, a nível ambiental, na poupança e eficiência do uso de água e energia, na redução do uso de químicos, na adoção de material amigo do ambiente, na aprendizagem de uma boa compostagem e economia circular, para além da proteção e promoção da biodiversidade nas vinhas. Bem como, na aposta na capacidade de comunicação das herdades com as suas “vizinhas” e nas relações com a comunidade local, na garantia de condições de trabalho justas, no pagamento de bons salários e, inclusive, na consciencialização e formação dos trabalhadores das empresas-membros para a sustentabilidade e consequente alteração de hábitos com impactos negativos.
Ainda assim, o coordenador do PSVA afirma que a “principal medida é exatamente o facto de não deixarmos ninguém para trás, desde o pequeno produtor ao maior, fazer com que todos embarquem neste programa e movam a região a uma só voz no sentido de um futuro mais sustentável”.
A adoção de parâmetros mais eficientes permite, não só gerar “poupanças económicas importantes para as empresas”, mas especialmente abrir caminho para novos mercados de exportação que valorizam essas práticas, através da conclusão do processo e da obtenção do selo de certificação de produção sustentável lançado em 2020.
A participação das herdades no PSVA é gratuita e voluntária, sendo para tal necessário contactar a Comissão Vitivinícola Regional Alentejana.
Atualmente, o projeto conta com 483 membros que englobam cerca de 10.834 hectares e 76 milhões de litros de vinho com indicação geográfica (IG) e denominação de origem (DO). De entre os quais, na região do Baixo Alentejo, encontram-se a Herdade da Malhadinha Nova, a Herdade da Mingorra, a Herdade da Figueirinha, a Herdade do Sobroso, a Herdade dos Grous e a Herdade do Paço do Conde, entre outras.
Para Rita Soares, CEO da Herdade da Malhadinha Nova, em Albernoa, o PCVA veio “comprovar as práticas e a visão estratégica da herdade desde o início”, nas mais variadas vertentes: económica, social e ambiental. Este realçar de estratégias tem permitido levar à “qualidade e autenticidade dos vinhos” comprovada pelo consumidor, servindo de “motor de resultados práticos excelentes” comprovados pela última “excelente nomeação internacional”.
O projeto e os Vinhos do Alentejo fazem ainda parte da iniciativa “4 pour 1000” que trabalha em prol da luta de adaptação face às alterações climáticas através da exploração do papel dos solos agrícolas na captação de dióxidos de carbono (CO2) presente na atmosfera e na garantia de segurança alimentar.
Questionado quanto ao futuro, João Barroso revela ao DA que a meta central “só estará finalmente a ser cumprida quando a totalidade dos produtores de vinho alentejanos estiverem integrados no PVSA”, sendo que, no presente, os membros representam 45 por cento da área de vinha do Alentejo. João Barroso sublinha ainda que o programa, como comprovado pelo The New York Times, “não se encerra na produção de vinhos, mas produz efeitos muito positivos para toda a região, comunidade e, até, para o país, ao nível da sua imagem externa enquanto importante motor da sustentabilidade do setor vitivinícola, destino turístico de excelência ou produtor vitivinícola ao nível dos melhores do mundo”.
Por fim, João Barroso acredita que o programa pioneiro em Portugal fez a diferença, mostrando que “não só era possível, como era vantajoso potenciar mudanças profundas, mas exequíveis, e de acordo com as necessidades e particularidades de cada produtor”. Para além de consciencializar “de que é preciso fazer mais e melhor para garantir-mos um amanhã mais risonho, e no Alentejo, gostamos de pensar que fizemos parte dessa mudança”, conclui.