Texto Manuel Baiôa
João Portugal Ramos nasceu em 1953 numa família com tradições na agricultura e na produção de vinhos na região de Lisboa.
Licenciou-se em Agronomia pelo Instituto Superior de Agronomia e estagiou no Centro de Estudos da Estação Vitivinícola Nacional de Dois Portos. Após a conclusão da sua formação foi convidado em 1980 por José Maria Almodôvar para enólogo gerente da Adega Cooperativa de Vidigueira, Cuba e Alvito. Foi nesta adega que iniciou um trabalho consistente de melhoria dos vinhos alentejanos, apostando na ciência e na tecnologia para revelar todo o potencial da região. Devido à sua insistência foi adquirido o primeiro sistema de frio do Alentejo, o que possibilitou diminuir a adição de sulfuroso nos mostos, revelando, assim, com maior precisão e pureza, os aromas e sabores das castas alentejanas. Começou também a estudar os diferentes solos do território, no sentido de corrigir algumas insuficiências dos mesmos, o que evitava a adição de grandes quantidades de ácido tartárico na adega para aumentar a acidez dos vinhos.
Em 1982 foi convidado por José Maria Almodôvar para trabalhar na Sociedade dos Azeites de Moura e na Casa Agrícola Almodôvar, onde pôde fazer o seu primeiro vinho de raiz, o Paço dos Infantes, uma das primeiras marcas criadas por um produtor-engarrafador do Alentejo. Nessa altura havia apenas seis adegas cooperativas e cinco casas históricas na região - Herdade do Mouchão, Tapada do Chaves, Quinta do Carmo, Montes Claros e a Casa Agrícola José de Sousa Rosado Fernandes. Contudo, estas casas produziam poucas garrafas e estavam a passar por uma fase difícil, após o período das ocupações durante a Reforma Agrária. O “Paço dos Infantes” tornou-se num vinho emblemático, acumulando prémios, como por exemplo o do Melhor Vinho na Produção de 1984, projetando João Portugal Ramos para outros desafios.
PRODUTOR EM ESTREMOZ
Todo o enólogo sonha plantar uma vinha e lançar-se como produtor.
João Portugal Ramos comprou um monte em Estremoz e plantou os seus primeiros cinco hectares de vinha em 1989, numa região que identificou como uma das mais propícias para a cultura da vinha no Alentejo. Em 1992 realizou a primeira vindima das suas uvas e lançou a marca Vila Santa. Foram anos de grande crescimento e de afirmação de diferentes marcas, como o Marquês de Borba Reserva surgido em 1997 e do Marquês de Borba colheita que nasceu no ano seguinte. É nestes anos que eu surjo nesta história, enquanto jovem e inexperiente consumidor de vinhos.
Lembro-me bem do espanto e satisfação ao provar os primeiros vinhos de João Portugal Ramos. Eu e os meus amigos ficamos deliciados e apaixonados por estes vinhos, pois eram diferentes daquilo que estávamos habituados a consumir, uma vez que aportavam aromas e sabores frutados, intensos e estimulantes. A maioria dos vinhos portugueses dessa altura apresentavam-se oxidados e iam tarde para a garrafa, tendo já perdido os aromas e sabores frutados. João Portugal Ramos ajudou a colocar o Alentejo no topo das preferências dos consumidores e à frente das outras regiões. Os vinhos do Alentejo passaram a ser engarrafados mais cedo e apresentavam-se jovens, gulosos e sumarentos.
O sucesso empresarial de João Portugal Ramos no Alentejo levou-o a expandir-se para outras regiões portuguesas, devido à necessidade de apresentar um portefólio diversificado, principalmente nos mercados internacionais. Entre as diferentes marcas do seu extenso portefólio aprecio particularmente o Marquês de Borba Vinhas Velhas, nas versões branco e tinto. São vinhos que aliam a modernidade da casa com as vinhas velhas do Alentejo, conjugando assim a tradição com a contemporaneidade.
MARQUÊS DE BORBA - VINHAS VELHAS BRANCO 2020
Este vinho é marcado pelas vinhas velhas e por uma excelente acidez natural das uvas provenientes da região de Estremoz. As uvas depois de colhidas passam 24 horas numa câmara frigorífica, para arrefecê-las e para que exista alguma maceração pelicular. O arranque da fermentação ocorre em cubas de inox e posteriormente o vinho é transferido para barricas de 500 litros (carvalho húngaro e francês), onde acaba a fermentação e estagia com as borras finas durante oito meses. O vinho apresenta um aroma em que os frutos citrinos contidos e a flor de laranjeira se conjugam na perfeição com as notas fumadas do estágio em madeira. Na boca percecionamos um vinho concentrado, cremoso, complexo e intenso, onde a gordura proveniente do longo estágio e a mineralidade se fundem com a fruta de caroço, num final longo, fresco e seco. 12,5% vol.