Diário do Alentejo

Um vinho histórico de Portalegre

06 de agosto 2021 - 15:50

Texto Manuel Baiôa

 

A Adega Cooperativa de Portalegre era uma das históricas adegas do Alentejo, que desde 1954 ajudou a construir o vinho alentejano da era moderna. Criou algumas marcas clássicas e deu a conhecer as virtudes das vinhas velhas da Serra de São Mamede. Porém, na última década passou por alguns problemas financeiros, tendo parte dos seus ativos sido adquiridos pela família Redondo, sócia do Licor Beirão, que decidiu apostar na região de Portalegre em 2017. A nova empresa é a continuadora da antiga cooperativa, mas agora com o estatuto de sociedade privada e com o nome de Adega de Portalegre Winery.

 

Segundo João Gabriel, diretor geral da Adega de Portalegre Winery, a nova empresa pretende “contribuir para elevar o reconhecimento desta sub-região vitivinícola do Alentejo. Sendo o Alto Alentejo, e em particular Portalegre, uma região com características distintas do restante Alentejo, também as nossas uvas e os nossos vinhos acabam por ter características distintivas. A Serra de São Mamede, e os seus solos graníticos e xistosos, atribuem um carácter mais irreverente aos nossos vinhos, com características de maior acidez, maior mineralização e mais leves e fáceis de beber”.

 

De facto, as vinhas mais emblemáticas da sub-região DOC Portalegre encontram-se na Serra de São Mamede, numa altitude superior aos 500 metros. Os solos são predominantemente graníticos, embora surjam intercalados com pequenas manchas de derivados de xisto e de quartzitos. Muitas destas vinhas têm mais de 50 anos, estão espalhadas em pequenas parcelas, não são aramadas e têm a condução em taça, beneficiando da localização em altitude, pois o clima é mais arejado e húmido, o que proporciona vinhos frescos e elegantes, dando a esta sub-região grande originalidade e carácter.

 

A Adega de Portalegre Winery possui duas propriedades e adquire uvas a pequenos produtores neste entorno natural. Na Quinta da Cabaça explora 22 hectares, estando a vinha implantada em solos franco-argilosos com afloramentos graníticos, num clima de fusão continental, atlântico e mediterrânico, mas onde a altitude entre os 600 e 700 metros desempenha um fator diferenciador num ecossistema de grande biodiversidade. A vinha da Serra da Penha tem uma área de oito hectares, com uma faixa contínua de parcelas com diferentes castas plantadas em solos graníticos, que vão dos 450 aos 650 metros.

 

A nova empresa manteve as antigas marcas da cooperativa e criou o Morgado do Reguengo, como nova referência destinada às superfícies comerciais. Na base da pirâmide temos a marca Terras de Baco, logo seguida pelo Conventual, e pelo Conventual Reserva, tendo cada uma versões branco e tinto. Como referência cimeira surge o histórico Portalegre DOC, agora também com uma edição de vinho branco.

 

A enologia está a cargo de Nuno do Ó, enquanto enólogo consultor, e de Miguel Sistelo, como enólogo residente. Dirk Niepoort, um histórico produtor de vinho do Porto e de DOC Douro, mas apaixonado pela região de Portalegre, estabeleceu recentemente uma parceria comercial com esta empresa e tem apresentado recentemente alguns vinhos com sua filosofia.

 

O vinho Portalegre DOC branco 2018 foi elaborado a partir de uma vinha velha com diversas castas tradicionais, mas onde a Bical tem uma presença maioritária. Esta casta está especialmente implantada nas Beiras, mas neste ‘terroir’ de transição entre o Alentejo e o centro do País está perfeitamente adaptada, em particular nos solos xistosos e graníticos de altitude da Serra de São Mamede.

 

O vinho foi vinificado utilizando um misto de técnicas antigas e modernas, com a fermentação a surgir de forma espontânea, sem adição de leveduras, em barricas de carvalho francês de 500 litros e em pequenas cubas. Estagiou nas borras finas durante 10 meses, sendo posteriormente engarrafado.

 

Apresenta-se com um aroma fresco, com fruta de caroço, alperce e pêssego paraguaio. Na boca é elegante, mostrando boa acidez, estrutura e mineralidade, num final tenso e prolongado. É um grande vinho alentejano de baixa graduação alcoólica (12 por cento), com originalidade e carácter. Se preferir notas mais evoluídas de frutos secos, deixe-o descansar na garrafeira durante mais alguns anos. É muito versátil a nível gastronómico, embora possa acompanhar peixes nobres assados no forno, polvo, caldeirada, arroz de peixes e mariscos, bacalhau, e até carnes de aves e cozinha oriental. PVP: 18 euros.

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