Diário do Alentejo

Frederick von S. Um vinho aristocrático e biológico de Mértola

23 de julho 2021 - 14:30

Texto Manuel Baiôa

 

Francisco D’Assis Costa tem uma longa carreira como veterinário e médico, mas é no Monte de Santo António, em Mértola, que mostra a sua alma alentejana e de agricultor. Em 2002 decidiu recuperar o património familiar, iniciando um projeto de agricultura biológica, onde o vinho tem um papel central.

 

Francisco D’Assis Costa nasceu em Mértola e formou-se em medicina veterinária, tendo seguido a carreira militar no exército. Posteriormente fez formação em medicina humana, onde se tem especializado nas áreas da medicina natural, holística e integrativa. Desenvolveu a sua atividade profissional em Lisboa, onde tem algumas clínicas. No entanto, no novo milénio decidiu que era tempo de regressar a Mértola para recuperar as terras e o Monte de Santo António, que tinha herdado. “O meu pai comprou esta propriedade há mais de 50 anos e passou a ser um local de encontro e de convívio. Depois de um período de abandono, decidi assumir o património familiar e recuperá-lo, iniciando um projeto de agricultura biológica e de produção de vinhos”, explica.

 

MONTE DE SANTO ANTÓNIO

 

A propriedade inicial era mais reduzida, mas após algumas aquisições totaliza atualmente 12 hectares, com diversas árvores de fruto, horta e três hectares de vinha. Após um estudo cuidado do solo xistoso e das várias exposições solares das parcelas, decidiram plantar as castas Alicante Bouschet, Touriga Nacional, Syrah, Moscatel Roxo, Trincadeira e Aragonês. Francisco D’Assis Costa transferiu a sua experiência e formação na medicina veterinária e na medicina natural para o campo, tendo optado por praticar uma agricultura sustentável baseada na produção biológica e biodinâmica, comercializando fruta fresca, mel, licores, frutos secos azeite e vinho.

 

A sua localização privilegiada em altitude, a 500 metros de Mértola, permite ter uma visão global da região, avistando-se o horizonte natural em seu redor por algumas dezenas de quilómetros. “Preparei esta propriedade para ser um turismo de saúde, mas depois percebi que os fins de semana que passo no monte eram insuficientes. A minha vida profissional em Lisboa ainda me ocupa muitos dias, e para oferecer um serviço de alta qualidade teria de estar cá muito mais tempo. Pode ser que se concretize dentro de alguns anos”, diz o empresário.

 

O monte possui diversos furos, uma barragem de grandes dimensões e dois lagos com um sistema de circulação da água para melhorar a sua qualidade e pureza. As plantas são irrigadas pelo sistema gota a gota com água alcalina, submetida a processos naturais de polarização e azonização, de forma a atribuir à água uma estrutura molecular tridimensional e magnetizada negativamente, o que, garante o proprietário, “a torna mais fácil de reter, melhorando o metabolismo das plantas”.

 

OS VINHOS

 

Quando Francisco D’Assis Costa pensou em colocar no mercado um vinho de grande qualidade lembrou-se do nome do primeiro e único conde de Mértola – Friedrich von Schönberg. O vinho é elaborado com o máximo cuidado na vinha e na adega, aplicando por exemplo, a poda em verde para que a videira produza cachos de grande qualidade. A apresentação e rotulagem do vinho transmite requinte e qualidade, com lacre de cera de abelha colocado manualmente e rolhas ‘premium’ com mensagens históricas ou motivacionais diferentes. A primeira edição foi da colheita de 2013, já esgotada. O de 2014 foi elaborado com as castas Alicante Bouschet, Touriga Nacional e Syrah e encontra-se num momento de prova excecional. Em 2015 foi lançado o primeiro reserva, elaborado com Trincadeira e Aragonês, tendo um estágio mais prolongado em barrica de carvalho francês. Mostra-se mais denso e estruturado. Neste momento já está no mercado a edição da colheita de 2017. Os Frederick von S. são vinhos de guarda e de grande refinamento, transportando-nos para a Mértola histórica, natural e bravia.

 

Friedrich von Schönberg

 

Friedrich von Schönberg (Heidelberg, 16 de dezembro de 1615 - 1 de julho de 1690) era descendente de uma antiga família da nobreza do Eleitorado do Palatinado (na atual Alemanha). Tento ficado órfão nos primeiros meses de vida foi criado por familiares. Começou a sua carreira militar com Frederico Henrique, príncipe de Orange, esteve ao serviço da Suécia, e em 1650 instalou-se em França, onde ascendeu pelos seus feitos na guerra, até se tornar Marechal de Campo. A Restauração da independência portuguesa em 1 de dezembro de 1640 deu lugar ao início de uma guerra longa e sangrenta. A Espanha teve poucas iniciativas bélicas até 1659, pois estava envolvida, entre outras, na Guerra dos Trinta Anos e na Guerra Franco-Espanhola. A situação alterou-se nesse ano e a coroa portuguesa passou a estar sob perigo eminente. O Rei D. Afonso VI enviou, em 1660, uma delegação a Paris, chefiada pelo conde de Soure, para negociar secretamente o apoio dos franceses à guerra contra os espanhóis. O rei francês Luís XIV cedeu armas e alguns oficiais, entre os quais, aquele que era considerado “o mais hábil soldado do seu tempo”, o marechal conde de Schönberg. Este oficial reorganizou o exército português e teve um papel decisivo nas Batalhas do Ameixial (1663) e de Montes Claros (1665). O rei recompensou-o atribuindo-lhe o título de conde de Mértola (1668), uma pensão generosa e o governo das armas do Alentejo. Friedrich von Schönberg regressou a França em 1668 após ter terminado a Guerra da Restauração, mas a sua condição de protestante obrigou-o a procurar outros monarcas por quem combater. Tornou-se general das forças de Frederico Guilherme, eleitor de Brandemburgo e viria a morrer em combate aos 74 anos, na Batalha de Boyne Water, na Irlanda, em 1690, então ao serviço do rei Guilherme III de Inglaterra.

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