Numa reportagem publicada no dia 17 de setembro de 2021, no “Diário do Alentejo”, apresentamos os resultados de uma prova cega realizada sobre os vinhos brancos alentejanos da categoria ‘super premium’ e relatamos a transformação que estava a ocorrer nos vinhos deste segmento. Ao mesmo tempo, uma questão subliminar percorria toda a reportagem: pode afinal o Alentejo fazer vinhos brancos de topo e rivalizar com outras regiões? O Alentejo é muitas vezes acusado, em grande parte devido ao clima, de não ter as melhores condições para produzir vinhos brancos de primeira linha.
Após a prova efetuada, parece-nos que a resposta só pode ser um rotundo, sim. Esta prova demonstrou que o Alentejo possui excelentes vinhos brancos de topo, comparáveis com os melhores brancos de outras regiões portuguesas e internacionais. Poderemos considerar que os brancos de topo do Alentejo ainda são poucos, quando comparados com os de outras regiões, pelo menos em termos proporcionais. Podemos também admitir que muitos produtores, por questões de tradição e de cultura, têm investido mais nos tintos do que nos brancos, o que poderá constituir a razão para que tal aconteça.
Atualmente, contudo, é inequívoca a aposta que a generalidade dos produtores do Alentejo faz nos vinhos brancos de topo, também pela, acreditamos, exigência do mercado e dos enófilos. Para todos os efeitos, num mercado mais maduro e exigente como o que hoje existe em Portugal, a um grande produtor exigem-se grandes vinhos: tintos, brancos e provavelmente muito em breve, rosados.
Para além disso, como a prova demonstrou, os brancos de topo do Alentejo mostram-se com estilos muito diversificados, o que é algo que poucos se atreveriam a prognosticar há alguns anos. Relembramos que encontramos sete estilos de vinhos brancos: Antão Vaz da Vidigueira; Serra de São Mamede / Portalegre; Vinho de Talha; Moderno e Internacional; Castas Esquecidas; Clássico; Alentejo Fresco e Austero. Talvez até possamos dizer que são demasiados estilos, pois os consumidores poderão ficar confusos com tal diversidade. Por isso é necessário explicar bem os caminhos que cada produtor está a tomar. Uma boa comunicação, a par de uma boa história, é fundamental para conquistar e fidelizar o consumidor, mesmo o mais esclarecido que, acreditamos, será o comprador natural destes vinhos.
Esta evolução vem também mostrar, uma vez mais, a dinâmica e a irreverência dos produtores alentejanos, que, sempre insatisfeitos, ousam quebrar barreiras e explorar novos e antigos caminhos para alcançar um produto final de excelência. Da mesma forma que recorrem a novos e sofisticados processos de vinificação, a novas castas e a novos equipamentos, não hesitam em revisitar a história na busca de saberes antigos, revitalizando vinhas velhas e castas quase desaparecidas e recuperando antigos processos de vinificação, em que o ressurgimento do vinho de talha será talvez o melhor exemplo.
Texto Manuel Baiôa e João Pereira Santos
Em resumo, consideramos que o interesse dos produtores em produzir brancos de topo, a sua dinâmica e irreverência e a diversidade de estilos que o Alentejo permite produzir, fará com que muito em breve, também ao nível da quantidade, as referências de vinhos brancos de topo do Alentejo sejam comparáveis com qualquer outra região do País.
Os vinhos alentejanos estão a acompanhar as tendências do mercado, sendo atualmente mais austeros, menos alcoólicos e com a madeira mais subtil e bem integrada e por isso a agradar a um maior número de consumidores e críticos de vinho. No entanto, mais do que seguir tendências, procurar ganhar mercados, ou agradar a quem quer que seja, esta prova mostrou uma obsessão dos enólogos e produtores para que cada vinho seja a expressão do ‘terroir’ (entendendo-se ‘terroir’ como as características do local, do clima e do solo em conjunto com as castas, as práticas culturais na vinha e o trabalho de adega) que lhe deu origem e por isso algo de autêntico, único, irrepetível e, principalmente, verdadeiro.
Neste sentido, talvez a verdade e a autenticidade destes vinhos sejam o seu maior património e constituam a característica que os une, independentemente do seu estilo ou da sub-região. Esta será uma forma de afirmar a região pelas suas características diferenciadoras. Mas é também uma forma de a homenagear as emoções, as tradições, a história, as histórias e as pessoas desempenham desde sempre um papel central na produção e afirmação do vinho alentejano.