Texto Manuel Baiôa
A Herdade do Esporão situa-se em Reguengos de Monsaraz e mantém a estrutura clássica das grandes propriedades agrícolas do Alentejo, com uma vasta área de vinha, olival e montado. Esta herdade tem uma longa história, havendo registos desde 1267. No final do século XV o seu proprietário, D. Álvaro Mendes de Vasconcelos, cavaleiro da casa do Duque de Bragança e regedor de Évora, mandou edificar a Torre do Esporão, como atributo do seu senhorio e do seu poder militar, que hoje é o símbolo da empresa.
A Herdade do Esporão foi adquirida em 1973 aos condes de Alcáçovas por José Roquette, iniciando-se assim uma nova vida para esta propriedade. Contudo, as ocupações e a Reforma Agrária adiaram por alguns anos a restruturação que já estava em curso. Em 1985 foi produzido o primeiro vinho, o Esporão Reserva, a grande referência da casa, e que hoje vamos apresentar a sua mais recente colheita.
O Esporão nasceu e cresceu em paralelo com a era moderna do vinho alentejano. Sempre foi um produtor ícone e de referência para o setor, e continua a inovar com a sua aposta na agricultura biológica e sustentável. Em 2007, já sob a liderança de João Roquette, filho de José Roquette, iniciou uma transição para este modo de produção, tendo em 2015 certificado os primeiros vinhos biológicos. Em 2019 o processo de reconversão foi concluído com êxito e todos os vinhos da marca Esporão passaram a ostentar o selo de produção biológica.
Esta mudança de “filosofia” levou a uma alteração nas práticas agrícolas, com o objetivo de proteger os recursos naturais, garantindo a qualidade dos solos e plantas, e consequentemente, dos produtos. Esta agricultura não luta contra a natureza, procura sim a ajuda da natureza para produzir produtos de qualidade e “saudáveis”.
Foram implementadas uma série de práticas ancestrais, como a plantação de plantas entre linhas, que enriquecem o solo de azoto, a reduzida mobilização de solos, a plantação de sebes como madressilva, medronheiros, aroeiras, loureiros e outros arbustos, habitat de alguns insetos auxiliares no controle das pragas, como as joaninhas.
Estas práticas tradicionais conjugadas com outras modernas, no sentido do rigor técnico e científico, permitiram ao Esporão apresentar produtos de grande produção, mas com aromas e sabores autênticos.
O vinho Esporão Reserva apresenta desde a sua primeira edição, em 1985, uma estreita ligação à arte, pois em cada colheita é convidado um artista diferente para ilustrar o seu rótulo. O de 2018 conjuga a cultura universal do vinho e da arte através da ilustração da fotógrafa Anne Geene. O vinho foi elaborado pelos enólogos David Baverstock e Sandra Alves a partir de uma grande multiplicidade de castas: Aragonez, Trincadeira, Syrah, Touriga Nacional, Touriga Franca, Cabernet Sauvignon e Alicante Bouschet. As uvas que lhe deram origem provêm das melhores parcelas da herdade, tendo sido colhidas à mão e depois vinificadas, cada casta em separado, em depósitos de pequena capacidade com controlo de temperatura. Posteriormente, o vinho estagia em barricas de carvalho americano e francês durante 12 meses, seguidos de, pelo menos, mais oito meses em garrafa.
O Esporão Reserva tinto 2018 revela um aroma ainda um pouco fechado, com notas complexas de frutos pretos, e especiarias, chocolate e café provenientes do estágio em madeira. Na boca mostra grande suavidade e taninos de veludo. Embora seja um vinho intenso (14,5 por cento de álcool), todos os componentes estão em perfeita harmonia e equilíbrio: pureza da fruta, volume de boca, frescura e persistência. Está já num ótimo momento de prova, mas melhorará certamente com mais alguns anos de estágio em garrafeira.
Este vinho tem a particularidade de agradar tanto aos iniciantes no mundo dos vinhos, como aos maiores “enochatos” e snobes dos enófilos. Por isso, se está indeciso sobre que vinho levar para um jantar de amigos, o Esporão Reserva é a solução, pois alia sempre grande qualidade e consistência ao longo dos anos. PVP: 20 euros.